Não é de hoje que se discute esse assunto, mas devido a algumas conversas em listas de discussão, em blogs e coisas que andei lendo por aí, resolvi dar meus pitacos a respeito do assunto.
Que a distribuição de quadrinhos pela internet, em formato digital seja o futuro, não nego. Detesto ler na tela, opinião compartilhada pela maioria dos dinossauros da minha idade, mas a molecada que é dez anos mais nova já não pensa assim, e imagino que essa situação tenda a se perpetuar daqui em diante.
Então a questão passa a ser: como distribuir hqs na internet?
De graça?
Pode ser. Mas aí é aquela história de tudo pela arte. E só a arte não enche barriga de ninguém. E vai chegar uma hora que você ou alguém que trabalha junto com você vai ficar de saco cheio. E vocês vão dar prioridade para outras coisas. E c'est finit.
Vender?
Não.
Se com quadrinhos impressos já existem equipes de nerds prontos para escanear, diagramar e até traduzir as histórias assim que elas chegam nas prateleiras, o que dizer de um produto que já está prontinho para cair nos torrents e p2ps da vida? E, como diz a sabedoria popular, caiu na rede é peixe. Num mundo ideal valeria o raciocínio de que quem lesse antes de graça e gostasse iria a seu site e pagaria pelo conteúdo, feliz da vida, não é? Contudo, pessoalmente, não acredito que seja assim. Eu mesmo já comprei muita coisa que li antes em “formato digital não-sancionado”, só que conheço um número muito maior de pessoas que lê quadrinhos na tela e não faz isso. Note que não estou fazendo uma pregação contra a leitura de scans e tal. Só acho que comercializar arquivos por si só não é um bom negócio. Para mim, a solução é outra
Vejamos um caso próximo a todos nós, que é André Dahmer, criador da tira de quadrinhos
MALVADOS. Ele capitalizou seus quadrinhos de outra maneira. As tiras continuam sendo publicadas regularmente em seu site, e o acesso é gratuito, mas ele vende produtos correlatos, como camisas e impressões das tiras. É assim que o cara levanta seu dinheiro.
( Há uma entrevista onde ele comenta o processo detalhadamente, mas não me recordo do link. Quando encontrá-lo, faço uma atualização aqui.)
E acho que a solução vai por aí.
Uma outra possibilidade que enxergo é a de se conseguir patrocinadores. Empresas ou pessoas que vão anunciar na sua revista eletrônica, que terá distribuição gratuita. Funciona há séculos com a TV, não vejo porque não funcionaria com hqs. Obviamente, existe o possibilidade da perda de “liberdade artística” por causa do patrocínio, mas acho isso muito pouco provável. Primeiro porque hoje em dia existem mercadorias que se alinham com quase todo tipo de tema ou gênero. A questão seria encontrar alguém que tenha um produto sintonizado com o público alvo de sua revista.
Sei que falando assim parece fácil, mas não é. Contudo, não é impossível, e acho que já tá na hora do pessoal que faz e quer viver dos quadrinhos visualizar outros modelos de negócios.
AGORA, A MINHA IDÉIA.
A idéia, que pode ou não se enquadrar no assunto deste post, é algo que alimento há muito tempo, mas por motivos diversos não pude levar adiante. Seria uma revista, no formato Fell/Slimline. Pra quem ainda não conhece, Fell é uma revistinha bem legal, criada por
Warren Ellis e
Ben Templesmith, publicada pela Image. A grande cartada é que a revista, que tem um número de páginas desenhadas menor do que o usual no mercado americano, 16 contra as 22 normais, o que, consequentemente, torna seu custo menor do que as concorrentes. Além disso, há sempre uma seção de extras (correio, trechos de roteiros, sketches, idéias, enfim). A Image gostou do formato, criando a linha Slimline, e lançou outra revista nos mesmos moldes, Casanova, escrita por
Matt Fraction e desenhada pelo brasileiro
Gabriel Bá.
Já ouvi outras pessoas que também manifestaram interesse por esse modelo, como o
Pablo ou o
Hector, cada um com suas devidas variações.
A minha seria assim: uma revista de 24 páginas, sendo que 4 seriam as capas, 16 seriam para quadrinhos e mais 4 para os extras. Nos quadrinhos, e acho que a minha diferença se encontraria aqui, eu publicaria duas séries de 8 páginas cada. A revista já tem um nome provisório, e seria estreada por LIBRA, sobre a qual já falei aqui muitas vezes, e também sobre MANDRÁGORA, que também teve alguns comentários dedicados a ela no passado.
A idéia, a princípio, seria publicar em papel mesmo, mas cada vez mais me sinto tentado a fazer isso via rede.
Se vai rolar? Não sei.