terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

TÊXTILFILIA

HISTORINHA NOVA!

Seguinte galera, vai aí a primeira parte da história TÊXTILFILIA. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência, ok? Dêem uma olhada e me digam o que acham.
Obs.: o texto está sem revisão.

TÊXTILFILIA
Ou
A arte de deflorar almofadas, toalhas e outras cositas felpudas

Já deve ter acontecido com você. Ou melhor, você já deve ter tido um. Um poodle, quero dizer. Confesso que, a primeira vem em que o vi, gostei do bichinho. Uma bolinha de pelo tão pequena, inocente até, que seria impossível não despertar pelo menos uma pontinha de ternura em qualquer coração.
Obviamente, esta observação fica entre nós.
Enfim, me lembro dele ainda filhote, brincando, tentando parecer perigoso com rosnados que não assustariam nem uma formiga. Me lembro das primeiras vezes em que limpei sua urina e as minúsculas bolinhas de merda que ele deixava pela casa. Como se fosse hoje.
Ele cresceu, ficou mais esperto, aprendeu – de maneira totalmente autodidata – um repertório de truques muitas vezes desagradáveis, mas mesmo assim engraçados. Como tentar enterrar um biscoito ou outra guloseima qualquer que conseguia roubar nos vasos das plantas. Como pegar uma meia suja e quentinha, que acabara de sair de dentro dos meus sapatos após um dia inteiro de trabalho, e ficar se debatendo com ela pela casa toda, lembrando aqueles religiosos filipinos que se auto-flagelam durante a Páscoa (ou seria o Natal?). Me intrigava qual o barato daquilo, mas rapidamente me convenci de que, mais ridículo do que um poodle ficar se auto-flagelando com uma meia fedorenta, era o fato do dono procurar um sentido naquilo. Ele era um cachorro oras! Eles não ficam cheirando as bundas uns dos outros?
A propósito, batizei-o de Puto. Pronuncia-se “Putôu”, um trocadilho evidente, do qual só eu mesmo achava graça.
Um dia, chegando em casa e abrindo a porta, fui recepcionado com abanadas frenéticas do seu rabicó, seguidas de um jato de urina que molhou meus sapatos e minha calça. Gritei “mas que merda é essa Puto?”, e por breves momentos esqueci do líquido quente que escorria por minhas pernas. Tinha achado graça da minha própria pergunta. Claro que não era merda. Sacou o lance?...Hmmm, bem, como havia dito antes, foram breves momentos. Esbravejei e ameacei dar-lhe uns sopapos, mas o malandro já havia se escondido embaixo da cama. Não liguei muito, afinal tinha ficado mais tempo fora do que de costume, e alguns amigos que também possuíam uma daquelas pestinhas disseram que isso era normal. Ok, pensei comigo. Talvez, quando eu ficar muito tempo fora de casa, isso possa realmente acontecer. Tudo bem. É o preço que se paga por se morar sozinho criando um cachorro num apartamento. Mal sabia eu que aquele seria apenas o começo de um ritual diário regado a urina de cachorro. Tinha que sair dez minutos pra comprar um pãozinho? Tome mijada! Ir buscar as correspondências na portaria? Tome mijada! O simples fato de colocar os pés para fora do meu apartamento me tornava, automática e indeferidamente, o alvo de sua infalível pontaria. Nenhum dos subterfúgios criados por mim adiantou. Tentei de tudo. Premiá-lo com essas comidas caninas que custam o olho da cara, caso não mijasse em mim, por exemplo. Fracasso total, já que eu esperava um dia SEM urina para presentear-lhe pela primeira vez. Esse dia, claro, nunca existiu. Depois, fiz do bordão “se não vai por bem vai por mal” meu lema, e apelei para as boas e velhas palmadas. Também não adiantou. Ou ele conseguia fugir, escondendo-se embaixo da cama e me vencendo pelo cansaço, ou ele se (e me) mijava ainda mais quando apanhava. Por último, tentei várias técnicas de esquiva, todas fracassando, dada a agilidade superior do meu - então - antagonista. Uma vez, o bicho teve a manha de me alvejar na frente dos vizinhos. Viado! Por sugestão de amigos, procurei um veterinário “alternativo”, ou holístico, sei lá. Grande coisa! O picareta teve a coragem de me dizer que Puto estava estressado! Estressado estava eu!

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