Eu não fumo. Nunca fumei. Na verdade, tenho ojeriza de qualquer coisa que produza fumaça, legal ou ilegalmente. Teorizo que isso se deva, em parte, a meu aparelho respiratório, portador de tudo quanto é tipo de moléstia que se possa imaginar. Mas tenho muitos amigos e familiares que curtem inalar seu quinhão diário de nicotina, e geralmente gosto de ouvir histórias que envolvam cigarros.
Dia desses, um dos meus amigos me contou uma, muito boa. Para proteger sua identidade, vou chamá-lo apenas de “Coisa-ruim”.
Coisa-ruim é fumante. Em uma das vezes em que tentou largar o vício, conseguiu ficar três dias sem colocar um cigarro na boca.
Mas então houve um pesadelo.
No sonho-ruim, ele estava em um local indeterminado, com um isqueiro em uma mão e um cigarro gigante na outra. “É nóis!”, pensou oniricamente. O problema era que ele não conseguia realizar o procedimento comum, que é prender o cigarro na boca, fazer uma concha protetora com uma das mãos e acender o isqueiro e o cigarro com a outra. Dado o tamanho do careta, suas mãos não alcançavam a outra ponta.
Então ele tinha que segurar o cigarro pelo meio, para acendê-lo com a outra mão. Mas, quando ele conseguia colocar o filtro na boca, o cigarro já tinha se apagado, obrigando-o a repetir o procedimento, ad infinitum, tal qual um Sísifo[1] pós-moderno, transformando a euforia inicial em uma angústia incomensurável.
Aliás, pesadelos desse tipo (tarefas impossíveis de se realizar e repetidas infinitamente) são até comuns - quem nunca sonhou correr sem sair do lugar? - e os psicanalistas devem ter um nome pra isso.
Obviamente, escrever esse caso não tem nem 1% da graça de ouvi-lo na fonte.
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[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADsifo
Dia desses, um dos meus amigos me contou uma, muito boa. Para proteger sua identidade, vou chamá-lo apenas de “Coisa-ruim”.
Coisa-ruim é fumante. Em uma das vezes em que tentou largar o vício, conseguiu ficar três dias sem colocar um cigarro na boca.
Mas então houve um pesadelo.
No sonho-ruim, ele estava em um local indeterminado, com um isqueiro em uma mão e um cigarro gigante na outra. “É nóis!”, pensou oniricamente. O problema era que ele não conseguia realizar o procedimento comum, que é prender o cigarro na boca, fazer uma concha protetora com uma das mãos e acender o isqueiro e o cigarro com a outra. Dado o tamanho do careta, suas mãos não alcançavam a outra ponta.
Então ele tinha que segurar o cigarro pelo meio, para acendê-lo com a outra mão. Mas, quando ele conseguia colocar o filtro na boca, o cigarro já tinha se apagado, obrigando-o a repetir o procedimento, ad infinitum, tal qual um Sísifo[1] pós-moderno, transformando a euforia inicial em uma angústia incomensurável.
Aliás, pesadelos desse tipo (tarefas impossíveis de se realizar e repetidas infinitamente) são até comuns - quem nunca sonhou correr sem sair do lugar? - e os psicanalistas devem ter um nome pra isso.
Obviamente, escrever esse caso não tem nem 1% da graça de ouvi-lo na fonte.
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[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADsifo
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