quinta-feira, 27 de julho de 2006

LE DÉCALOGUE


O texto abaixo é o comentário do camarada Pedro “Hunter” Bouça, mantenedor da lista de discussão EuroQuadrinhos (de onde foi extraído o texto, com a devida permissão) e também tradutor de XIII, do primeiro volume de ALDEBARAN, do vindouro BLUEBERRY e de otras cositas más.

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Há uma característica no quadrinho franco-belga que
perdura até os dias de hoje: O artista é a parte mais importante da
equipe criativa. Não há Goscinny, Charlier ou Jodorowsky que mude
essa tendência, cada série tem um artista fixo que dedica um ano de
sua vida (em média) desenhando (e às vezes também escrevendo,
colorindo e/ou letreirando) um álbum. Como substituições de
artistas são muito raras (até porque os personagens geralmente
PERTENCEM a seus criadores!), a identidade visual de uma série é
bem distintiva. Só se consegue imaginar o Lucky Luke desenhado pelo
Morris, o Asterix desenhado por Uderzo ou o Tintim desenhado por
Hergé. De uns tempos para cá a situação começou a mudar, mas ainda
funciona muito assim.

Frank Giroud, porém, decidiu mudar tudo.

Escritor de quadrinhos até então pouco conhecido, Giroud (nenhuma
relação com Jean "Moebius" Giraud) ofereceu à editora Glénat um
projeto ambicioso: Uma série em 10 volumes e com 10 artistas
diferentes, mas unida pelo roteiro e publicada em um espaço de
tempo pouco usual no quadrinho franco-belga (os 10 álbuns seriam
publicados em cerca de 2 anos, algo impossível nas séries assinadas
por um único artista).

O conceito era tão ambicioso quanto o projeto: Anos antes do Código
da Vinci, Giroud idealizou uma trama religiosa. Na história, o
profeta Maomé teria escrito (em uma omoplata de camelo) um decálogo
- ou seja, um conjunto de 10 mandamentos para a fé muçulmana, tal
como existe um para a fé cristã - que teria sido escondido dos
fiéis por seus sucessores, até, depois de um caminho longo e
turtuoso, chegar até nossos dias em uma versão romanceada, o Nahik,
que vai parar nas mãos de um escritor fracassado, que vê nessa
história uma chance de finalmente emplacar um sucesso.

Essa é a trama do primeiro álbum, sendo que os 10 álbuns
subsequentes recuam progresivamente no tempo até chegar ao "começo"
da trama, no tempo do próprio Maomé. Para além de se relacionarem
via a trama principal, os álbuns também têm como "tema" individual
cada um desses dez "mandamentos". Um curioso desafio para o
escritor, mas será que ele conseguiu?

Bem, ao menos os dois que eu li até o momento foram bem
interessantes. Na França a série conseguiu vendas (acumuladas, bem
entendido) na casa dos milhões e já gerou dois spin-offs (estes
séries mais convencionais), todos escritos por Giroud que, no
processo, tornou-se um escritor conhecido (atualmente desenvolve
uma outra série de múltiplos artistas, mas dessa vez girando em uma
única trama com diversos pontos de vista, Le Quintett, para a
editora Dupuis, em cinco volumes).
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Depois de ler isso, claro que eu corri para o site de Glénat para conferir a parada e apesar do meu francês inexistente, além da premissa (e também da – com o perdão do trocadalho - gênese) bacana que o Pedro deu de bandeja aí em cima, a série é visualmente interessante. Pena que essas paradas não cheguem nem perto daqui.

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