segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Escrevendo roteiros de quadrinhos em smartphones


Ray Spass, se preparando para continuar escrevendo seu roteiro (cinematográfico) em seu celular.
Annihilator 4, Grant Morrison e Frazer Irving.

Um livro, ou no nosso caso, um roteiro, pode ser escrito em um caderno, uma caderneta, um computador, um notebook, um tablet ou mesmo num smartphone.

(Tem gente que escreve em guardanapos também, mas não é o escopo desse post :P )

Ultimamente, existem apenas dois objetos que ficam nos meus bolsos praticamente o dia inteiro: minha carteira e meu smartphone, sendo que algumas vezes é apenas o smartphone.

Minhas leituras também estão concentradas em alguns poucos aplicativos que estão... no meu smartphone.

Na grande maioria das vezes, meu acesso à internet é feito através do meu smartphone.

Enfim, passo muito tempo com esses aparelhinho por perto.

Por outro lado, tenho uma vida um pouco atribulada: crianças pequenas e um trabalho com horários estranhos e que me faz viajar bastante. Fica difícil programar a minha "hora de escrever".

Roteiros de hq, pelo menos do jeito que escrevo, com divisão de páginas e painéis, são documentos segmentados. Podem ir sendo construídos aos poucos. Um painel aqui, um diálogo ali. O importante é não perder o ritmo.

E já que estamos condicionados a passar bastante tempo teclando em smartphones, por que não tentar unir o útil ao agradável?

Se não me engano, foi o roteirista brasileiro David França Mendes quem disse que o melhor programa de escrita é aquele que te mantém escrevendo.

Qualquer aplicativo pode ser utilizado: Google Docs, Simplenote, iA Writer, Microsoft Word, Evernote ou mesmo o bloco de notas do seu celular.

Mas penso que duas características devem ser levadas em conta:

  • Algum tipo de sincronização com a "nuvem", porque smartphones são equipamentos com alta probabilidade de quebra/desaparecimento.
  • Funcionar offline.
Eu uso o Quip.

É meio estranho tentar explicar como ele funciona, mas poderíamos dizer que é uma mistura de Office com WhatsApp.

Gosto do Quip porque:

  • É muiltiplataforma (Android, iOS, macOS, Web e Windows).
  • Funciona bem em um smartphone.
  • Funciona bem em desktops/notebooks, tanto via browser quando via clientes nativos.
  • Tem sincronização com a "nuvem", mas...
  • Funciona bem offline (com algumas poucas limitações).
  • Permite a inserção de elementos como links, imagens, tabelas, checklists e listas.
  • Permite que o roteiro seja rapidamente exportado para .docx ou .pdf, no próprio smartphone.
  • Permite que documentos sejam linkados entre si.
  • Caso o desenhista também use o Quip, ele pode ter acesso a um "diff" do documento, vendo o que foi alterado.
  • Ainda dentro da possibilidade do desenhista usar o Quip, também existe uma ferramenta de bate-papo/mensagem que cria uma conversa que fica amarrada àquele documento específico.
  • Interface bonita e simples.
Há alguns pequenos detalhes que me incomodam, mas para efeitos desse artigo, o principal “contra” é o fato dele ser um aplicativo pesadão, tanto em processamento quanto em espaço ocupado no dispositivo. Aparelhos Android mais modestos vão ter dificuldade para rodá-lo, se rodarem.

Voltando ao roteiro, tudo começa a partir de um modelo, criado no próprio Quip, que é duplicado, renomeado, e ajustado conforme necessidade.

Links, imagens, notas e a própria escaleta são colocados dentro do roteiro, e vão sendo reorganizados/absorvidos à medida em que o ele é construído.

Embora no Quip seja fácil criar links entre documentos, evito ficar criando arquivos diferentes para armazenar anotações, visto que a multitarefa não é exatamente uma prioridade no design de sistemas operacionais móveis.

Embora eu já tenha tentado usar tecladinhos bluetooth e outros apetrechos, hoje em dia não fico esquentando a cabeça com isso. A partir do momento em que se faz necessário levar outros acessórios, o lance de escrever com um negócio que cabe no seu bolso perde o sentido.

A escrita no celular é a fase do output. É onde a ideia tem que ser expelida o quanto antes da cabeça, para que não desapareça.

Depois, obviamente, é necessário revisar o texto no aconchego de um teclado e monitor normais.

Sinceramente, não sei qual seriam os limites desse método.

Estou escrevendo uma hq de vinte páginas assim, e acho pouco provável que um roteiro mais extenso pudesse ser composto dessa maneira, a despeito de alguns casos como o do escritor Taiyo Fujii, que afirma ter escrito boa parte de seu primeiro romance em seu iPhone.

Mas como levo a sério a 1º LEI DA EXEQUIBILIDADE QUADRINÍSTICA BRASILEIRA, acredito que ainda vou escrever muitos roteiros no meu smartphone. :D

RESUMINDO:

  • Um aplicativo que te mantenha escrevendo.
  • Um modelo (template) para agilizar um pouco as coisas.
  • Uma escaleta (outline) para servir de mapa.
  • Um jeito fácil e rápido para sincronizar com um "computador de verdade", para não sair do fluxo.

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