quinta-feira, 26 de julho de 2007

O BROFFICE E O USUÁRIO FINAL


Antes de começar, duas observações:

  1. leve em consideração que estou falando como um usuário do Windows e,

  2. Para facilitar as coisas, vou me referir ao programa, tanto em sua versão nacional (BrOffice), como em sua versão internacional (OpenOffice), apenas como BrOffice, certo?

Dia desses, entrei no Orkut em busca de uma informação sobre o BrOffice e, como não a encontrei nas duas comunidades sobre o assunto das quais participo, fiz uma busca e fiquei impressionado com a quantidade de comunidades do tipo “Odeio o BrOffice” que encontrei. Quantidade maior, inclusive, do que a de comunidades favoráveis ao software.

Eu, que aos poucos estou migrando do Microsoft Office para o BrOffice, fiquei curioso com o motivo de tanta ojeriza e resolvi pesquisar.

Algumas coisas que notei foram: embora o número de comunidades seja maior, o número de membros nessas comunidades é bem menor. A maioria delas está abandonada, e algumas chegam ao ponto de não ter nenhum post relativo ao assunto. Mesmo naquelas onde há atividade, a maioria dos posts é de dois anos atrás, quando o BrOffice ainda estava nas versões 1.alguma_coisa, e era realmente instável e pentelho.

Mas a interseção mais interessante de todos os depoimentos e posts que li talvez seja a seguinte: a grande maioria foi OBRIGADA a migrar de um pacote para o outro, tenha sido na empresa ou na escola.

E aí é que tá. As empresas dão o treinamento (quando dão), e migram o mais rápido possível. E a questão, que deveria ser também cultural, fica só no plano funcional, ou seja, economizar.
Ao que parece, não há uma preocupação em conscientizar o usuário final sobre a utilização de software livre e o “porquê” da mudança acaba se restringindo apenas à economia em si, o que inclusive pode até dar mais carga ao preconceito de que o BrOffice é pior do que o MS Office. Sim, porque na cabeça da maioria das pessoas impera o paradigma “o que é mais barato, é pior” (ainda mais quando o dinheiro não vai sair do bolso delas). Então, o que dizer de um produto que é gratuito?

Obviamente, uma empresa é uma instituição que visa o lucro, que vem também da redução de gastos. Mas de quê adianta economizar com licenças se você vai perder em produtividade porque não apresentou devidamente a nova ferramenta a quem vai realmente utilizá-la?

Mudanças nos padrões de trabalho não irritam apenas usuários de pacotes de escritório. É um fenômeno que acredito ser universal e eu, que sempre trabalhei na indústria, sei muito bem disso. E para cada pessoa que gosta de descobrir novos métodos, há dez que sentem calafrios quando ficam sabendo que terão de executar de maneira diferente a mesma tarefa com a qual já estavam acostumados há anos. E, claro, sempre há a chefia, que em boa parte das vezes não entende o processos de mudança e as pequenas quedas no desempenho que os acompanham.

Ainda por cima, no caso específico do BrOffice, há toda uma legião de usuários fundamentalistas que não pensam duas vezes em esculachar quem ousa falar bem do MS Office ou questionar o BrOffice. E, podem ter certeza, isso espanta muita gente, que acaba deixando de experimentar o produto por pirraça, pura e simples.

Como eu disse antes, é também uma questão cultural.

Um produto não é pior do que o outro. Eles são diferentes.

E o BrOffice não é concorrente do MS Office, pelo menos não no sentido comercial do termo, uma vez que ele é GRATUITO. Cá pra nós, acho que a Microsoft vai focar seus esforços cada vez mais nos clientes corporativos, que são os que realmente pagam.

Eu não tenho a birra que a maioria dos usuários de SL têm da Microsoft, e acho que dizer que o MS Office é ruim é um despropósito sem tamanho. Ele não é ruim. Ele é muito bom. Mas é caro. Muio caro. Ponto.

Assim como o Office da Microsoft tem dezenas de recursos que não têm paralelo no BrOffice, a recíproca é verdadeira e este também possui alguns recursos que o primeiro não tem, além de ser constantemente atualizado. A questão é o usuário conhecer suas necessidades e a partir daí descobrir qual software se adequa a seu perfil.

E quando me refiro a usuários, incluo aqueles que só sentam na frente do computador ocasionalmente, para digitar um currículo ou fazer uma planilha com o orçamento doméstico. Para esse tipo de usuário em especial, não vejo necessidade nenhuma de se pagar uma nota por um pacote de escritório, e muito menos ficar utilizando software pirata.

“Ah, mas eu sempre uso Macros no meu trabalho?”

Bom, quando se trata de trabalho, o buraco é mais embaixo, mas também não é o fim do mundo. A versão Enterprise do StarOffice 8 (o irmão comercial do BrOffice), por exemplo, vem com um tradutor de macros, que converte do VBA para o StarBasic(/OOoBasic), e também com o Analyzis Wizard, que verifica qual é a compatibilidade que um documento gerado no MS Office tem com o StarOffice. Por outro lado, a Novell, em conjunto com a Sun, está desenvolvendo um compilador de macros escritas em VBA para a sua versão do BrOffice. E eu acredito que é questão de tempo até que esses recursos sejam incorporado no BrOffice.

A Sun também está desenvolvendo plugins para que o MS Office abra e edite os arquivos ODF. Por enquanto está disponível um que só traduz arquivos de texto (para baixá-lo do site da Sun é necessário cadastro, mas já vi ele disponível em outros sites de download).

Outro ponto importante a salientar é que, apesar da compatibilidade – recurso muitas vezes apontado como o maior trunfo do programa pelos próprios usuários - , o BrOffice não foi desenvolvido para gerar arquivos nos formatos do MS Office. A compatibilidade é apenas uma das vantagens do programa oferece, mas não é sua finalidade principal. O BrOffice, que após a versão 2.0 passou a gerar arquivos no padrão ODF, vai oferecer muito mais ao usuário trabalhando em seu formato nativo.

Além disso, outra coisa que também passa batido na maioria dos processos de migração é que a adoção do BrOffice não significa o divórcio com o MS Office. Os dois podem trabalhar na mesmas máquinas perfeitamente, ao mesmo tempo, sem que haja qualquer tipo de conflito.

Numa empresa grande seria realmente complicado gerenciar esse tipo convivência no início do processo de migração. Mas depois, à medida em que os usuários fossem se habituando ao novo programa, ao mesmo tempo que o setor de TI fosse descomissionando o antigo aos poucos, as engrenagens voltariam a girar.


Vou citar o meu caso.

Eu sou autônomo e uso o meu computador para trabalhar.

Tenho o BrOffice instalado nos meus micros desde as primeiras versões, mas sempre o considerei mais uma extravagância do que uma ferramenta funcional. Vez ou outra eu escrevia alguma bobagem no Writer, mais por causa da minha tara por editores de texto do que por outra razão que envolvesse as possibilidades do programa (e dos outros aplicativos), e acabava esquecendo-o de novo. Por mais simpático que eu fosse (e seja!) à filosofia do Open Source, eu não via motivo para deixar de lado o MS Office com o qual já trabalhava havia tanto tempo. Só comecei a utilizar o programa, efetivamente, a partir da versão 2.0, onde as mudanças foram consideráveis e o produto começou a se mostrar bem mais atraente. Hoje em dia eu utilizo os dois, dependendo das circunstancias. Ainda tenho o Office 2003 instalado no meu micro e não pretendo me desfazer dele, assim como não tenho intenção de migrar para o 2007.

Com os meus documentos, eu procedo assim:

TRABALHO: faço tudo no MS Office. A ressalva fica quando, por exemplo, eu não preciso enviar o original ao cliente (como no caso de uns pequenos manuais que andei fazendo recentemente). Aí faço no BrOffice, exporto para PDF e depois envio para o cliente. Mas isso, por enquanto, é pouco frequente.

EU: meus documentos particulares, sejam posts, cartas, contratinhos, listas, contos ou o que mais rolar, faço no BrOffice.

O MS Office ainda ganha, mas única e exclusivamente por causa do meu trabalho. A minha preferência pessoal está cada vez mais inclinada ao BrOffice, sem perspectivas de que isso mude.

Então fica a dica: instale o BrOffice em seu micro, brinque com ele de vez em quando, e quem sabe você também não resolve torná-lo seu pacote de escritório default, hein?

Um comentário:

  1. valeu, Massula!

    vai ver o post não apareceu porque eu editei uma vez, acho. não sei.

    cara, antes eu tivesse tomado umas bombas, um sol e virado bruno surfistinho.

    pelo menos estaria mais sussa de grana. hehe

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