segunda-feira, 18 de setembro de 2006

BIZANGO – CAPÍTULO 7: JOGANDO CONVERSA FORA

Márcio Massula Jr.

Waleska estava lhe parecendo diferente. Seus fartos seios – o único detalhe, na opinião de Francisco, digno de nota - pareciam ainda maiores, mais vistosos. Ele não pôde evitar o olhar faminto que deu para o generoso decote da recepcionista, que deve ter percebido o interesse do colega, já que estava vermelha como um tomate ao cumprimentá-lo. Francisco acabou se debruçando sobre a mesa dela. Ela, ainda mais sem jeito, tratou logo de entabular conversa.

- Nossa, Francisco, você está....

- Já sei, já sei. Com uma cara...

- Também. Mas tá...cinza?

Francisco engoliu em seco e tratou logo de pensar numa resposta convincente, de preferência que o convencesse também.

- É. Eu acho que foi alguma coisa que eu comi ontem.

- E a reunião, como foi?

- Nem me fala. Acho que minha carreira aqui acabou hoje.

- Nossa!

- Pois é. Acho que estou passando pelo meu inferno astral.

- Credo, Francisco! Não fala assim! Isso é coisa séria. Atrai maus fluídos.

- Taí! Ei, Waleska, você vai nuns centros espíritas ou algo assim, né?

- Não é bem centro espírita...

- Mas é algo assim, né?

- Mais ou menos.

- Dá pra me levar lá?

- Por quê?

- Não sei. Acho que quero tentar entender o que tá acontecendo comigo.

- Você está falando sério, Francisco?

- Tô, ué!

- Está bem. Eu te levo. Mas promete que não vai contar pra ninguém? É que é uma coisa muito 
particular.

Francisco ergueu a mão esquerda, mostrando a palma para Waleska e forçou o melhor sorriso que conseguiu.

- Palavra de escoteiro!

- Promete que não vai rir nem ficar me gozando?

- Pô Wal, por que essa preocupação toda?

- É que pode parecer meio esquisito assim, da primeira vez.

- Mais do que minha vida anda ultimamente? Pode ter certeza que não.

- Se você quebrar sua palavra eu nunca mais falo com você.

- Pode deixar.

- E suas chances de me comer vão por água abaixo.

- Hã! Que cê falou?

- Eu??? Nada.

- Achei que tivesse ouvido alguma coisa.

- Eu devo ter pensado alto.

- Ah, tá.

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