(Mais um:)
Eu só consigo pensar em porquê nunca havia dado esmolas a pedintes antes. Principalmente aqueles que entram no ônibus. Sabe quais são? “Bom dia senhoras e senhores, eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, mas estou aqui, blábláblá, blábláblá, blábláblá”.
Já são sete da noite. Estou cansado. Da vida, digo. Olho para os outros no ponto de ônibus, seus rostos inexpressivos, também cansados (da vida? Da vida que estão levando?). Engulo todo desprezo deles. Mais uma vez. Por que ninguém olha pra mim? A menina com a Bíblia na mão, ou o cara com os fones de ouvido, por exemplo. É verdade que eu também nunca cheguei para um desconhecido e disse “oi”, mas e daí? Meu ônibus está vindo. Espero todo mundo subir. Pelo menos tenho bons modos. Ah, sim! Isso eu ainda tenho. Subo as escadas de cabeça baixa. O motorista já me conhece, o cobrador também. Um leve maneio de cabeça e está tudo resolvido. Encaro as pessoas e engulo, mais uma vez, seu desprezo. Penso nos meus filhos, na minha mulher. Respiro fundo. E minha litania começa mais uma vez: “Boa noite senhoras e senhores! Estou aqui, pedindo a sua ajuda...
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