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quinta-feira, 29 de abril de 2010

PANEL ONE

A principal influência para isso aqui (se é que alguém ainda se lembra) foi o livro PANEL ONE: Comic Book Scripts by Top Writers.

Dia desses tava de bobeira em casa, reencontrei o bicho na estante e comecei a folheá-lo. De lá pra cá, acabei relendo quase tudo.

PANEL ONE é uma coletânea composta por nove roteiros, ora comentados pelos autores, ora pelo editor do livro, Nat Gertler (que, por sinal, também possui um roteiro lá).

Não é um livro que vá mudar sua vida. E os roteiros não incluem nenhum grande clássico, mas quando li da primeira vez, deu uns insights. E a releitura recente deixou tudo mais legal.

É um trabalho interessante porque evidencia as pequenas idiossincrasias que todo roteirista tem. Embora seja relativamente fácil encontrar roteiros de hq na internet, o fato do livro trazer vários deles juntos e contextualizados tem suas vantagens.

Apenas um dos autores - Gaiman - não é americano. Mesmo assim, fez sucesso escrevendo comics. Então, obviamente, há alguns pontos de tangência, e o livro pode não ser tão plural quanto alguns gostariam. De qualquer maneira, continua sendo uma leitura mais do que válida pra quem se interessa pelo assunto

Sem mais delongas, os roteiros:

Neil Gaiman - MIRACLEMAN 17

O roteiro é bem classicão, do tipo fullscript.

Naquela época, final da década de 1980, Gaiman era mais prolixo e, talvez indo um pouco no vácuo do escritor que o antecedeu - ninguém mais, ninguém menos do que o nosso bom e velho Maconheiro Mágicko de Northampton - se perdia em detalhes que, a julgar pela minha leitura de roteiros (nem tão) mais recentes, talvez ache irrelevantes hoje em dia.

O que me impressionou foi que ele tinha o PÉSSIMO HÁBITO DE ESCREVER AS DESCRIÇÕES DO PAINEL EM CAIXA ALTA, O QUE, CONSEQUENTEMENTE, DEIXA A MAIORIA DO ROTEIRO EM CAIXA ALTA, O QUE, POR SUA VEZ, TORNA A LEITURA INCÔMODA. Os diálogos e recordatórios foram poupados dessa barbaridade tipográfica, graças aos deuses.

Sempre achei isso meio esquisito, por que para mim tinha que ser justamente o contrário. Descrição de painel com maiúsculas E minúsculas, enquanto recordatórios e diálogos -  que vão ser copiados e colados na página desenhada - somente em MAIÚSCULAS. Isso, aliás, costuma ser o padrão de letreiramento.

Em alguma das encarnações anteriores do site do Warren Ellis, ele comenta algo sobre o fato de que escrever os diálogos e recordatórios em caixa alta ajudava a ter uma noção de como aquilo ia ficar na página finalizada.

De qualquer forma, na época em que esse roteiro foi entregue, provavelmente as hqs ainda eram letreiradas manualmente. Então pra que se preocupar em facilitar a vida do letrista com o Ctrl+C,Crtl+V?

Essa hq é bacana, e foi desenhada por Mark Buckingham.

Marv Wolfman - THE MAN CALLED A-X 5 (volume 2)

Confesso que antes de ter lido esse livro, nunca tinha ouvido falar nesse título.

Esse roteiro foi escrito por Wolfman no estilo que ele chama de Plot Style (comumente chamado de Marvel Way).

Não há divisões de painéis ou informações mais detalhadas. Ele apenas indica a página e, em um parágrafo, dá todas as coordenadas ao desenhista, salpicando alguns trechos de diálogos aqui e acolá.

Os roteiros no estilo Marvel Way que eu já tinha lido até hoje eram mais sintéticos, e esse do Wolfman me lembrou mais o que alguns roteiristas de cinema americanos chamam de scriptment, que é uma mistura de roteiro (script) com argumento (treatment), cuja "criação" foi imputada ao diretor James Cameron.

De qualquer forma, as exigências no que diz respeito a um roteiro de quadrinhos são bem menores do que as de um roteiro de cinema, então, se a mensagem é bem passada, tá valendo (quase) tudo.

Aliás, nessas andanças, acabei descobrindo que Wolfman comercializa versões impressas dos seus roteiros.

Dwayne McDuffie - DEATHLOK 5

Vou confessar que estava até surpreso lendo um roteiro do McDuffie que não tocava em determinados assuntos, quando lá pela página 17 ele diz explicitamente ao desenhista (Denys Cowan) que gostaria de fazer um paralelo entre alguns personagens da hq (a saber, ciborgues e mutantes) com outras minorias. Aí pensei: "tá tudo bem agora".

Anyway...

O roteiro é antigo e em seu foreword McDuffie afirma que atualmente (leia-se: 2002, época da publicação do livro) escreve melhor e que na verdade gostaria de incluir o roteiro de ICON 42, que, segundo o próprio, estava publicado na seção de roteiros em seu site. Da última vez que passei por lá (tipo, dois minutos atrás), não tava mais.

Mas, por razões contratuais, ele só pôde ceder este, o que nos trás de volta ao Deathlok. McDuffie ainda observa que esse roteiro é o quarto e último capítulo de um arco, e o leitor não teria a mesma vantagem de Cowan, que teve 66 páginas para se adaptar ao "McDuffiês" até chegar a essa altura do campeonato. Particularmente, não vi nada demais.

Além da obsessão de McDuffie por grifar palavras e trechos dos diálogos (para que sejam destacados pelos letristas), não há muita pirotecnia no texto, que segue uma formatação proto-hollywoodiana.

Fiquei curioso pra ler esse material, mas a história em si é bem paia.

Jeff Smith - ROSE 1

Até já ouvi falar de quadrinistas* que passam pelo processo de redigir um roteiro, no sentido clássico, antes de botar a mão no lápis.

Mas, no caso desses caras, parar para escrever um roteiro costuma ser perda de tempo. A história geralmente brota de um amontoado de notas e desenhos esparsos, que já vão tomando forma em páginas "rafeadas" com indicações de diálogos. O processo é mais orgânico, obviamente pelo fato das partes mais importantes do mesmo dependerem de apenas uma cabeça.

E, Jeff Smith, criador de Bone, não é exceção.

Sua contribuição para o livro são 30 páginas rafeadas (esboçadas para você, ó, herege) com indicações de diálogos e tudo mais.

Mas os rafes não eram para consumo próprio e sim para Charles Vess, figurinha tarimbada no mundo dos quadrinhos.

Não li ROSE, e me bateu uma curiosidade para saber como ficou o resultado final. Embora um esboço dê uma ideia legal de como vai ficar a página, os estilos dos dois são muitos diferentes.

*Profissional Completo: desenhistas que também escrevem, ou roteiristas que também desenham, você escolhe.

Trina Robbins - GOGIRL 3

Esse roteiro da Trina Robbins chama a atenção porque parece ter sido escrito no corpo da mensagem de um email. Inclusive, é reproduzido com os campos de Subjetc, Date, From e To, característicos das nossas boas e velhas mensagens de correio eletrônico.

Já ouvi falar disso. Gente que escrevia verdadeiras epopeias no Outlook (e agora no Gmail). Mas não fica claro se ela escreveu assim, ou se abriu o editor/processador de textos, copiou e colou tudo no email.

Trina também é detalhista e passa bastante tempo criando a ambientação da cena, mas seu texto não é enfadonho.

Mas isso não foi suficiente para despertar minha curiosidade pela GoGirl.

Kurt Busiek - ASTRO CITY 1/2

Uma das coisas que me chamou a atenção nesse segmento do livro foi a uma observação que Busiek faz em seu texto introdutório sobre algo que ainda não tinha me dado conta, pelo menos conscientemente.

Ele fala que, para escrever seus roteiros, tomou emprestada uma técnica utilizada por Frank Miller. Em vez de escrever uma descrição completa e linear do painel/página, ele descreve antes o que estará em primeiro plano, ou seja, o que será imediatamente visto pelo leitor. Depois dá os detalhes restantes. Embora isso polua o roteiro com "CLOSEs", "ONs", "WE SEEs" e outras indicações, fez sentido para mim.

Busiek faz algo que fiz durante muito tempo (e hoje não faço mais): coloca um pequeno glossário na primeira página do roteiro.

Baseado neste e num outro roteiro que já li, acho que ele exagera um pouco nas indicações ao letrista. ISSO PRA NÃO FALAR QUE TAMBÉM ESCREVE AS DESCRIÇÕES DE PAINEL EM MAIÚSCULAS! #porrabusiek!

Nunca fui muito fã de ASTRO CITY, mas já li essa hq e me lembro de ter gostado, porque  Busiek subverteu em um clichezão das histórias de super-heróis.

Greg Rucka - WHITEOUT:MELT 1

Caras que vieram da prosa para os quadrinhos - como é o caso de Rucka - costumam pesar a mão nos diálogos e descrições, demorando um pouco a sacar o ritmo da escrita de quadrinhos. Alguns nunca sacam, aliás.

Mas esse não é o caso dele. Se não estou enganado, WHITEOUT:MELT (continuação de WHITEOUT) foi um dos seus primeiros quadrinhos publicados, e aqui seu estilo já está bem telegráfico, seco mesmo.

Uma coisa que notei nesse roteiro é que Rucka *sempre* grafa os nomes dos personagens em maiúsculas, destacando-os do restante do texto. Gostei disso e talvez me apodere desse truque.

Ele utiliza algumas siglas estranhas (FG, BG, EBG e CU[hihihi...]), que, se presumi bem, devem significar Foreground, Background, E-?-background e Close-up.

Há também umas notas finais (endnotes). Assim como Gertler, acho que também nunca vi um roteiro com isso. E também não li WHITEOUT.

Nat Gertler - DEGENERATION (publicada em Fol 8)

Nat Gertler, editor do livro, deixou sua aparição para o final. Malandrão.

Nesse caso, também há a hq que se originou do roteiro, desenhada por Steve Lieber. E como pude ler e como pude ler um após o outro, na sequência, acho que vou dar meus 0,02R$ sobre a história.

DEGENERATION foi publicada na Fol, uma revista literária turca(!), dirigida a um público mais, hmmm..., sofisticado. Se entendi bem, sua confecção é semi-artesanal e o formato é pra lá de gigante.

Os autores fizeram a história, o editor da revista traduziu o texto para o turco e devolveu-o a Lieber, que fez o letreiramento em um idioma que desconhece totalmente. No início do roteiro Gertler já avisa que estava numa vibe meio "Alanmooreana", então solta o verbo pra cima do pobre Steve (e de nós, pobre leitores).

Gertler ficou preocupado demais com o público, bem... sofisticado da revista, então decidiu que seria melhor não distinguir os papéis dos dois artistas nos créditos da história, para não passar a impressão de produção mecanizada/industrial/artificial/yankee/colonizadora/grandesatanizadora.

Lieber segue as indicações à risca, Gertler tem algumas idéias interessantes em relação à concepção visual de duas páginas, o título é mais alusivo do que aparenta e os parafusos foram todos bem apertados, mas Degeneration não é uma história que vai ficar gravada na sua cabeça.

Quanto ao roteiro propriamente dito, Gertler usa uma formatação esquisita para seus recordatórios (essa hq não tem diálogos), com fontes diferentes do restante do texto, inclusive no tamanho. Isso me incomodou um pouco.

Kevin Smith - Jay and Silent Bob: Walt Flanagan's Dog  (publicada em Oni Double Feature 1)

É assim: dos filmes eu só assisti Jay and Silent Bob Strike Back. Dos quadrinhos, li alguma coisa de Clerks, o run com Quesada no título do Demolidor e algumas edições do Arqueiro Verde. Da fase do Demolidor eu até gostei, mas até hoje não entendi todo o hype em cima desse cara. Mas pode até ser que eu não tenha experimentado a parte boa da torta.

Esse foi o primeiro roteiro publicado por Smith, e seu texto já tem uma pegada cinematográfica. Smith é econômico (como Rucka), e os diálogos dos seus personagens costumam ocupar mais espaço do que as descrições dos painéis.

Além disso, suas raízes cinematográficas ficam claras quando ele coloca cabeçalhos de cena (INT. CASA DA MÃE JOANA - DIA) para estabelecer o cenário. Já fiz isso no passado e hoje não faço mais. Mas o recurso pode ajudar, dependendo do caso.

*****

Pra quem realmente se interessa pelo assunto o livro é um prato cheio, e serve para confirmar uma coisa: não há jeito certo ou errado de se escrever um roteiro para uma história em quadrinhos. Há sim o jeito claro e o confuso. E o último, acredite você, tem que ser evitado a todo custo.

Ah!, antes que eu me esqueça: se alguém lhe disser que os profissionais escrevem assim ou assado, pode rir na cara dele. E diga que fui eu quem mandou.

PANEL ONE tem uma continuação, PANEL TWO: More Comic Book Scripts by Top Writers. A única diferença digna de nota em relação a seu irmão mais velho é que, dessa vez, os desenhistas também tem a palavra. E há o argumento do Judd Winick. Mas isso é conversa pra outra ocasião.

domingo, 11 de outubro de 2009

MIGUEL E OS DEMÔNIOS


Ao contrário da tentativa anterior, dessa vez minha ida à livraria rendeu o fruto esperado e consegui trazer embaixo do braço MIGUEL E OS DEMÔNIOS, novo do Mutarelli.

Havia muito, muito tempo que não lia um livro de uma sentada (ou, no caso, deitada) só.

Não que MIGUEL ET AL seja lá um calhamaço. Pelo contrário, suas exíguas 120 páginas comportam pouco texto.

Isso pode ser um resquício do tempo em que Mutarelli só escrevia (e desenhava) quadrinhos, mas a narrativa dele é taquigráfica, direta. Seu texto é arejado e permite que o leitor respire. Mas, é aquela história: às vezes, respirar rápido demais provoca hiperventilação, sacou?

Havia um vídeo no canal da Companhia das Letras no Youtube que eu ia colocar aqui. Sei lá porque, esse vídeo foi removido. Talvez reapareça. Mas, basicamente, Mutarelli explicava a gênese do livro.

UPDATE 13/10/09:  O vídeo está disponível, novamente . Valeu, Renata!



Segundo o autor, o livro nasceu da encomenda de um roteiro.  Mas ele não se sente confortável escrevendo roteiros, e propôs às pessoas que encomendaram a história (não faço a mínima idéia de quem são) que entregaria a história na forma de um livro, que elas poderiam adaptar para o cinema.

Em alguns trechos, ele chega, inclusive, a brincar com a estética de um roteiro, dando indicações que são comuns (e outra totalmente inadequadas) num roteiro cinematográfico.

Nem vou adentar nos recônditos da história propriamente dita. Ela entrega exatamente o que os fãs (eu incluso) esperam: metalinguagem, bizarrices e referências transbordando pelas páginas, ao mesmo tempo que acontecimentos corriqueiros são transformados em pequenas epopéias. Coisa fina.

E antes que eu me esqueça:

Sou meio contra esse lance das editoras ficarem criando identidades visuais  para determinados escritores. Sei que existem diversas razões mercadológicas mas - não saberia precisar exatamente o motivo - a prática me incomoda.

No entanto, para toda regra existe uma exceção e, no meu caso, acho que a exceção é o artwork sobre as ilustrações do Mutarelli, que está sendo feito pelo Kiko Farkas e companhia (das Letras? hihihi...).

A ARTE DE PRODUZIR EFEITO SEM CAUSA ainda é o melhor, mas ontem quase trouxe a nova edição de O NATIMORTO. Já tenho a original que a DBA lançou em 2004, mas esse novo design, até pelas raízes gráficas do trabalho do Lourenço, faz muito mais sentido. Acabei deixando pra lá, mas não sei se resisto à tentação num próximo encontro.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

DOKTOR SLEEPLESS N°1

(Já aviso que daqui em diante os spoilers vão comer soltos, então, se você pretende ler a revista num futuro próximo, é melhor parar já)


Uma moça descobre que seu amigo estava morto porque ele ficou offline no instant messenger que ela acessa através de uma lente de contato. Sim, você leu isso mesmo. Essa é só uma das idéias maluquinhas (pero no mucho) que tempera DOKTOR SLEEPLESS, a mais nova empreitada autoral de Warren Ellis.

O mote por trás da série é: onde está o futuro?Aquele com carros voadores, teletransporte (fótons não valem)ou alienígenas bonzinhos?

E foi isso o que me chamou a atenção. Porque há a pergunta, mas em contrapartida, há uma - presumo - resposta: o futuro é agora!

Se não temos os itens relacionados acima, temos smartphones, nanotecnologia, internet e sei lá mais quais avanços técnicos que são tão ubíquos que mal os percebemos.

É óbvio que tenho em mente que os avanços sociais, os que realmente importam, não acompanham nem de longe os tecnológicos. Mas as mudanças têm que começar por algum lugar, não é?

Essa revista é um filhote ideológico de TRANSMETROPOLITAN, mas sem a pegada cyberpunk-histriônica de Spider Jerusalém e trupe. Aparentemente, é mais, como direi?, contida.

DOKTOR SLEEPLESS, assim como DESOLATION JONES ou FELL (edição 1 inteira no 0800, aqui), é um repositório para todas as bizarrices que Ellis encontra internet afora, mas parece que há uma sintonia maior aqui. Diferente de muito autor consagrado que tem por aí, ele nunca escondeu suas referências. Muito pelo contrário: ele é o rei do ctrl+c, ctrl+v. Só para dar um exemplo, na história SOL POENTE, uma hq de 11 páginas publicada na Pixel Magazine 3, as várias referências ao filme MEN BEHIND THE SUN (ou Hak taai yeung 731, no original. Só para estômagos fortes, pessoal) já começam no título. E isso porque eu nem falei de PLANETARY. Série da qual sou fã, só para nos situarmos.

Warren Ellis é um escritor irregular, mas não se pode negar que ele sempre está um passo à frente da maioria dos seus colegas no que diz respeito à novas propostas e insights sobre o meio.

O ponto mais interessante em DOKTOR é a idéia por trás do título. A edição conta com uma seção chamada DATASHOW, 3 páginas de extras onde Ellis explica melhor alguns conceitos que criou/remixou para a série. Esse mesmo conteúdo vai aparecer no site da revista, que é um wiki, um site que pode ser editado pelos usuários - nesse caso, dentro de certos limites. E, segundo o próprio autor, alguns "verbetes" vão aparecer primeiro no site, outros, na versão impressa, não havendo ordem ou hierarquia muito definida..

Embora esse tipo de obra interativa não seja exatamente novidade (me lembro das notas de rodapé do livro do Rushkoff, mas acho que já ouvi falar de outros casos parecidos), ainda sim dá margem a muitas possibilidades legais.

Agora, pra não dizer que tudo são flores, se Ellis é muito bom na hora de tratar de idéias, já não posso dizer o mesmo quando falo dos seus personagens. John Reindhart, o Doktor Sleepless, opera no mesmo mood cínico e niilista de praticamente todos os protagonistas das séries do Ellis que eu consigo me lembrar, quase como um extensão da rabugenta persona literária que ele criou para si (tenho cá minhas dúvidas de que no mundo real ele seja maleta daquele jeito).

Outra coisa que também me incomodou foram os desenhos, que não são um detalhe tão pequeno se levarmos em conta que histórias em quadrinhos são, eminentemente, um meio visual. Sei lá porque, cismei que a arte seria de Raulo Caceres, que fez a capa "wraparound" (dupla, para os hereges). Não que o traço de Ivan Rodriguez seja ruim, mas, sei lá, achei que não acompanha muito o contexto. Meio caretão mesmo, sacam? A arte mais nervosinha e esquisita de Caceres cairia melhor aqui. Mas isso é opinião de nerd. E vocês sabem como são os nerds, né?

Contudo, DOKTOR SLEEPLESS é um gibi que, por enquanto, vale a pena acompanhar. Nem tanto pelo que é, mas sim pelo que propõe.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

A MÃO QUE CRIA

Tempos atrás postei aqui uma notinha sobre o lançamento de A MÃO QUE CRIA, novela escrita por Octávio Aragão, criador do projeto Intempol®, entre outras coisas.
Pois bem. Ontem terminei a leitura do livrinho. E quando digo livrinho me refiro única e exclusivamente à sua duração, 150 páginas que a gente lê em uma ou duas sentadas, fácil, fácil. Mas, veja bem, o livro é curto, mas não é raso.
O ponto de partida de Octávio é a eleição de Jules Verne para a prefeitura de Paris. Daí em diante, o resto é história. Ou melhor, ficção. Alternativa.
O que tinha tudo para ser um samba-de-criolo-doido, sem pé nem cabeça, acaba sendo uma peça muito bem costurada, com uma história rápida, fluída, que passeia por vários gêneros e acaba criando identidade própria. As referências estão lá, aos borbotões, mas isso não impede que um leitor que as desconheça possa fruir o livro.
Um ponto interessante a se destacar é que a versão original desse texto surgiu como um fanfic do Aquaman, publicado no site Hyperfan, tempos atrás.
O ponto negativo ficou por conta da edição propriamente dita, que veio com algumas informações erradas. O livro que comprei contém um pequeno cartãozinho, com a errata, mas pelo menos uma das datas que estão incorretas ficou de fora.
O site Omelete publicou, recentemente, uma matéria sobre o livro e uma entrevista com o autor, onde são dados mais detalhes sobre o livro e sua futura continuação.
E o livro ainda é baratinho, saindo, em média, por 19 mangos. Demorô, hein!

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

QUADRINHÓPOLE


Hoje rola o lançamento oficial, mas ontem já tinha posto minhas mãos na primeira edição da revista revista independente QUADRINHÓPOLE.

A primeira edição traz 4 hqs, UNDEADMAN, INVISÍVEIS, SEQUESTRO RELÂMPAGO e CAMPO DE FEIJÃOTRAÇÃO, sendo que a primeira é o único título fixo na revista.

UNDEADMAN – 6 páginas

Roteiro de Leonardo Melo. Arte de André Caliman.

A verdade é que nunca fui chegado em aventuras do tipo capa-espada (existem as exceções, obviamente), contudo, como o Leonardo promete no editorial da revista, as histórias de Jason de Ely, o cavaleiro imortal que dá nome ao título, não se resumirão a um período histórico somente, o que já torna a coisa mais interessante aos meus olhos. Essa hq é só uma introdução ao personagem e seu universo. Aguardemos mais. O destaque da hq fica para a arte de André Caliman, a melhor da edição, IMHO.

INVISÍVEIS – 8 páginas

Roteiro de Pablo Casado. Arte de Thiago Oliveira. Tons de cinza por Renato Moraes.

O título já reverbera as influências Morrisonianas de Pablo, que vão história adentro, numa mistureba legal de conceitos (são quadrinhos, ora!) que me são muito caros. Para mim, foi a melhor hq desta edição. A Sci-Magic é legal e eu queria ver isso de novo.

SEQUESTRO RELÂMPAGO – 8 páginas

Roteiro de Leonardo Melo. Arte de Joelson Souza. Arte final de André Caliman.

Embora o roteiro precise de algumas revisões (o termo “minha cabeça” aparece três vezes seguidas onde poderia ter sido facilmente substituído) e o twist do final me tenha soado um pouco forçado, depois de Invisíveis, foi a hq que mais me agradou, pela escolha de se contar a história sob o ponto de vista da vítima do tal sequestro, literalmente. Os autores souberam explorar isso e criaram um efeito bem interessante.

CAMPO DE FEIJÃOTRAÇÃO – 4 páginas

Roteiro de Leonardo Melo. Arte de Anderson Xavier.

Não sei porque, mas ainda continuo achando que humor puro e simples não casa bem com histórias de outros gêneros, e justamente por isso tenho a impressão que esta hq ficou deslocada na edição, e foi a que menos gostei.

Além disso, na terceira capa, há duas tiras de Chico Félix, que funcionam, mas também me dão a impressão de estarem deslocadas na revista.

Quanto à parte gráfica, o pessoal da QUADRINHÓPOLE está de parabéns. 32 páginas em papel couchê, preço bom (3 mangos), e capa fodida de José Aguiar. Que venham mais.

Lançamento (corre que ainda dá tempo):

20 de Outubro (HOJE!!!!)

A partir das 19:00h, no Memorial do Largo da Ordem, em Curitiba - PR

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

ABBEYARD, DE SCOTLAND YARD

Sempre pensei que, depois de FROM HELL, qualquer hq que tentasse desconstruir o mito de Jack, o Estripador, estaria fadada a entrar pelo cano.

ABBEYARD DE SCOTLAND YARD, com roteiros de Viviana Centol e desenhos de Carlos Vogt, publicada originalmente na Itália em treze capítulos e agora lançada na Argentina num único catatau de 168 páginas, felizmente conseguiu me provar que estava errado. E o ingrediente que, além de responsável por essa minha mudança de opinião, ainda consegue manter a hq a quilômetros da obra do Makonheiro Mágicko de Northampton é um velho conhecido nosso: o humor. Negro.

Sente o drama (trecho extraído da introdução escrita por Carlos Vogt, pitorescamente traduzido por mim):

“Muito tempo depois, numa mostra de quadrinhos em Buenos Aires, ao passar entre um grupinho e outro, cumprimentando roteiristas e desenhistas, me encontrei com aquela amiga de minha prima Anelli. ‘Eu te conheço’, lhe disse, sem me recordar de seu nome, obviamente. Nos sentamos com um pessoal para tomar um café. Da conversa surgiu o assunto de que ela estava burilando uma história policial que se passava em Londres, no final do séc. 19. ‘Vai ser uma hq com muito sangue, putas e fantasmas. Os ingleses adoram fantasmas!’, assegurou, empolgada. ‘Eu não’, respondi, sério. ‘Me dão medo.’Viviana Centol olhou para mim, incrédula. ‘Mas...vai ser uma comédia’, achou melhor esclarecer. Acendi um cigarro, com a mão tremendo, e suspirei: ‘Ah. Menos mal.’”

Archibald Abbeyard – que tem sempre o sobrenome confundido com Abellard – é um arquivista da Scotland Yard, sem muitas perpectivas profissionais, que acaba se envolvendo com o caso de Jack, o Estripador, quando Belle, uma prostituta com quem mantinha uma... hã... bela amizade, acaba sendo morta pelo assassino de Whitechapel.

A diferença é que Belle, ao invés de ser extripada como as demais, é arremessada pela janela, o faz com que a polícia acabe descartando qualquer relação deste crime com os demais, preferindo acreditar na hipótese de suicídio. E a história terminaria assim, se o fantasma de Belle não voltasse para azucrinar Abbeyard até que ele concordasse em tentar descobrir a identidade de Jack (e seus motivos), para que ela pudesse descansar em paz.

O humor, pastelão, mas não excessivo, é bem dosado e Viviana constrói uma história bacana, com direito a identidade do assassino revelada (mas só no final). Final este, inclusive, que foge às convenções e também constitui um caso à parte.

Já o traço de Vogt - bem caretão (ou clássico), mas muito bonito - cai como uma luva nessa história vitoriana. Ele capricha nas expressões faciais e não poupa Abbeyard de ser retratado como o paspalho de bom coração que realmente é.

ABELLARD foi publicado pela Thalos Editorial e está saindo por 19,90$ (pesos argentinos).

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

CASANOVA

Li os dois primeiros números de CASANOVA, título criado por Matt Fraction (roteiros) e pelo brasileiro Gabriel Bá (desenhos). Achei um barato!

As aventuras do super-espião Casanova Quinn, agente da E.M.P.I.R.E., uma super-polícia mundial levam o conceito de espionagem à enésima potência e é possível encontrar referências a tudo quanto é tipo de aventura do gênero que se possa imaginar (James Bond, o Nick Fury de Steranko, etc.).

CASANOVA vai na mesma direção de outro título publicado pela Image, FELL, ou seja, a proposta é apresentar singles, histórias fechadas em 16 páginas de quadrinhos (mais quatro com material extra), com um preço ligeiramente menor, se comparado aos demais comics americanos. Proposta muito feliz na minha opinião, se querem saber.

Na primeira edição, somos apresentados ao mundo de Casanova, com direito a todos os seus elementos bizarros (e legais!): uma super-agência de espionagem, um super-grupo terrorista, consciências enclausuradas em corpos robóticos, um gângster telepata de três cabeças chamado Fabula Berserko, um helicassino, viagens dimensionais e por aí vai.

Essa edição tem mais páginas de quadrinho (28) e uma pequena apresentação de Matt Fraction na terceira capa.

Casanova 2

Já na segunda edição, a missão do agente Quinn é resgatar um agente infiltrado na nação sul-americana de Água Pesada. Isso mesmo. Água Pesada, em português. Um lugar onde um gerador de orgone, que está ligado há quatro anos mantém o país em estado de carnaval perpétuo.

Um detalhe interessante é que o agente infiltrado Winston Heath (aquele que deve ser salvo por Casanova), em seus anos de missão, começou a escrever um gibi chamado Minhas Confissões (sim, em português também), uma brincadeira óbvia com “Confessions of a Dangerous Mind”, autobiografia de Chuck Barris que gerou o bacanérrimo filme de George Clooney.

O que eu curti mesmo nesse gibi é que ele não se leva a sério, no sentido dos autores se entregarem ao absurdo de braços abertos. Não é somente uma revista de agentes secretos fodidos pra caralho detonando qualquer um que lhes cruze o caminho. Claro, esses elementos estão lá, mas os personagens não se fazem de rogados quando têm que dar suas piscadelas ao leitor, sacam? Esse é um recurso que normalmente fica chato se utilizado muitas vezes, mas aqui coube como uma luva.

Não acho improvável que este título seja publicado no Brasil, visto que outras coisas que os gêmeos publicaram nos states por editoras menores e menos conhecidas já deram as caras por aqui, mas preferi não esperar. E não me arrependi.

Matt Fraction mantém uma newletter que publica esporadicamente e que pode ser assinada pelo email casanovaquinn(arroba)gmail.com. Da última vez, a frase que tinha que estar no assunto da mensagem era “I WAITED FOUR MONTHS FOR *THIS??!”. De vez em quando ele manda umas coisas legais.

sábado, 2 de setembro de 2006

BLACKSAD - 1

A revista data de julho, mas só consegui colocar minhas mãos numa edição agora.

BLACKSAD é sui generis. Se, por um lado, o roteirista Juan Díaz Canales preferiu seguir a cartilha do noir, sem tirar nem por, por outro, é a arte de Juanjo Guarnido que arrebata.

Traço esperto, cores belíssimas, e, claro, uma habilidade ímpar para lidar com a escolha de se utilizar animais antropomorfizados (ou humanos animalizados, como queira), que, se não é novidade, também não é corriqueira.

Uma das poucas revistas que me fisgaram muito mais pela arte do que pelo texto.

E não se espante com os 13,90 da capa. São um bom investimento. Ainda mais se tratando de uma revista bimestral.

Acompanharei.

Se você quiser arriscar, tá aqui o site oficial, em francês.

EM TEMPO:

Já tinha visto isso antes, mas dando uma passada lá no flog do Brandino vi o link novamente, que tinha me fugido à cabeça. É o hotsite do terceiro álbum. Também em francês. Bonito.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

XIII - 1

XIII - Número 1

Fiquei meio cabreiro e diria, até, incrédulo quando a Panini anunciou que ia começar a publicar quadrinhos de procedência franco-belga.

Incrédulo por este tipo de material estar, já há alguns anos, sempre na periferia do que é publicado por aqui. Mas quando vi que a coisa era séria fiquei feliz, confesso. Feliz porque é um ponto a mais para a diversidade, e, sei lá quem disse, “a diversidade é o tempero da vida”. Além disso, é uma das grandes a investir nisso, o que reduz fatalmente as possibilidades de uma linha editorial abortada.

XIII - com roteiros de Jean Van Hamme e desenhos de W. Vance - é um quadrinho de ação, fartamente inspirado no livro (que anos depois viraria filme) A IDENTIDADE BOURNE. Sempre fico impressionado com a capacidade dos europeus em assimilarem e regurgitarem referências sem cair no pastiche. Estão aí os fumetti que não me deixam mentir. Mas, voltemos ao que interessa.

A hq (ou bd) começa quando um velho encontra um homem desacordado e muito ferido. Quando ele desperta, está totalmente desmemoriado e a única pista que tem sobre seu passado é um algarismo romano (o XIII) tatuado próximo ao pescoço. Ele é acolhido pelo casal que o resgatou e leva uma vida quase bucólica, até que um grupo armado invade sua casa e ele “descobre” que possui habilidades de combate muito acima da média. Daí em diante, pancadaria, tiroteios e intrigas pra ninguém botar defeito.

Um ponto interessante a se ressaltar é o modo como são feitas as hqs franco-belgas, totalmente diverso dos comics americanos, ao qual o leitor brasileiro está mais habituado. O formato padrão desses quadrinhos é o que se convencionou chamar de álbum, contendo, na grande maioria das vezes 48 páginas de quadrinhos e sendo lançado anualmente. Outro ponto interessante a se ressaltar é que as séries são finitas. Duram anos, mas sempre chegam ao fim. E o último álbum de XIII, o 18°, será lançado esse ano na França, encerrando a série. As edições de XIII que a Panini vem publicando contém 2 álbuns, então a publicação brasileira irá até o número 9. Pelo menos para mim, isso torna bem menos onerosos os 22 mangos que paguei pelo álbum. E há de se ressaltar a qualidade, claro.

Embora o proto-roteirista dentro de mim (piadas sem graça, serão punidas com força desproporcional, belê?) tenha chiado em dois ou três pontos ao longo das histórias, não há como negar que Hamme e Vance trabalham em plena sinergia. A história funciona. E bem. Fiquei curioso pra saber o que vem a seguir, que nos meus termos significa que o trabalho foi muito mais estimulante do que a maioria do material que tenho lido ultimamente.

E tô louquito pra ter em mãos BLUEBERRY e BLACKSAD.

P.S.: Só falta a Panini começar a publicar material nacional agora, né?.

P.P.S.: Desculpem. Não resisti.

quinta-feira, 27 de julho de 2006

UN TAL DANERI

Capa de UN TAL DANERI

Impressa num formatão pra lá de grande, em p&b com uns tons de cinza que achei cabulosos (e que até agora não sei se foram retículas bem vanguardistas para a época, ou se foi o bom e velho Photoshop), UN TAL DANERI, primeira colaboração entre o roteirista Carlos Trillo e a lenda argentina Alberto Breccia, “El Viejo”, já começa desconcertante por toda a expectativa que provoca.

São 8 histórias curtas, variando de 4 a 8 páginas, que contam a história de do tal Daneri (acharam que eu ia deixar passar essa, hein?), um gângster portenho que parece ser muito mais do que aparenta. Daneri, anagrama para Dante Alighieri, tem um faro especial para se meter em enrascadas e tragédias dignas de letra de tango. E os autores não negam que Borges foi a principal influência na hora de compor o personagem. Aí, já viu, né?

Das seis hqs, duas em especial (NÉLIDA e OJO POR OJO) são do tipo tapa no ouvido. Mas, apesar de eu ser fanzaço do Trillo, tenho que admitir que quem conduz tudo é mesmo Breccia. O palco principal é Mataderos, bairro de Buenos Aires muito caro a Breccia, e as histórias se passam numa época indeterminada.

O personagem só tem essas histórias, publicadas aos pouco, originalmente entre 1974 e 1978, em diversas revistas, argentinas e italianas, e esse álbum é a primeira reunião de todo o material no mesmo lugar. Segundo os autores, só não houve continuidade porque ninguém se interessou em continuar publicando. Mas todas as histórias são autocontidas.

A edição conta ainda com uma matéria introdutória e alguns esboços. Vale a pena.

O único senão fica pela curiosidade de saber até onde os dois autores teriam levado o personagem, caso tivessem seguido com ela.

P.S.: A série HISTÓRIETAS ARGENTINAS vai continuar assim agora, aos poucos, a medida em que eu for lendo o material. Decidi que fluirá melhor dessa maneira.

LE DÉCALOGUE


O texto abaixo é o comentário do camarada Pedro “Hunter” Bouça, mantenedor da lista de discussão EuroQuadrinhos (de onde foi extraído o texto, com a devida permissão) e também tradutor de XIII, do primeiro volume de ALDEBARAN, do vindouro BLUEBERRY e de otras cositas más.

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Há uma característica no quadrinho franco-belga que
perdura até os dias de hoje: O artista é a parte mais importante da
equipe criativa. Não há Goscinny, Charlier ou Jodorowsky que mude
essa tendência, cada série tem um artista fixo que dedica um ano de
sua vida (em média) desenhando (e às vezes também escrevendo,
colorindo e/ou letreirando) um álbum. Como substituições de
artistas são muito raras (até porque os personagens geralmente
PERTENCEM a seus criadores!), a identidade visual de uma série é
bem distintiva. Só se consegue imaginar o Lucky Luke desenhado pelo
Morris, o Asterix desenhado por Uderzo ou o Tintim desenhado por
Hergé. De uns tempos para cá a situação começou a mudar, mas ainda
funciona muito assim.

Frank Giroud, porém, decidiu mudar tudo.

Escritor de quadrinhos até então pouco conhecido, Giroud (nenhuma
relação com Jean "Moebius" Giraud) ofereceu à editora Glénat um
projeto ambicioso: Uma série em 10 volumes e com 10 artistas
diferentes, mas unida pelo roteiro e publicada em um espaço de
tempo pouco usual no quadrinho franco-belga (os 10 álbuns seriam
publicados em cerca de 2 anos, algo impossível nas séries assinadas
por um único artista).

O conceito era tão ambicioso quanto o projeto: Anos antes do Código
da Vinci, Giroud idealizou uma trama religiosa. Na história, o
profeta Maomé teria escrito (em uma omoplata de camelo) um decálogo
- ou seja, um conjunto de 10 mandamentos para a fé muçulmana, tal
como existe um para a fé cristã - que teria sido escondido dos
fiéis por seus sucessores, até, depois de um caminho longo e
turtuoso, chegar até nossos dias em uma versão romanceada, o Nahik,
que vai parar nas mãos de um escritor fracassado, que vê nessa
história uma chance de finalmente emplacar um sucesso.

Essa é a trama do primeiro álbum, sendo que os 10 álbuns
subsequentes recuam progresivamente no tempo até chegar ao "começo"
da trama, no tempo do próprio Maomé. Para além de se relacionarem
via a trama principal, os álbuns também têm como "tema" individual
cada um desses dez "mandamentos". Um curioso desafio para o
escritor, mas será que ele conseguiu?

Bem, ao menos os dois que eu li até o momento foram bem
interessantes. Na França a série conseguiu vendas (acumuladas, bem
entendido) na casa dos milhões e já gerou dois spin-offs (estes
séries mais convencionais), todos escritos por Giroud que, no
processo, tornou-se um escritor conhecido (atualmente desenvolve
uma outra série de múltiplos artistas, mas dessa vez girando em uma
única trama com diversos pontos de vista, Le Quintett, para a
editora Dupuis, em cinco volumes).
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Depois de ler isso, claro que eu corri para o site de Glénat para conferir a parada e apesar do meu francês inexistente, além da premissa (e também da – com o perdão do trocadalho - gênese) bacana que o Pedro deu de bandeja aí em cima, a série é visualmente interessante. Pena que essas paradas não cheguem nem perto daqui.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

P(L)OST

Desenterrar post perdido e não-publicado é o fino do brega.

Mas a gente fazemos o que a gente podemos.

Era pra ter ido ao ar nos primórdios de fevereiro. Mas não foi. Mistérios...

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A julgar pelo jeito que começou, acho que o ano vai ser promissor.

Em termos de leitura, digo.

Não sei exatamente o motivo, mas já fazia tempo que eu não devorava livros com o tesão de agora. E antes que alguém pense na resposta mais óbvia “seria por que os livros que leu até então eram ruins?”, respondo que não foi isso não. Li bons livros ano passado, mas faltou aquela fisgada durante a maioria deles, entende?

BANGCOC 8 – John Burdett

Em conversa entabulada com o Vetusto recentemente, o mesmo disse que Sonchai Jitpleecheep, o detetive-budista narrador dessa história, era o herói do século 21. Tá certo o velhinho.

Eu namorava esse livro desde que foi lançado, mas só consegui colocar as mãos num exemplar meses atrás, e, pior ainda, só terminar a leitura agora.

Mas, que leitura!

O Sonchai aí de cima é um “araht”, um policial honesto num país cuja força policial faz a nossa parecer uma ong. Além disso, ele é uma espécie de homem santo. Tem o hábito de ver as encarnações pregressas dos seus interlocutores, e segue uma versão muito particular do Caminho ditado pelo Buda. E as engrenagens começam a girar quando o parceiro e irmão espiritual de Sonchai é morto numa cena de crime pra lá de bizarra. O que não poderia faltar num livro desse tipo, evidentemente.

John Burdett foi pra lista dos que devem ficar no meu campo de visão, e esse livro já tem um cantinho aqui no lado esquerdo do peito.

Agora, responda rápido e sem pensar, farang: é um thriller que parece outra coisa, ou outra coisa que parece um thriller?

NÃO HÁ NADA LÁ – Joca Reiners Terron

Como dizem por aí, “vou te falar uma coisa pra você”: do Joca Reiners Terron, eu só conhecia o blog e alguns textos esparsos em revistas de arte e literatura. Mas a fama do cavalheiro já tinha chamado minha atenção, e eu também já ciscava em volta deste pequeno achado, verdadeiro quitute (ou acepipe, se você tiver um estômago delicado).

NÃO HÁ NADA LÁ é uma piração só, mas, embora a gente chege a ficar tonto com tantos Tesseractos girando, o livro é de uma gostosura ímpar, daqueles que a gente não consegue, literalmente, soltar.

O fim do mundo nunca foi tão...devastador.

Joca não faz questão de ser amistoso com eventuais folheadores: e tome numeração de páginas invertida, trechos de textos evanescendo, frases soltas no meio do livro – e no próprio texto, referências obscuras, nomes de personagens famosos (e reais!) adaptados a seu bel-prazer. Mas, se você já está preocupado com os hipotéticos percalços estilísticos e formais, pode baixar a guarda. Tudo faz muito sentido, e tem até um capítulo final pra ajudar a pôr ordem no galinheiro. Chique no úrtimo!

Faça um favor a você mesmo e encomende o seu agora.

O TESSERACTO – Alex Garland

(Ó ele aqui de novo!)

Você conhece esse cara. Ele escreveu o livro que deu origem ao filme A PRAIA (que começa lá em Bangcoc, por falar nisso), e virou parceiro de Danny Boyle depois disso (falando nisso, alguém sabe qual foi o destino de John Hodge? Pó dexá. Já sei). Fez os roteiros de EXTERMÍNIO, e de CAIU DO CÉU.

São três pequenos dramas que se cruzam nas ruas de Manila (estendendo-se pelo interior do país), e Garland foi feliz ao escolher sua locação. As Filipinas são *exóticas* o suficiente para sustentar o interesse pela leitura, e no fundo, acho que foi bem isso o que aconteceu comigo. A questão não era ler sobre piratas modernos. Era ler sobre piratas modernos filipinos. Não era ler sobre amores adolescentes proibidos ou meninos de rua que vendem seus sonhos a psicólogos. Era ler sobre amores, meninos e psicólogos filipinos.

Ah!, virou filme, cujo cartaz não inspirou muita curiosidade, diga-se.

Outra coisa: a capa é tão ridiculamente simples que me apaixonei pela bendita.


CORPO PRESENTE – João Paulo Cuenta

Na época do lançamento, houve certo oba-oba em cima desse livro. Ao que parece, J.P. Cuenca já era figurinha tarimbada na blogosfera, e, como não poderia deixar de ser, o hype foi líquido e certo. Mas na época, confesso, meu túnel de realidade apontava em outra direção e não dei muita bola.

Mas agora as coisas mudaram e redefini algumas de minhas escolhas literárias. Além disso, um exemplar a 9,90 nas Americanas pode ser convincente o bastante.

O livro é bom, sim senhor. Não arrebatou, mas provocou emoções, e esse é o moto, não é?

Além disso, Cuenca lançou mão de artifícios narrativos que achei de muito bom gosto.

Outra coisa interessante, à guisa de curiosidade se quer saber, é que ele é um dos três autores de PARATI, PARA MIM, uma coletânea surgida de uma idéia que achei bem legal.

A página do livro fica aqui.

A MINIATURA – Elisa Palatnik

Gato por lebre. Comprei achando se tratar de uma coisa e se mostrou outra, embora tenha ficado claro que a confusão foi única e exclusivamente do meu lado.

História (aqui, na Urobourolândia, é proibido falar Estória) despretensiosa sobre um nerd maníaco que no fim se mostra...bom, leia e veja o final você mesmo.

Achei que ia mais longe, só isso.

domingo, 26 de março de 2006

UMA BALA SEMPRE TEM RAZÃO

(na verdade, discordo veementemente da afirmação acima, foi só pra causar efeito, sabem como é...)

Não sei se gostei de CHAMAS DA VINGANÇA simplesmente por não assistir a um filme novo (nem tanto mestre – esse aqui é de 2004) do começo ao fim há muito tempo, por só conseguir me lembrar de Denzel Washington em papéis enaltecedores, ou simplesmente porque o clima estava bom para multilações ao som de Oye Como Vá.

A fotografia é nervosinha demais pro meu gosto, e o final foi meio brochante (mas não é pelo motivo que cê tá pensando não, capetinha), o filme foi assombrado pelo fantasma dos títulos com traduções pitorescas e a capa nacional é uma verdadeira cagada no p%? - se bem que os dois últimos defeitos são produto nacional mesmo - but, no cômputo geral, se saiu bem.

Curiosidade1: tem astro brasileiro e meio-brasileiro (ou abrasileirado, se preferir) no elenco.

Curiosidade 2: a letra.

Oye como va
Me ritmo
Bueno pa gozar
Mulatta

quarta-feira, 15 de março de 2006

INTEMPOL, AS HQS

Todo mundo sabe que admiro muito a iniciativa e o projeto em si, e já que o assunto aqui é hq, somente isso e nada mais do que isso, já passou da hora de dar meus pitacos sobre o braço quadrinístico da Intempol, não?

THE LONG YESTERDAY, O ÁLBUM - Por Osmarco Valladão e Manoel Magalhães.

(já tinha publicado isso em meu outro blog, mas já que estamo falando dos quadrinhos da Intempol, não custa nada repetir)

No tocante aos quadrinhos, sou suspeitíssimo para falar, já que não é segredo para ninguém o pendor das minhas preferências estéticas pela arte sequencial, e, só para continuarmos no contexto, devo confessar que essa releitura se saiu muito melhor do que o conto original. Talvez pelo fato do roteirista, Osmarco Valladão, ser também o autor do conto, talvez pelo fato do próprio Osmarco ser designer, e também manjar de ilustração, talvez pela amizade de longa data entre ele e Manoel Magalhães, o desenhista.

O roteiro é econômico, preciso, e, principalmente, honesto. Segundo Osmarco, o objetivo era simplesmente fazer com que o leitor esquecesse um pouco da vida nos trinta e poucos minutos de leitura. Já a arte remete à escola européia (só não saberia dizer qual delas!) e resvala também no estilo difundido por Bruce Timm e companhia nos anos 90. Muito bonita. Além disso, Manoel é sucinto nas cores, mas usa isso a seu favor. E, claro, não poderíamos nos esquecer da qualidade gráfica do álbum, soberba para os padrões nacionais.

Uma curiosidade (ou infelicidade, dependendo do ponto de vista) é que, na época do lançamento, bastou o título em inglês para que as patrulhas ideológicas já entrassem em DEFCON 2, mas o que essa turminha parece desconhecer é a diferença abissal entre um pastiche e uma referência, ou melhor, homenagem. E fica claro, seja pela introdução assinada por Aragão, seja pela nota colocada por Osmarco ao fim do álbum, seja pela própria história, que o caso aqui é a segunda opção.

Dizem as lendas que vem mais coisa desse naipe por aí. É hora de cruzar os dedos.

A MORTÍFERA MALDIÇÃO DA MÚMIA.

O Projeto Intempol ganhou bastante visibilidade no mundo quadrinístico depois do lançamento de THE LONG YESTERDAY, a primeira graphic novel do projeto, mas o que a maiora não sabe é que anos antes os caras já tinham se aventurado no terreno das hqs, com uma história que, assim como THE LONG YESTERDAY, é uma adaptação de um dos contos presentes no primeiro livro lançado por eles. Contudo, existe uma diferença crucial: MMM (como é carinhosamente conhecida) é um Webcomic, com W maíusculo mesmo.

Uma coisa é se produzir uma hq dentro dos cânones normais, em termos de formato e narrativa, e depois utilizar a internet apenas como suporte. Outra é se produzir uma hq PARA internet, lançando mão de todos os recursos de que a rede dispõe. A equipe de criação, composta por Rodrigo Martins, Carlos Felipe Figueiras, Gustavo Novaes e Felipe Moura (não me pergunte quem fez o quê) realizou um trabalho redondinho. O roteiro, feito com o auxílio de Carlos Orsi Martinho, o autor do conto original, ficou na medida certa, e as redundâncias, muito comuns em adaptações de textos literários, se existem, a mim passaram despercebidas.

Já na parte gráfica, acho que os autores economizaram um pouco na hora de utilizar a palheta de cores, e nos traços. Acabei prefirindo a versão original à esta. O que não quer dizer que os quadrinhos sejam ruins, muito pelo contrário (como se minha opinião valesse alguma coisa, né?).

UM MUSEU DE VELHAS NOVIDADES

Essa seria mais um álbum da dinastia, com texto e diagramação de Octávio Aragão, autor do conto original, e arte de Bernard e Sandro, contudo, devido a diferenças editoriais, o projeto foi cancelado. Uma pena. Aqui estão os samples das primeiras páginas, e é possível notar a diferença gritante entre o traço de Bernard e o de Manoel Magalhães, desenhista de THE LONG YESTERDAY. Isso geraria um contra-ponto interessante. Quem sabe, num futuro próximo?

VIA CRUCIS

Disponível no site. Com roteiro de Octácio Aragão e arte de Antonio Nogueira, o destaque dessa pequena hq vai para a parte gráfica, totalmente fora dos padrões que se espera de uma hq de FC. O desenho de Nogueira é vivo, surreal e ele andou no fio da navalha ao experimentar tanto. Mas acertou. Executou com maestria algo que poderia ter ficado totalmente ridículo. Se não acreditam, dêem uma olhada na página 4. Não sei se estava no roteiro ou não, mas o último painel foi matador.

TREVO

Outra que está no site. Ralizada completamente por Octávio, utiliza o vasto leque de possibilidades de uma ucronia para contar uma boa e velha história de vingança.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

BANG BANG, A CAIXA DE AREIA e HATTER M 1

BANG BANG

Grata surpresa este álbum binacional, lançado primeiro nos states pra só depois dar as caras aqui. Já se falou muito dele pela rede, então vamos deixar de rodeios.

Como toda coletânea, a qualidade é heterogênea, mas o resultado final é mais do que satisfatório, principalmente no quesito arte. A distribuiçao das histórias está harmônica, com as quatro hqs grandes intercaladas pelas seis menores.

Das grandes, gostei muito de RIO ABAIXO, com roteiro de Ricardo Giassetti e arte de Fábio Cobiaco, e principalmente de UMA NOVA LIBERDADE, com texto Jeremy Nilsen e arte de Jefferson Costa, protagonizado pelo famoso escapista Harry Houdini. Muito legal.

Das menores, A PEIXARIA DA FAMÍLIA LAO, de Rafael Grampá é simplesmente fantástica, 4 páginas numa narrativa silenciosa com um traço belíssimo, que lembra muito - mas não emula - Geoff Darrow.

A CAIXA DE AREIA

Árido como o deserto habitado por Carlton e Kleiton. Só posso dizer isso da mais nova hq de Lourenço Mutarelli. Interessante é que todas as resenhas que li até então davam a impressão que o autor tava numa fase mais light, e uma página que vi na rede - a 19, para se mais exato – me convenceu mesmo dessa balela. Tudo mentirinha. Mutarelli, aqui, abandonou (ou apenas deixou de lado) as gorezices com as quais costumava povoar suas hqs, mas não perdeu a mão quando o assunto é causar aquele desconforto, aquele friozinho na barriga ao final da leitura, algo que domina tão bem. Mas a função da arte, ou Arte, ou ARTE, ou, whatever, é despertar emoções, não é mesmo?

Gostei do formato escolhido, gostei da história, gostei do traço e do acabamento interior, mas a devir continua ca#$%do no p#* no que diz respeito às capas. Não, não é da ilustração que tô falando, mas da qualidade gráfica mesmo. Porra, nem uma orelhinha!

HATTER M 1

Essa é uma daquelas compras circunstanciais que você acaba adorando ter feito. Comprei simplesmente por que tinha dinheiro na ocasião, e por causa da arte de Ben Templesmith. Se não tivesse a grana na hora, certamente não teria voltado para pegá-la quando os caraminguás surgissem.

Pelo que entendi, essa hq é uma espécie de interlúdio da série de livros THE LOOKING GLASS WARS. A premissa é pra lá de interessante: Hatter Madigan, o Hatter M. do título (um trocadilho óbvio com Mad Hatter, Chapeleiro Louco) é um garda-costas real, cuja missão era proteger a princesa Alyss, do País das Maravilhas, que agora está perdida em nosso mundo. Sim, é uma distorção da obra de Lewis Carrol, que também entra na jogada, através da Lewiss Carrol Society, grupo que sabe da existência do País das Maravilhas, mas quer a todo custo esconder o segredo da humanidade, através da, tá-dá!, ficção.

A história da hq começa com Hatter Madigan chegando em nosso mundo, à procura da princesa. O cara é um tipo de super-espadachim, que faz lâminas brotarem de todas as aberturas de seu casaco, cuja principal arma é o chapéu semi-sensciente, que se transforma em uma lâmina-bumerangue-com-cara-de-molusco bem esquisita. Além disso, pode ver o “creative glow” das pessoas e dos objetos, ou seja, coisas ou pessoas criativas são como faróis para ele. Hilária a parte onde um jovem Júlio Verne é confundido por ele com Leonardo da Vinci. A propósito, tudo se passa na Paris de 1859. Mas não se engane, em “nosso” mundo, mágos picaretas podem despertar zumbis antropófagos e coisas do tipo.

O roteiro é de Liz Cavalier e Frank Bedor, autor dos livros originais. E a arte, fodassa, é do Ben Templesmith. A edição tá muito bonita, tendo direito, inclusive, a excertos fictícios (um em francês!) de jornais da época.

Aqui tem uma entrevista com Frank Bedor.

E aqui, um preview da edição 2.

MANHWA??? QUÊ ISSO TIO? É DE COMER OU DE PASSAR NO CABELO?

Quando CONCHU, o primeiro manhwa chegou ao Brasil, houve certo estardalhaço, mas não dei muita bola, pelo tema, que não me interessa muito. Mas foi engraçado saber num dia que uma editora estaria lançando somente este tipo de quadrinho em solo tupiniquim (ou melhor, focando sua linha editorial nesse produto) e, já no outro, encontrar exemplares dos seus dois primeiros títulos em tudo quanto é banca por onde passei. Até em parada de ônibus em beira de estrada eu vi.

E não deixa de ser curioso o fato de uma nova editora, a LUMUS, já ir chegando de sola no mercado, lançando dois títulos coreanos com distribuição da Chinaglia, assim, na velocidade da luz. Mas eu até fico feliz com isso, sabe? Um mercado ativo de hqs pode ser um bom sinal e significar oportunidades pro pessoal aqui da terrinha também.

Deixa eu sonhar, tá?

Bom, voltando ao que interessa, não existe nada que chame muito a atenção nos dois títulos iniciais da LUMUS.

PRIEST vai na linha do faroeste-sombrio, que não é necessariamente novidade: Mágico Vento, Jonah Rex do Lansdale e do Tim Truman, outras hqs do Lansdale, alguns rpgs e por aí vai. Ivan Isaacs vendeu a alma ao tinhoso pra poder voltar do mundo dos mortos e resolver umas pendengas por aqui. Sei que você já viu isso por aí, mas se a premissa fosse tão ruim assim, não tava sendo usada até hoje, peixe.

Hyung Min-Woo tem um traço bastante característico, frenético, e a parte visual me lembrou um pouco Hellsing, aquele anime doidão que passa no Animax. Além disso, a estrutura da história já foi entregue de bandeja na mandala que recorre durante todo o volume. Tipo video-game, tá ligado?

Gostei.

PLANET BLOOD não caiu muito em minhas graças. Talvez por tornar-se uma fantasia medieval bem da previsível após as primeiras vinte páginas (não parei pra contar, mas estimo que este primeiro volume tenha lá suas duzentas). Como já falei lá em cima, não sou muito chegado em fantasia não senhor. Existem as exceções, evidentemente, mas a balança aqui costuma pesar contra esse gênero específico.

O traço de Kim Tae-Hyung já é bem menos nervoso que o de seu companheiro aí de cima, e os desenhos são até bonitinhos, mas não desceu muito não.

O engraçado é que, pela proximidade geográfica e cultural, fica difícil dissociar esses quadrinhos de seus vizinhos japoneses, mesmo que as diferenças estejam a olhos vistos (Sacaram? Sacaram?).

sábado, 1 de outubro de 2005

CONSTANTINE

Vi ontem. Gostei.

Embora tenham descaracterizado totalmente o personagem, fizeram isso de maneira competente e, ora, se está se fazendo uma ADAPTAÇÃO, acho que o mínimo que se pode fazer é brincar com as variações sobre o mesmo tema. Eu gostei da nova versão do Gabriel, do Tinhoso, e até da pirotecnia que reina durante toda a película.

A única cagada - homérica - fica por conta do Chas, o fiel escudeiro do Constantine, que ganhou uma versão muito, mas muito piorada no filme.

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

FF

Ainda não li QUARK, mas a primeira impressão, que não foi das melhores, só foi dirimida pelo conhecimento das circunstâncias nas quais essa hq foi gerada, ou melhor, por quem.

O traço tá esquisito, meio toscão, abaixo mesmo da média da maioria dos mangás genéricos (leia-se: feitos no ocidente), parecendo coisa de fanzine. Tudo bem, provavelmente o van Kooten não contou com hordas de assistentes para desenharem cenários e não sei o que lá mais. Além disso, pra uma edição de quase 10 mangos, tá paupérrima, indo na contramão do material que a Ediouro tem lançado. Mas tem coisa mais bacana que saber de uma mangá escrito por um HOLANDÊS de 66 anos? E desenhado por outro de 44?

Pode ser impressão minha, mas essa coisa de mangá, na minha cabecinha fraca, tá muito conectada com a minha própria geração. Daí o estranhamento.

***

Dentre as minhas teorias literárias, eu costumo sustentar que Dante era gay. Não que importe o fato do florentino gostar da fruta ou não, claro, mas seria interessante pensar na mudança de perspectiva que isso causaria, não? Imaginar que, ao invés de estar na captura de sua musa, Beatriz, o cara atravessou o Inferno e o Purgatório só pra dar uma bulida no ídolo Virgílio. Mas pra quê ele foi para o Céu, zé-ruela? Ué, vai dizer que se você tivesse a oportunidade, não aproveitaria?

Também sustento, quase sempre mentalmente (porque existem poucas pessoas dispostas a dar sequência nisto. E eu até entendo o porquê), que Don DeLillo tem uma semelhança - que extrapola a simples coincidência fenotípica - com a Rita Cadilac. Refiro-me apenas ao rosto, claro.

E, ainda sobre o Novaiorquino, sou só eu que acho que ele foi a inspiração para John Trause, personangem do Auster no livro NOITE DO ORÁCULO?

***

Dia desses tava folheando O LIVRO DAS COUSAS QUE ACONTECEM, de Daniel Pellizzari, e, puta livro, hein? Daí, atrás de DEDO NEGRO COM UNHA, sua mais recente cria, fui dar umas bandas no site da editora DBA, a mesma que editou o romance o NATIMORTO, do Muttarelli, e CAVERNAS E CONCUBINAS, do lendário Cardoso, mas o site, lindão, está desatualizado e no catálogo não consta ainda esse quitute.

terça-feira, 6 de setembro de 2005

DE VOLTA À ATIVIDADE

Rápido e rasteiro:

EVANGELION - the Iron Maiden 2nd - Fumino Hayashi

Um dos meus mangás preferidos em versão shojo. Pffff...

E alguém sabe quê diabos é esse “2nd”?

***

PROCURADO - Mark Millar e J.G. Jones

Tava indo tudo bem. Não era o que se poderia chamar de inesquecível, mas tava divertida, mas como sempre, Mr. Millar peida na farofa e a deixa a parte final dessa história pavorosa (e entenda isso da maneira mais pejorativa que conseguir imaginar). O engraçado é que o mesmo capítulo final, com o mesmo plot, conduzido por alguém com mais tarimba, daria uma história substancialmente melhor. E teve gente que disse que era o novo Watchmen. Há!

***

KAOS 3 - Vários

Taí uma iniciativa que deu gosto de acompanhar. A fórmula dos caras, sucintamente descrita em todas as capas (Quadrinhos + Entrevistas), foi muito bem executada. Pena que foi a última edição, pelo menos por enquanto, acho. Tem um material lá - A HISTÓRIA DE GERB -, que só posso imaginar ser um preview. E, ora bolas!, pra quê um preview numa revista com o pé na cova? Mistérios, mistérios...

***

DEMOLIDOR 19 - Vários

Tinha abandonado, mas comprei porque ouvi comentários favoráveis a respeito.

Na história do Demolidor, o Bendis consegui deixar a coisa numa velocidade acima de cágado manco, e a história ficou legalzinha sim.

Surpresa foi a mini do Mercenário, um dos meus vilões preferidos. Pena que, ao tentarem revelar a origem dele, os caras esteja botando uma pá de cal numa história que poderia ser bem melhor. Será que esse pessoalzinho não percebeu que humanizar arquétipos é coisa dos anos 80? Ainda tenho esperança que a suposta origem do cara seja apenas um ardil pro mesmo dar a partida numa carnificina desmedida e acéfala, como todos nós gostamos.

E por último, tem o Justiceiro, sob a bandeira MAX, que eu ainda não tinha lido. Tudo que ouvi a respeito é verdade. Livre das rédeas da continuidade normal, Ennis abandonou o humor negro em favor de cabeças explodindo e tal. Antes tivesse ficado fora do selo MAX.

***

MARVEL MAX 24 - Vários.

E pra não dizer que não falei das flores, a última edição de MARVEL MAX continuou onde sempre esteve: na média. Eu gosto de PODER SUPREMO, que recicla a mesmoa proposta pela zilionésima vez, mas é bem conduzida, e pra mim isso já está de bom tamanho. A mini do DR. ESPECTRO é totalmente dispensável. Pra encher linguiça mesmo. E por último, tem a mini da VIÚVA NEGRA, dessa vez a original. Se o Richard K. Morgan não segura a onda nos textos, pelo menos a arte finalizada pelo Sr. Bill Sienkiewicz tá boa demais da conta.

A verdade é que o selo MAX vai ter que comer muiiiiito feijão pra chegar aos pés do que a Vertigo representou. O pessoal da Marvel sempre vai ser mais careta que a rapaziada da DC, e enquanto isso não mudar, sem chance. Pena que a maioria esmagadora dos leitores de hq de supas pensa diferente de mim. Bobos.

***

X-MEN - Grant Morrison e mais um punhado de gente.

Como seu discípulo fez em PROCURADO, o Morrison, que tava conduzindo a série de maneira irregular - mais pra boa do que pra ruim - trinca os ovos deste gordinho aqui com esse arco final da sua estadia no título dos X-Men, ECOS DO AMANHÃ. Tá certo que ele amarrou todas as pontas e deixou um ou dois ganchos pros sucessores se divertirem, mas eu esperava mais do tio Careca, muito mais. Mas ele tá se redimindo com SEVEN SOLDIERS, que eu prometi resenhar aqui sabe-se lá Papai do Céu quando e até hoje não fiz. Mas não demora não, pode confiar.

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RONIN SOUL - Fabrício Velasco e Rod Pereira

Essa aqui foi uma surpresa. A despeito da proposta, muito parecida com CAMELOT 3000, da temática, que não me apetece muito, e dos desenhos, que, a princípio, me deram impressão errada, comprei. Fizeram um alarde da porra por causa da tiragem, colossal pros padrões nacionais.

O engano em relação à arte foi logo desfeito. As cores, que imaginei estarem aos pés de DK2, ficaram maravilhosas, e o traço de Rod Pereira é muito bom. Além disso, a história está sendo bem conduzida e me deixou curioso pra ler a sequência. Veremos.

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ROCK’N’ROLL - Bá, Moon, Bruno D’Angelo e Kako

Saiu ano passado, mas só li agora. Sei lá.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

ASSASSINATOS NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Pra me desintoxicar, na sequência do TRAINSPOTTING, veio esse.

Eu sempre gostei dos livros do Jô Soares. Dos seus romances, digo. E vamos esquecer o talk-show por enquanto, certo?

Quando li O XANGÔ DE BAKER STREET, achei-o deveras iconoclasta, pelo simples fato de colocar um ícone da cultura pop, sisudo, fleumático e normalmente associado à retidão de caráter vitoriana, dando um tapa num cigarrinho do capeta, ou ainda tendo um ataque de piriri, em meio a uma perseguição. Obviamente, eu via as coisas de maneira muito diferente em 1995.

O HOMEM QUE MATOU GETÚLIO VARGAS também caiu nas minhas graças. Era engraçada a maneira em que foi costurada a biografia do assassino hexadigital Dimitri Borja e todos os eventos que fizeram parte da história do período no qual viveu.

O gosto do Gordo por personagens bizarros em situações insólitas esbarra nas minhas próprias preferências literárias, e o cara é, pra não dizer outra coisa um erudito.

Mas acho que temos um padrão se formando aqui. A impressão que tive, lendo esse novo romance, é que ele é uma mistura dos dois anteriores. Os mesmos ingredientes, misturados em proporções diferentes é verdade, mas com o mesmo sabor. E a composição dos livros, obra da editora, presumo, também só contribui pra reforçar minha impressão. A mesma tipologia, a mesma diagramação, etc, etc.

É divertido? É, e talvez lhe valha algumas risadas. Eu dei as minhas, mas esperava mais. Mas penso que, como disse antes, as coisas tenham mudado muito nos últimos 10 anos.

Vamos ver o que o próximo livro - sobre o Império Romano, se bem me lembro - nos reserva.

E agora, vamos em direçao À ESPINHA DORSAL DA MEMÓRIA/MUNDO FANTASMO, do Bráulio Tavares.