No livro, Luis Carlos faz essa afirmação em relação aos roteiros de cinema, que, apesar de serem textos dramáticos, estão revestidos por toda uma carga técnica. Mas isso se aplica também a outras áreas da escrita.
Basta perder alguns momentos em fóruns americanos cujo tema seja escrita criativa ou técnica para perceber a diferença. Enquanto por aqui as pessoas ainda estão atrás da eterna musa, por lá a atitude é mais de botar a mão na massa. Boa parte dos tópicos abordam aspectos puramente técnicos, que invariavelmente acabam descambando na direção de ferramentas para melhorar a produtividade do escritor e deixar o texto fluindo: software. Acredito que isso se deva, em parte, pelo fato de ser mais comum pelos lados de lá encararem a escrita como uma profissão. Enfim.
E uma dessas ferramentas é justamente a categoria dos Editores de Texto que partem da premissa "distraction free". Segundo ela, quanto menos botões, menus, barras de ferramentas e quaisquer outros elementos que possam tirar a atenção do escritor, melhor.
É verdade que a grande maioria dos programas de escrita, sejam Editores, sejam Processadores de Texto, têm, em maior ou menor grau, recursos para despoluir a tela.
No OpenOffice Writer, por exemplo, pressiona-se a combinação Ctrl+Shift+J. No Abiword é a tecla F11. No Microsoft Word há essa opção, através do menu EXIBIR > TELA INTEIRA.
Mesmo assim, ainda permanecem alguns elementos, como as réguas, a barra de tarefas do sistema operacional ou as bordas das janelas.
E é aí que entram os Editores "distraction free". Eles tem uma abordagem mais radical, e eliminam tudo o que há na tela, deixando espaço apenas para o texto.
Os programas são, em sua maioria, Editores, pois editam apenas arquivos .txt. Isso, obviamente, tem uma explicação: com são arquivos de texto plano, não é possível formatar o texto para deixá-lo em negrito, itálico ou seja lá como for. E isso, em teoria, obriga o escritor a focar-se no ato de jogar suas idéias na tela, deixando a formatação para um outro momento. Por alguns momentos, seu computador vai se transformar numa máquina de escrever.
Sinceramente, não sei até onde isso é realmente válido. Já usei essas ferramentas algumas vezes e o texto realmente fluiu. Em outras ocasiões, contudo, eu simplesmente dei um ALT+TAB e me dispersei em outra atividade qualquer.
Abaixo, segue uma lista - que não pretende ser completa - sobre algumas dessas aplicações.
WRITEROOM
O WRITEROOM foi o precursor desse tipo de aplicação. É apenas para MACs.
Como não tenho um MAC a meu alcance, nunca testei e não sei quais são seus features.
Da última vez em que olhei o site, o programa custava 20 dólares.
DARK ROOM
O DARK ROOM é um clone do WRITEROOM, feito para Windows. Aparentemente, ele não é mais desenvolvido. A última versão é a 0.8b, de 2006. A vantagem é que ele dispensa a instalação, mas necessita do framework .NET (2.0 ou superior) para ser executado. Tentei executá-lo no Ubuntu com o auxílio do MONO (2.4), mas não consegui.
JDARK ROOM
O JDARK ROOM é outro clone (e, daqui em diante, vamos assumir que todos os outros programas são clones) do WRITEROOM. A diferença é que ele é executado através do Java, ao invés do .NET, o que melhora a compatibilidade com outros sistemas operacionais. Rodou bem tanto no Ubuntu quanto no Windows XP. O programa continua sendo desenvolvido e sua versão mais atual é a 14.
Q10 (é o do screenshot aí de cima)
O meu preferido. Infelizmente, parece ter se tornado abandonware, visto que a última versão é de 2007, e os fóruns também andam meio parados.
Acho a interface do Q10 mais polida, mesmo que a idéia seja OCULTÁ-LA. Ele, exibe, por exemplo, algumas informações como número de palavras, caracteres e páginas no rodapé da tela. Além disso, é possível escolher temas sonoros. Há a opção de configurar o programa para deixar sua interface em português brasileiro, e também há dicionários disponíveis para o nosso idioma.
Também conta com uma versão para o PortableApps. Só para Windows.
WRITEMONKEY
O WRITEMONKEY é bem parecido com o Q10. Também tem uma interface polida e é possível customizá-lo - dentro de determinados limites - com sons e temas. Mas entre os programas testados, de longe é o que apresenta mais opções.
A biblioteca de temas sonoros, aliás, é mais farta que a do Q10. Dos barulhinhos, o tema que mais me agradou foi o "Click Keyboard", que imita o som daqueles teclados antigos, onde era necessário martelar, literalmente, as teclas.
Outro recurso legal do WRITEMONKEY é a possibilidade de criar perfis diferentes, cada um com suas próprias configurações.
O WRITEMONKEY continua em desenvolvimento (a versão atual é a 0.9.5.0) e parece ter adotado todos os órfãos do Q10. Lembro-me, inclusive, de que o criador do programa anunciou o primeiro release no antigo fórum do Q10 e a recepção não foi das mais calorosas. Mas, como dizem por aí, o mundo dá voltas.
Winows only. Necessita do .NET (2.0 ou superior) para funcionar e também não funciona através do MONO 2.4.
PYROOM
O PYROOM é a contraparte "linúxica" desse tipo de aplicação, e, como o próprio nome já denuncia, necessita do ambiente de execução do Python (ubíquo em quase tudo quanto é distro Linux) para funcionar.
Uma característica da qual eu não gosto é que existe uma borda ao redor da área utilizada para escrita, o que descaracteriza um pouco o elemento "distraction free". Some isso ao fato da área em si ser pequena, ou seja, o espaço do monitor é mal-aproveitado.Também não é possível configurar o programa de uma maneira intuitiva.
Apenas para Linux, por enquanto. No site do projeto, contudo, já está prometida uma versão para Windows.
UPDATE (24/09/09): O PyRoom TEM a opção para configurar o programa através de uma caixa de diálogos. Contudo, a quantidade de configurações é bem mais modesta se comparada ao Q10 ou ao WriteMonkey.
======
A título de curiosidade, li recentemente num blog da Microsoft um procedimento, deveras arcano, para deixar o Microsoft Word 2007 com ares de WRITEROOM. Tente por sua própria conta e risco.
E antes que você me pergunte: esse post foi escrito no Q10.
Winows only. Necessita do .NET (2.0 ou superior) para funcionar e também não funciona através do MONO 2.4.
PYROOM
O PYROOM é a contraparte "linúxica" desse tipo de aplicação, e, como o próprio nome já denuncia, necessita do ambiente de execução do Python (ubíquo em quase tudo quanto é distro Linux) para funcionar.
Uma característica da qual eu não gosto é que existe uma borda ao redor da área utilizada para escrita, o que descaracteriza um pouco o elemento "distraction free". Some isso ao fato da área em si ser pequena, ou seja, o espaço do monitor é mal-aproveitado.
Apenas para Linux, por enquanto. No site do projeto, contudo, já está prometida uma versão para Windows.
UPDATE (24/09/09): O PyRoom TEM a opção para configurar o programa através de uma caixa de diálogos. Contudo, a quantidade de configurações é bem mais modesta se comparada ao Q10 ou ao WriteMonkey.
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A título de curiosidade, li recentemente num blog da Microsoft um procedimento, deveras arcano, para deixar o Microsoft Word 2007 com ares de WRITEROOM. Tente por sua própria conta e risco.
E antes que você me pergunte: esse post foi escrito no Q10.
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