terça-feira, 30 de setembro de 2008

PRODUTIVIDADE PESSOAL - A RELIGIÃO DO SÉCULO?

Do ano passado para cá as coisas se apertaram no trabalho, e quando notei que estava levando, frequentemente, trabalho para a casa (ou para o hotel), vi que tinha algo errado.

A saída que enxerguei no momento foram as "técnicas" do que se convencionou chamar de produtividade pessoal. Passei a frequentar sites como o Lifehacker.com, o Lifehack.org, o 43 Folders, o Wishful Thinking, o Magaiver (através do seu já finado spin-off, Produtividade Pessoal), o Efetividade.net e sei lá mais quantos. Passei a prestar atenção no GTD e em outra siglas estranhas. Comecei (ou melhor, tentei) gerenciar meu tempo.

Descobri várias ferramentas, redescobri outras tantas, e aprendi a usar mais umas outras que já conhecia mas para as quais não dava muita bola. Essas coisas.

Melhorou? Sim. Mas...

Percebi, algum tempo depois, que perdia muito tempo estudando "lifehacking" e pouco tempo colocando o que aprendi em prática, um dilema que descobri não ser exclusividade dos iniciantes.

Outra coisa de que me dei conta é que meus interesses em relação á produtividade são bem específicos: como passo muito tempo em frente a um computador, quero dar menos toques e cliques para ferrisbullerar mais, tá ligado?

Ou seja, me interesso por ferramentas para aumentar a produtividade em frente ao computador. E só. Não quero saber de dietas "mais" eficientes, mobilia construída com as próprias mãos ou sistemas para convencer meus colegas de trabalho que sou mais articulado verbalmente.

De qualquer maneira, acho válido compartilhar algumas das (re)descobertas. Vou criar o tag produtividade, para falar, unica e exclusivamente, de programas e dicas que acho que podem dar alguma ajuda no dia-a-dia.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

THE ANATHOMY OF MELANCHOLY

Essa semana estou em mais um dos meus Paradise Lost loops, e agora, nesse exato momento, estou ouvindo THE ANATHOMY OF MELANCHOLY, o último trabalho dos caras: um cd duplo, ao vivo.

Não deixa de ser estranho ver que, mesmo tendo uma voz poderosa, Nick Holmes não consegue reproduzir os urros primais que soltava no Ghotic.

Detalhes à parte, recomendo.

ANATHEM & NEAL STEPHENSON

Engraçado. Tenho me interessado muito por worldbuilding ultimamente e o nevasca do Stephenson tem contribuído para que o assunto não saia da minha cabeça (puristas, nem mais um passo à frente!).
E, dando um rolê(é?) pelo site da Amazon, não é que fico sabendo do cartapácio que o rapazinho pariu esse mês?
O rapazinho, aliás, mudou a cara do site (por causa do livro novo, todos devem saber).
Se alguém sobreviver à experiência, me conte como foi.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

SOCIAL NETWORKING WARS



Pode ser coisa antiga (para padrões internéticos, evidentemente), mas eu não tinha visto e achei engraçada.

Quem deu a letra foi o Léo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

ADSENSELESS - Parte 4

É isso aí, macacada!

Com a (des)periodicidade de sempre, a parte 4 da saga de Macanudo Geist já está no ar. Também aproveitei para tirar alguns esqueletos do armário.

O endereço vocês já conhecem (mas vou colocar assim mesmo):

http://txt.blogsome.com

ADSENSELESS - Parte 4

Márcio Massula Jr.

Todos se esqueceram de avisar a Macanudo que ter a cabeça bombardeada por microondas o dia inteiro faria ela esquentar. E muito. Quando ele estava na Googolplex, isso não acontecia. Mas a Faixa de Anúncios também não ficava ligada o dia inteiro.

O resultado disso era uma película de suor, fina, mas perpétua, ao redor do seu rosto. A solução - paliativa - foi providenciar um estoque de toalhinhas de papel e deixá-las sempre à mão.

Devido à temperatura, a cabeça doía. E a dor de cabeça incessante mexia com seu humor.

Os rendimentos não estavam sendo fantásticos, devido, em parte, ao próprio estado melancólico no qual ele se encontrava. Ele não saía muito, e quando saía, não era um dos interlocutores mais simpáticos da face da terra. E, como diz o ditado, se não sabe sorrir, não abra uma loja. Macanudo tinha se tornado uma celebridade menor na cidade. As pessoas ainda vinham em sua direção, pediam para tirar fotos, experimentar a faixa e todas essas coisas, mas ele não fazia a mínima questão de agradar os clientes, atividade para a qual estava sendo pago, aliás. Ele precisava resolver a questão com Ândrêa.

Ela, por sua vez, continuava tocando sua vidinha trabalho-casa-trabalho. Ândrêa era designer de superfícies queratinosas, uma profissão que já teve um nome menor e um salário maior. Vez ou outra ouvia alguma piadinha de uma das colegas de salão, mas o mau-humor com que recebia os gracejos deixou claro às demais que aquele assunto não tinha nenhuma graça. Pelo menos para ela.

Macanudo tinha passado dos limites. Ela não sabia como tratar aquilo. Realmente não sabia. Quando se conheceram, ela até via um certo charme na obsessão de Macanudo por tecnologia. Um quê de excentricidade que ela não tinha encontrado em outros relacionamentos. Macanudo nunca tinha lhe dado uma jóia ou um buquê de flores. Ao invés disso, nas datas comemorativas, era normal ela ser presenteada com alguma traquitana eletrônica que tinha acabado de chegar nas prateleiras de Xangai, Seul ou Nova Deli e que ninguém além dele mesmo sabia para que servia. No começo era bonito. Romântico. Diferente. Um tempero. Mas aquele implante na testa tinha ido além de todos os limites. 

Ela precisava de um tempo e tentou explicar algumas vezes à Macanudo, que continuava se fazendo de desentendido.

Ela acabou com a última cliente da tarde. Teria algum tempo livre, que gastava, invariavelmente, jogando conversa fora com as outras colegas que ainda estavam trabalhando. Ela sentou-se ao lado da porta. Aproveitou para observar o movimento na rua, enquanto o assunto gravita ao redor da websérie mais nova. Algo a ver com baratas inteligentes, mudança de sexo e sorvete. Ândrêa até se entretia com esse tipo de história, mas sua cabeça estava em outro lugar. Era um belo dia e ela tinha vontade de sair do trabalho e dar uma caminhada. Talvez pegar um trem-bala e ir até o estado vizinho, em alguma estância turística. Respirar um pouco de ar puro, comprar algumas bugigangas, esfregar os pés num gramado, essas coisas.

Então ela vê Macanudo parado em frente à porta, como uma estátua. Ele lhe mostra seu smartphone novo. Depois aponta para a maçaneta e gesticula com o indicador, pedindo permissão para entrar. 

Como um vampiro. As órbitas de Ândrêa vão de encontro ao teto. Ela inspira e expira. Considera ignorá-lo, mas muda de idéia.

- E aí, Morena?

Mesmo que Ândrêa tivesse um biotipo praticamente eslavo, Macanudo chamava-a assim. No começo, ela pensava que ele queria lhe imputar alguma característica que ela provavelmente não tinha. Depois de algumas sessões de interrogatório, se convenceu da explicação do noivo, que afirmou te escolhido a palavra somente porque foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça quando combinaram de inventar apelidos carinhosos um para o outro.

O sorriso de Macanudo tem algo de sinistro. Ele aparenta estar mais abatido. E há a camada de suor em sua testa.

Ândrêa pensa em elaborar verbalmente o que estava sentindo, mas consegue resumir tudo que estava represando dentro de si numa única palavra, dita, evidentemente, com a linguagem corporal exata.

- Fala...

Macanudo estende seu smartphone em frente ao rosto de Ândrêa. Todas as mulheres dentro do salão passam, dissimuladamente, a prestar atenção na conversa.

- Não sabe o que é isso?

Ela não faz menção de ler a tela.

- Não e nem sei se quero saber. É mais alguma novidade inclusa no maravilhoso contrato que você fez com a Plex?

- Não, Morena! Olha direito!

O Doktor Fritz definia seu estilo como Espiricore. Beta Cândido era o quinto de uma dinastia de vocalistas que tinham em comum os poderes mediúnicos e as vidas curtas. Apesar da reprovação de uma parte significativa da população, o sucesso da banda crescia dia após dia. Beta e os outros antes dele afirmavam que psicografavam as letras das músicas e recebiam espíritos ilustres, desconhecidos e até dos próprios antecessores durante suas performances.

Ver uma apresentação deles era uma experiência única. Eles nunca eram iguais. Nunca. As músicas sempre eram interrompidas pela chegada das entidades, que faziam suas próprias intervenções, fossem homens santos orientais abençoando a platéia, fossem físicos discursando sobre teorias obscuras, fossem donas de casa falando sobre programas de televisão transmitidos cinquenta anos antes. Tudo, nas maioria das vezes, dito, com pronúncia cristalina, em outros idiomas. Independente do que as entidades fizessem (ou não), o público ficava extasiado, procurando sentido naquilo tudo meses depois.
Se tudo era verdade ou apenas um golpe de marketing muito bem perpetrado, ninguém saberia dizer, mas por essas e por outras as entradas para os shows do Doktor Fritz era disputadíssimas, esgotando-se meses antes dos eventos.

Na tela do smartphone de Macanudo estava a mensagem confirmando a compra de duas entradas para o show mais recente deles.

- Nossa, como você conseguiu?

Macanudo exalava auto-confiança.

- Até que não foi tão difícil assim. Claro, tive que mexer meus pauzinhos, mas agora eu sou uma celebridade, cê esqueceu?

O último comentário teve o efeito de uma bateria anti-aérea alvejando a consciência de Ândrêa, que reassume a expressão carrancuda com a qual havia recebido o ex-noivo.

- Pior é que tinha. E tava melhor assim, viu? Olha, Maca, realmente não sei...
Ela cruza os braços e olha para o lado, distante.

- Me dá uma chance, vai - Macanudo suplica.

- Acho que não. A gente já conversou bastante sobre isso. Você fez a sua escolha, e eu fiz a minha. Dá para entender?

- Mas eu já te expliquei! Eu só fiz isso pra gente ter grana para casar logo!

- Maca, o que há de errado em trabalhar para ganhar dinheiro, como uma pessoa normal? Ia demorar? Talvez. Mas a gente ia conseguir. Você não precisava ter feito isso. E podia ter me avisado...

- Ândrêa, cê sabe que eu te amo.

É possível ver que os olhos de Ândrêa ficam molhados. Macanudo fica esperando que a primeira lágrima escorra, para que possa puxar sua ex-noiva para si e dar-lhe um beijo sôfrego, asfixiante, como nas comédias românticas que costumavam assistir. Tudo ia terminar bem.
Ândrêa dá uma fungada, esfrega as mãos nos olhos e diz:

- Tenho que trabalhar, tá?

- Mas...

Ela apenas balança a cabeça, negativamente, esperando que Macanudo se toque e dê o fora dali.

Ele, por sua vez, não consegue pensar em nada melhor para dizer, então:

- Pô, Morena, sabe quanto custaram essas entradas?

- Quase um mês do meu salário.

- Ué! Como você sabe que elas já tão valendo isso?

- Está escrito na sua testa. Tchau...

Ela fecha a porta, vira as costas, e volta ao trabalho.

Ele se segura, mas as lágrimas que deveriam ter escorrido dos olhos da ex-noiva acabam saindo dos seus. Ândrêa desaparece dentro do salão. Algumas das meninas continuam observando-no, de soslaio, mas nenhuma intervém a seu favor. Ninguém vem em seu socorro. Ficar parado ali não vai adiantar nada. Aquela não era a resposta que Macanudo esperava, mas ele tinha um plano B.

GOOGLE ANDROID

Como hard user dos serviços do Oráculo, aconteceu o que eu já imaginava, e gostei do pouco que vi do Android. Resta saber quando vai aportar por aqui.

TERRA INCOGNITA

Revista eletrônica de ficção-científica, no aire.

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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A CORNUCÓPIA RUBRA

Marcio Massula Jr.

Como perdigueiros treinados, os pezinhos descalços procuravam por algum vestígio de sombra no asfalto escaldante. A quarta-feira certamente tinha algo contra os demais dias da semana para estar assim tão ensolarada. Nem parecia que as ruas vinham sendo bombardeadas pelas ninbostratos nos últimos seis dias.

O mais velho seguia na frente, servindo de guia e protetor para as irmãs, que não faziam muita questão de saber onde estavam indo, embora estivessem indo para casa. Apenas iam - confiando cegamente no irmão - distraindo-se aqui e ali com bancos, objetos encontrados no chão, pombas, cachorros e qualquer coisa que suas cabecinhas insistissem em classificar como interessante. Isso, evidente, irritava o irmão, que tinha que intervir verbal e, quando necessário, fisicamente, para que as pequenas não ficassem para trás. E foi num desses rompantes, numa bonita mas mal conservada praça pública, percebendo mais uma vez que não estava sendo acompanhado pelas meninas, que viu o homem pela primeira vez. As meninas caminhavam devagar, em direção ao homem que estava sentado no meio-fio, a cabeça envolvida pelas mãos.

- Onde cês vão? - disse o mais velho, quase sussurrando no ouvido das duas.

- Vamo falá com o Papai Noel! - respondeu a do meio, no mesmo tom de voz, com os olhinhos brilhando.

 - Já falei que Papai Noel é mentira! - retrucou o irmão, meio irritado.

 - Não é não! - interveio a mais nova.

 - Vamo embora as duas! Eu tô mandano! Num tá veno que ele é doido? Olha! Tá até chorano!

- Eu vou falá com o Papai Noel e ponto!  - saiu esbaforida a menor, caminhando a passos pesados e com os bracinhos rijos, o que não deixou de arrancar risinhos da do meio.

O mais velho correu atrás, mas já era tarde para intervir. A mais nova já estava em frente ao homem, a mãozinha estendida, como já tinha sido estendida milhares de vezes.

- Dá um real aí, tio!

O homem parou de soluçar e levantou a cabeça na direção da mais nova, observando aqueles olhinhos como se fossem jóias muito valiosas.

 - Desculpe criança. Não entendi.

- Um real pra eu comprá comida - a mãozinha ainda lá.

O homem enxugava rapidamente as lágrimas, se dando conta só naquele momento de que aquilo poderia ser potencialmente constrangedor para alguém na sua posição. Suas bochechas eram vermelhas, um vermelho vivo, intenso, irreal, como que para combinar com o resto da sua indumentária.

- Então acho que seria melhor eu lhe dar um prato de comida, não?

- Não. Dá um real.

Papai Noel balançou a cabeça, decepcionado. Então notou que a menina não estava desacompanhada.

- Como se chama, meu doce?

- Jéssica - ainda com a mãozinha estendida.

- E quem são aqueles ali? Estão com você? - Papai Noel apontava para os irmãos de Jéssica.

- É meu irmão e minha irmã.

- E quantos anos você tem? Não! Espere! Vou adivinhar...você tem três,  talvez quatro anos (tenho muita experiência nisso), estou certo?

A menina lutou bravamente para que seus dedos indicassem que ela tinha cinco.

- Nossa, tão pequenininha!?! O que dão pra você comer?

- Nada.

- Nada?

- Nada. A mãe num dá nada.

Papai Noel refletiu por instantes. Depois disse, mais para si mesmo:

- O Saco sabe... - e de dentro do seu saco vermelho, sacou um sanduíche impressionante, magnânimo, daqueles vistos apenas em comerciais de cadeias de fast-food, e ofereceu-o à menina, que parecia não ter assimilado a idéia.

- Tome querida! É pra você!

- Pra mim?

- É.

Ela não se fez de rogada ao atacar o sanduíche à dentadas, e aquilo ajudou a dissipar um pouco a imagem recorrente na cabeça de Papai Noel, sobre o acontecido na noite passada Como um homem que costumava se divertir despistando esquadrilhas inteiras de MIGs sobre o estreito de Vladvostok pôde ter se deixado localizar pelo SIVAM (pelo SIVAM!) e, pior ainda, ter sido abatido por um Tucano?

- Quê isso? Tucano? - o rostinho da menina agora fora tomado por uma máscara de condimentos.

- Hã! Nada, querida, nada. Eu devia estar pensando alto. Oh, Rudolph...pobre Rudolph...ainda posso sentir o cheiro dos seus pêlos queimando...

- Dá um real, tio? - ela não desistiria facilmente.

- Chame seus irmãos aqui - Papai Noel apoiava a cabeça numa das mãos enquanto abanava a outra, dando por encerrado o assunto do real.

As crianças aproximaram-se. A do meio empolgada, percebendo que poderia ganhar um presente, como a mais nova. O mais velho desconfiado. Já tinham lhe falado sobre pessoas assim antes e, embora não fosse mais criança, ainda estavam gravadas a fogo em sua memória as diversas versões que ouvira da história do Homem do Saco.

A cor retornara às faces do Papai Noel, e a presença de mais crianças pareceu alegrá-lo.

- Ho-ho-ho! Como se chama, minha jovem?

- Daisy

- E você, meu caro?

O garoto respondeu com a careta mais ameaçadora que conseguiu imaginar.

- Vamos lá, garoto! Eu sou amigo! Vamos, me diga o seu nome!

- É Ródnei - respondeu a mais nova, conseguindo recapturar um pedaço de hambúrguer que ousara tentar a fuga de sua boquinha. Aquilo despertou a fúria de Ródnei, e ele partiu para cima da pequena, que resolveu não esperar para descobrir a reação do irmão e, entre uma mastigada e outra, correu o mais rápido que pôde até alcançar uma distância que considerou segura.

- Ei! Esperem vocês dois! Não precisam brigar por causa disso. Eu só queria saber os nomes de vocês por saber. Venham cá todos - Papai Noel pegou o Saco, deixou-o aberto e enfiou uma das mãos lá dentro.

- Venha cá Daisy. Normalmente eu tomaria essa decisão, mas bati a cabeça, sabe? Pensar está difícil, então vou deixar por conta do Saco. Ele sempre foi melhor do que eu. O Saco sabe... - então surgiu uma caixa colorida, algo quase mágico, como se ela não estivesse lá antes. A menina mal pôde se conter.

- É pra mim?

- Oh, sim! Ho-ho-ho! Claro que esta...”Academia e Centro de Estética da Boneca Babi” é pra você. Veja só! “Com seu próprio cirurgião plástico”!

Mesmo Ródnei não conseguiu evitar uma risadinha assistindo a luta de Daysi para localizar seu centro de gravidade agora que tentava caminhar segurando uma caixa quase do seu tamanho.

- Agora é sua vez, meu jovem. Vamos ver o que o Saco lhe reserva...

Papai Noel conquistou a confiança do garoto, ou uma parte dela. O suficiente para que ele se aproximasse, curioso em saber o que o Saco lhe reservava. Então Papai Noel sacou o conteúdo do Saco e estendeu-lhe ao menino, que deu um salto para trás, certamente assustado.

- Hã? - Papai Noel olhou para sua mão e viu que empunhava e apontava para Ródnei uma pistola moderníssima, pela aparência, fabricada no leste europeu.

- Ah! Agora entendi...não aprovo muito esse tipo de brinquedo, mas se foi isso que o Saco viu, é isso que você quer. Céus, como estão fazendo réplicas perfeitas ultimamente... - Papai Noel aproximou a pistola do rosto para examiná-la melhor, em seguida imitando, à sua maneira, os caubóis americanos, soprando o cano da pistola sucessivas vezes, tentando arrancar um sorriso do garoto e fazê-lo esquecer do susto que tivera há pouco.

- Muito boa mesmo. O que dispara? Água? Bolinhas? - Papai Noel apertou o gatilho e sua pergunta foi respondida com uma rajada de catorze projéteis de chumbo, que desapareceram no céu.

As crianças se jogaram no chão e o próprio Papai Noel caiu, mais pelo susto do que pelo tranco da arma. Ele olhava estarrecido o cano fumegante da pistola, sem entender o que tinha se passado. O Saco também estaria sofrendo os efeitos da queda? Ou, pior ainda, será que o menino realmente queria a arma? Papai Noel arremessou o objeto longe, com nojo, e o gesto reconquistou a confiança das crianças, que dispararam a rir.

- Papai Noel caiu de bunda no chão! - caçoava Daisy

- É de verdade mesmo? - Ródnei estava fascinado, quase em transe, olhando em direção ao lugar onde a arma fora lançada. Então Papai Noel se deu conta. Eles não estavam sozinhos na rua e muitas pessoas ainda corriam, assustadas. Mesmo sob o efeito do impacto, não foi difícil Papai Noel ligar os pontos e presumir o que aconteceria em seguida, mas, para sua surpresa, a polícia chegou muito antes do esperado.

- Mão na cabeça, vagabundo! - era uma viatura da PM, que teria uma chegada digna dos melhores filmes de ação hollywoodianos, não fosse pelo descuido do motorista, que freou bruscamente, fazendo o veículo derrapar e colidir com outros carros parados na rua, dando o tempo necessário para que Papai Noel e as crianças fugissem, sob o disparo de armas de grosso calibre.

Apesar da compleição robusta e da idade muito, muito avançada, décadas e décadas invadindo as residências alheias espremido em chaminés microscópicas, suportando o frio glacial da Lapônia ou o atrito causado por suas viagens hipersônicas deram a Papai Noel o preparo físico de um super-herói. Ele ultrapassou facilmente as crianças e só parou de correr quando se deu conta de que havia abandonado o Saco.

Aquilo nunca tinha acontecido antes, e Papai Noel tremia só de pensar no que poderia ocorrer se o poder do Saco caísse em mãos erradas. Tivera um pequeno vislumbre ao ceder às vontades de um garoto confuso. E o mundo estava repleto de pessoas mal-intencionadas. Ele tinha que reaver o Saco, mesmo que tivesse que enfrentar as autoridades. Se tivesse problemas, o Saco o tiraria deles.

Fez o caminho inverso a passos largos. Não queria chamar (mais) a atenção das pessoas, que agora já deviam estar precavidas contra o Papai Noel Pistoleiro. Então, cruzando uma travessa da avenida na qual se encontrava, viu. Estava nas mãos de Ródnei, que corria sem se importar com as súplicas das irmãs para que as esperasse. Subiu a escadaria que dava acesso ao morro onde eles moravam como um raio, e Papai Noel ficou tranquilo em saber que o Saco estava com alguém conhecido. E nas crianças se podia confiar.

Papai Noel correu atrás deles, acenando.

- Crianças! Crianças! Esperem! Sou eu...

As meninas olharam para trás e pararam, petrificadas. Jéssica começou a chorar. Papai Noel parou para confortá-la, e segurava delicadamente os bracinhos da menina.

- Ho-ho-ho! Não chore, princesa. Vê? Está tudo bem. Ninguém se machucou e tudo não passou de um acidente. Agora, se me dão licença, tenho que pegar o Saco com o irmão de vocês. Acho que ele não me ouviu...continua correndo...se eu não me apressar, vou perdê-lo e tenho muitos compromissos atrasados. Até, meninas!

Papai Noel disparou atrás de Ródnei, tentando não perdê-lo de vista, sempre acenando e gritando seu nome. Mas o garoto parecia não ouvir - teriam os disparos afetado sua audição? - e corria cada vez mais, certamente evitando ter que dar explicações à polícia, pensava Papai Noel.

O problema que o Bom Velhinho enfrentava agora era a geografia labiríntica do local, uma sucessão de becos, muros, ruelas sem-saída e escadarias que não davam em lugar nenhum, e ele apenas não perdeu o garoto de vista por conseguir compensar sua desorientação com uma velocidade superior.
Ele serpenteava pelos corredores estreitos, vez por outra recebendo o olhar atônito dos moradores, que retribuía com um largo sorriso, até que, em uma das muitas áreas abertas pelas quais passou, foi barrado por um homem. Ele estava armado. Papai Noel deu alguns passos para trás, e percebeu que o homem estava acompanhado por outros, também armados. E não eram autoridades. Ou eram?

- Olha só que comédia. Tá doido, velho? Comé que cê sobe o morro assim, sem pedí pra ninguém?

Eram quatro. O mais velho devia ter pouco mais de vinte, e todos apontavam suas armas para ele. Sempre que podia, Papai Noel evitava o conflito direto, e, no caso, achou que dialogar seria a melhor solução. Levantou as mãos, em sinal claro de rendição.

- Ho-ho-ho! Vejam rapazes, eu não sou ameaça para ninguém e...

- Ah, é? Ah, é? Então, quê que cê tá fazeno aqui, ô velho comédia?

- Papai Comédia - emendou outro dos rapazes, fazendo todos caírem na gargalhada.

- E então, Papai Comédia? Num vai falá não? Hã? Num vai falá?

- Eu só...Papai Noel interrompeu-se, tentando soar o mais natural possível. Embora fosse fluente em todos os idiomas criados pela imaginação humana, algumas expressões idiomáticas (principalmente as que não faziam parte do seu contexto) lhe eram difíceis, e ele tentava lembrar a expressão utilizada por um dos rapazes há pouco - ...subi o morro pra pegar uma coisa que é minha e que um garoto, talvez vocês conheçam, Ródnei, está guardando para mim.

Os rapazes entreolharam-se.

- Que Ródnei? O filho do seu Madruga? -inquiriu o líder.

- Acho que não. Esse aí mora lá embaixo - respondeu um dos companheiros.

- Ah, é...tem aquele lá da dona Zilda...

- Quê isso, Boca?!? Já esqueceu que cê passou o cara?

- Ah, é! Só!

Papai Noel observava, aflito, o Saco subindo cada vez mais, ora desaparecendo atrás de uma daquelas construções rústicas, ora surgindo em outra escada ou rampa, subindo e subindo.

- Aquele Ródnei - apontou Papai Noel, tentando evitar movimentos bruscos.

Os quatros viraram-se de uma vez para o local indicado por Papai Noel, cobrindo a parte superior dos olhos com as mãos, tentando definir quem estava por trás do ponto vermelho que ziguezagueava morro acima.

- Tá veno quem é, Sinistro?

- Tô não, Boca...peraí! Parece o Rodinho.

- O Rodinho do seu Roque?

- É.

- Aê, Papai Comédia, o menino é do nosso conceito. Se tá mecheno com ele, tá mecheno com a gente.

Os quatro começaram a se virar ao mesmo tempo. Papai Noel nunca fora entusiasta dos combates, mas naquela situação não via alternativa a não ser optar pelo caminho da espada. Poucos sabiam, mas ele era versado no P’ong-P’o-Chi, uma variante letal do T’ai Chi, conhecida por apenas onze homens na face da Terra.

Foi tudo muito rápido. Os garotos eram jovens e rápidos. Mas estavam próximos e isso deu a vantagem que o velho guerreiro precisava. O que estava à direita chegou a puxar o gatilho, mas Papai Noel antecipou-se, dando um tapa no cano do seu fuzil e a rajada atingiu o peito daquele que eles chamavam de Sinistro. Ao mesmo tempo, sua bota foi de encontro aos genitais do que aparentava ser o mais jovem, que foi ao chão urrando de dor. Numa fração de segundos, um dos punhos de Papai Noel já deslocara o maxilar do líder, Boca, mas o último deles, aquele que tinha atirado no próprio amigo, recobrou-se do choque e preparava outra saraivada de balas, agora com endereço certo.

Mas o Bom Velhinho foi mais rápido e o meliante não conseguiu se esquivar das mãos dele, que era benevolente o bastante para manter pressionada sua carótida e mais um punhado de vasos sanguíneos apenas o tempo suficiente para que a interrupção do fornecimento de oxigênio ao cérebro comprometesse permanentemente apenas as regiões cerebrais responsáveis pela fala e pela locomoção. Era Natal e não havia motivo para tirar injustamente mais uma vida.

Haveria tempo para lamentar o incidente depois. Afinal de contas, eles também tinham sido crianças. Mas sua atitude enérgica tinha um bom motivo. Sabia o que podia sair do Saco, e já tinha visto armas demais naquele dia.

Ele deu tudo de si, desta vez não se preocupando com o que as pessoas pudessem imaginar. Afinal de contas, quem saberia que ele era O Papai Noel? O ponto vermelho continuava sua escalada frenética, mas Papai Noel estava reduzindo a distância entre eles rapidamente. O garoto devia estar perdendo o fôlego. Papai Noel resolveu não gritar, para não atrair mais problemas. Ele teve a impressão de que o garoto olhara de relance e o vira, mas se isso fosse verdade, certamente ele teria parado e entregaria de bom grado o Saco à Papai Noel. Ródnei agora caminhava e virou num corredor que surgiu repentino. Papai Noel diminuiu a velocidade e entrou no corredor, que terminava numa praça microscópica, construída artesanalmente, com certeza pelos próprios moradores que habitavam os quatro barracos - lembrara-se do nome - que a circundavam, e não acreditou no que viu.

Ródnei puxava mais uma arma do Saco, dessa vez uma submetralhadora israelense de última geração. Papai Noel não se conteve e tomou de uma vez a arma e o Saco do garoto, que encolheu-se num canto, esforçando-se para não demonstrar medo.

- Será que não percebe, garoto? Não vê o mal que essas coisas podem fazer? Não viu o que aconteceu hoje? Não viu o que aconteceu ao mundo?

O garoto, ainda encolhido, olhava para baixo, sem dizer nada.

- E então? Não vai dizer nada? Não vai dizer que está arrependido e que no próximo ano vai ser um bom garoto??

- Por quê? - balbuciou o garoto.

- Como assim por quê? Será que aqui os garotos são diferentes até nisso? Não quer ganhar presentes, não?

- Eu nunca ganhei presente e nunca te vi! Cê não existe!

A afirmação teve o efeito de um tiro. Papai Noel ponderou um pouco.

- Tente entender, garoto. Estamos ampliando nossas operações ano-a-ano. Quando comecei, eu mal podia cobrir a área de uma vila, e veja só, hoje já atendo boa parte do Hemisfério Norte ocidental. O que você acha que eu estava fazendo no espaço aéreo do seu país? - Papai Noel interrompeu o discurso, na esperança de que o menino respondesse sua pergunta, mas diante do silêncio dele, não havia opção senão continuar de onde havia parado.

- Estava analisando novas rotas, percebe? O problema hoje é uma questão puramente logística, sabe o que é isso?. Com meus meios de locomoção atuais, é inviável atender a todas as casas do mundo, mas, ho-ho-ho!, isso vai mudar em breve! - Papai Noel abriu um largo sorriso e deu uma piscadela para o garoto. - Estamos desenvolvendo um novo tipo de propulsão. Fica pronta em, segundo os prognósticos dos duendes, em trinta anos. Não é incrível?

- Papai Noel féladaputa - disse o garoto, baixinho.

O rosto do homem transfigurou-se.

- O quê? O quê você disse? - Papai Noel deu três passos em direção ao menino, e esse assumiu uma posição defensiva, já esperando tomar algum tipo de safanão do Espírito Natalino, que percebeu o temor do garoto e, tentando não complicar mais ainda a situação, virou-se e foi embora, nem mesmo se despedindo, apenas imaginando qual seria a maneira mais discreta para retornar ao Pólo Norte.

Assim que percebeu que Papai Noel não oferecia mais risco, Ródnei parou de tremer e soluçar. Era um garoto esperto, esperto demais para sua idade. Sabia que Papai Noel o encontraria e tomaria o Saco de volta. Correra como um louco na tentativa de ganhar alguma distância para que pudesse tirar o que precisava do Saco. Viu como utilizar e achou que seria fácil, como realmente foi. Mas o velho era muito rápido e o alcançou rapidinho. Ele queria tirar uns presentes para si próprio e para seus amigos, mas não deu tempo e Papai Noel tomou a UZI que Sinistro tanto queria e cuja foto ele vira tantas vezes nas várias revistas especializadas que o pessoal da boca deixava espalhadas por lá. Paciência. Pelo menos o dele ele conseguiu tirar. Tirar e esconder num monte de mato próximo, antes que Papai Noel visse.

Foi até lá e, com dificuldade, puxou o fuzil - igualzinho ao de Sinistro - com o qual ele sempre sonhou. Armou o bipé, destravou a arma e ajustou a mira, exatamente como o amigo agora falecido havia ensinado. Uma vez, durante uma troca de tiros com a polícia, Sinistro deixara o garoto efetuar alguns disparos, afirmando, inclusive, que Rodnei tinha conseguido acertar um verme, mas o garoto era modesto e achava que o amigo disse aquilo apenas para agradá-lo.

De qualquer maneira, se lembrava de como fazer tudo direitinho. E ainda dava pra ver o Papai Noel.

Será que conseguiria acertá-lo dali?

MIDRAXE (2004-2006)

O Midraxe foi um e-zine que editei entre 2004 e 2006. Por editar você pode entender " formatar os textos, azucrinar periodicamente os colaboradores e escrever um editorial engraçadinho".

Os zines eram arquivos .rtf enviados através de uma lista do Yahoo. Não era um formato lá muito brilhante, mas até que era legal.

Foram sete edições, que contaram com textos meus e dos escritores Lúcio Manfredi, Rafael Monteiro, Airton Marinho e A. Moraes. Algumas das edições foram temáticas, como a de Sexo (onde saiu S@TYRI.COM) e a de Natal.

Por razões que não vêm ao caso, o e-zine acabou (e esse blog nasceu).

Desenterrei esse material hoje e tava dando umas risadas. Soltar os zines por aí tá fora de cogitação, mas vou (re)publicar mais dois contos meus daquela época: MIDRAXE, que deu nome ao zine, e A CORNUCÓPIA RUBRA, que saiu no especial de Natal.

E até o fim da semana posto a parte 4 de ADSENSELESS.

Abaixo vai o "editorial" da edição 2. E daqui a pouco, segue A CORNUCÓPIA.

Divirtam-se (ou não...).


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MIDRAXE - Em terra de cego, quem lê Midraxe é Rei. 

EDIÇÃO 2 - NOVEMBRO DE 2004

Tudo certo aí, pessoal?

Os retorno dado pelo público à primeira edição foi melhor do que o esperado. O zine rodou o mundo e alguns escribas ilustres dedicaram singelas linhas à nossa publicação. Vejam só:

Uau! Mal posso esperar pra tirar uma foto com esses garotos!
- Thomas Pynchon

Um primor! Enviei algumas coisas ao Márcio e espero sinceramente poder fazer parte desse empreendimento!
- Alan Moore

Eles têm futuro. Prevejo um número de edições semelhante às minhas tiragens. É só perseverar.
- Paulo Coelho

Caralho! É um verdadeiro cataclisma sináptico metafictício!
- Grant Morrison

Tivesse sido lançado 30 anos antes, eu estaria lendo, com certeza.
- Philip K. Dick (com a ajuda de alguns copos d’água, de um velho rádio valvulado e de um exemplar surrado do The complete idiot’s guide to Instrumental Transcomunication)

Na próxima entrevista que der, citarei os piás como uma das minhas novas referências.
- Dalton Trevisan

Gostei muito e escreverei algo sobre eles. Um romance, imagino. A história vai se passar em Nova York. E algum deles vai desaparecer. Acho que é só, por enquanto.
- Paul Auster

Essa molecada é de matar!
- Stephen King

Nessa edição, Lúcio Manfredi (http://malprg.blogs.com/francoatirador), que - presumo - deve ter chorado de emoção com o diálogo final de Waking Life; A. Moraes (http://artificios.blogspot.com), que - presumo - também deve ter chorado de emoção com o diálogo final de Waking Life e eu (http://urobouro.blogspot.com), que chorei de emoção com o diálogo final de Waking Life.

Esse mês teremos uma edição diet, com menos caracteres (acho. Não contei. Se algum de vocês tiver a pachorra de fazer isso, me informe, per favore), mas com o mesmo valor nutritivo.

Divirtam-se.

Marcio Massula Jr

MISTER BOOKSELLER

Hqzinha de 8 páginas, bem legal, escrita por Darko Macan e desenhada por Tihomir Celanovic.

Dica do Pedro Bouça.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A ARTE DE PRODUZIR EFEITO SEM CAUSA

Terminei ontem.

Mutarelli consegue, mais uma vez, tirar leite de pedra. Até faltarem umas trinta páginas para o final do livro, eu ainda tinha JESUS KID como meu preferido, mas quando acabou (ou será que começou?) o Efeito, minha opinião mudou.

Fiquei angustiado. Não há outra palavra. Outro livro que me causou efeito semelhante - e que me vem à cabeça agora - foi COMA, de Alex Garland. Mas em COMA o negócio demorou a bater, e a narrativa só fez efeito (estamos hilários hoje, não?) algum tempo depois. Basicamente, são histórias sobre homens presos dentro das suas próprias cabeças.

A parte gráfica do livro também deixa sua marca e tem o seu porquê. O que a princípio parece apenas um adorno também tem sua função entre as letrinhas.

Dizer mais sobre Efeito (com maíuscula, note) é entregar o ouro, mas quem não gosta de Burroughs, bom sujeito não é. Vale a pena, enfim.

sábado, 6 de setembro de 2008

A MORTE DE ANTÔNIA

Ah, a internet e as sincronicidades...

Tava lendo uns feeds na minha conta do Google Reader (que quase não uso. Prefiro o Bloglines). Linka aqui, clica ali, e vou cair no blog do Thiago Dória, que faz uma entrevista com a escritora gaúcha Carol Bensimon, que até então eu desconhecia.

Num determinado momento, ela revela o plot do seu novo romance, SINUCA EMBAIXO D'ÁGUA:

O Sinuca é um romance sobre uma ausência. Antônia morre num acidente de carro, e algumas pessoas tem que aprender a lidar com isso, cada uma a sua maneira. A narração é alternada sobretudo entre três personagens (mas outros surgem no meio também): Bernardo, melhor amigo de Antônia, um tipo de nerd obsessivo-compulsivo que precisa achar alguma lógica no que aconteceu, e que por isso tenta reconstituir a noite do acidente. Camilo, o irmão de Antônia, adorador de Guns n’ Roses, junkie, que monta e desmonta carros, e que nunca trabalhou um dia na vida. E Polaco, o dono do bar entre o Lago e a casa de Antônia e Camilo, que guarda uma história obscura envolvendo a pequena cidade onde nasceu, história que, em função da morte de Antônia, volta a assombrá-lo.

Achei interessante e já anotei o nome. Ajuda o fato de o livro ter um "making-of" (sim, eu me amarro nessas paradas!), mas o que me assombrou, se posso dizer assim, foram os pontos de tangência do plot dela com um argumento que estou escrevendo. A história trata justamente da morte de uma Antônia e da reação de três pessoas a isso.

Até onde entendi, as coincidências terminam por aí. Além do quê, a morte de uma pessoa SEMPRE muda a vida dos que estão próximos a ela. E claro, há ainda a noosfera.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

INCLUSÃO DIGITAL

(Estou na minha linux-vibe sazonal, então não reparem se ficar muito repetitivo, certo?)

O lance é que a minha esposa comprou um computador novo uns tempos atrás. Sempre temos dois desktops em casa. O dela, e o que costumava ser meu, e que agora é do meu filho. De anos em anos a gente compra um novo, que fica com ela, e o dela passa para mim (agora meu filho), e a gente sempre doa o mais antigo.

A bola da vez foi um Pentium 4 com 512 de RAM e sei-lá quanto de HD. Uma configuração que vai atender a maioria das necessidades de qualquer um que use um computador. E quem recebeu o computador foi uma pessoa que trabalha conosco.

Antes disso, tive que, obviamente, formatar a máquina. Pelo pouco que conversamos, tanto ela quanto os filhos não têm muito contato com computadores. E foi aí que me deu o estalo: por que não?

Uma das maiores barreiras em relação ao Linux são justamente os velhos hábitos dos usuários-padrão, que, até por já terem se habituado com o Windows por anos e anos, não se sentem seguros nem motivados a trocar uma ferramenta que já conhecem relativamente bem por uma na qual terão que aprender bastante coisa.

Enfim, instalei o Ubuntu 8.04, fiz as configurações necessárias: instalei o Flash para que eles pudessm ver vídeos na internet, jogar, etc; troquei o OpenOffice default (em inglês) pelo BrOffice, instalei as fontes default da Microsoft e fiz mais alguns ajustes. A única coisa que não funcionou a contento foi o Compiz. Infelizmente não tive tempo para checar isso, mas do jeito que o micro ficou já estava de bom tamanho.

Detalhe: eu não falei absolutamente nada sobre o sistema operacional. Simplesmente entreguei a máquina.

Como praticamente não fiquei em casa desde que fiz isso, não sei se eles gostaram ou se alguém já arrancou o Ubuntu fora. Na verdade, estou bem curioso. Dentro em breve pergunto e descubro.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

QUERIDO PESSOAL DO BLOGGER...

Eu não sou um spammer nem um bot. Será que vou ter que continuar preenchendo esse catso desse captcha toda vez que for postar no meu blog?

(sim, já notifiquei o blogger diversas vezes).

CONVIDADO

Analogia interessante que o usuário "mlvezie" fez na seção de comentários de um post do Lifehacker:

My feelings for Windows now is that, even thought I've used it for years, and certainly know my way around it, when I use it, I feel like I'm a guest in a friend's home, but when I use Linux, I feel like I'm at home.

Faz sentido.

DE VOLTA AO DUAL-BOOT

Pois é. Quase um mês depois de dar início ao meu “Experimento U”, me vi sem saída e acabei tendo que retornar ao bom e velho XP. Ou melhor, ao bom e velho dual-boot.

Como já disse antes, não partilho do mesmo ódio patológico que certos usuários têm por programas pagos. Num caso como esse, costumo ver as coisas de maneira mais pragmática. Há sim um componente ideológico na minha predileção por programas de código aberto, mas ela se deve muito mais à praticidade da coisa toda. Posso instalar, desinstalar e fazer o diabo sem ter que me preocupar com chaves de autorização, validações pela internet e por aí vai. Posso distribuir para amigos e colegas de trabalho. Além disso, o desenvolvimento dos programas é mais rápido. E, normalmente, eles fazem tudo o que eu preciso.

Contudo, a minha área de trabalho exige uma grande quantidade de programas que são concebidos para trabalharem exclusivamente no Windows. Alguns rodaram bem no Wine, outros não. No caso desses que não rodaram, consegui fazer algumas substituições com soluções “de próprio punho”, mas elas não me atenderam a contento.

Então resolvi voltar ao dual-boot. Se vocês leram o post que linkei no primeiro parágrafo, devemter percebido que a intenção não era largar do Windows de vez, mas apenas ter uma idéia de como seria a experiência. Particularmente, eu gostei. Mas, afinal, ainda há meu ganha-pão.

Antes de voltar ao dual-boot, tentei a virtualização, mas o VirtualBox (que tem versão nova sendo lançada hoje, aliás) não funcionou tão redondinho quanto imaginei e não tenho o tempo necessário para vasculhar fóruns e site em busca das resoluções dos meus problemas com ele. Prefiro tentar resolver esse assunto com calma, sem pressão.

Obviamente, não sou tão trouxa para queimar meu filme com um cliente por causa das minhas preferências pessoais, então fiz isso sabendo que:

a) havia um velho desktop no meu local de trabalho atual que poderia me ajudar – e ajudaram - nesses dias.

b) havia amigos com laptops com Windows, que poderiam me ajudar – e ajudaram - nesses dias.

O Ubuntu não se mostrou adequado para algumas atividades do meu trabalho, mas de maneira alguma eu penso em largá-lo, muito pelo contrário, mesmo porque, uma coisa não exclui a outra. Ter o Windows instalado no computador não significa que ele é mais ou menos importante que outros SO's que estejam lá. É simplesmente uma questão de necessidade. Para uma situação específica, eu tenho o SO e as ferramentas específicas, para outra, tenho outros. Ponto.

Então as coisa ficaram assim: XP e Ubuntu para o trabalho, numa proporção de 70/30, e Ubuntu para todo o resto.