segunda-feira, 9 de agosto de 2004

IRREVERSÍVEL

Fiquei sabendo desse filme no começo do ano passado aqui. E já aviso: caso você se interesse em assisti-lo, não leia essa coluna que eu linkei. Bem escrita, mas com spoilers demais.

Estamos assumindo aqui que a motivação básica de uma obra de arte (ou produto industrializado para entreter as massas, dependendo do seu ponto de vista) é despertar sensações, sejam elas quais forem. E se mantivermos esse postulado na cabeça, teremos que admitir que esse filme cumpre bem o seu papel, embora a palavra “gostar” fique estranha no contexto. É esquisito dizer que gostou de algo que o incomodou.

Tudo ali foi construído pra desconcertar o espectador, desde a câmera frenética até a trilha sonora. Começamos num clube para gays-sadomasoquistas, chamado Rectum, que parece um cenário refugado dos primeiros Hellraisers. Dois homens saem presos, um deles numa maca, com o braço quebrado. Daí vamos descobrindo, aos poucos, o que levou àquela situação. A história é contada de trás pra frente, como o AMNÉSIA, mas de maneira menos labiríntica. Esse filme fez certo estardalhaço na época do lançamento – fins de 2002, se não me engano – por ter duas cenas especialmente brutais. O preciosismo do diretor Gaspar Noe foi tanto que só vendo o making-of dos efeitos especiais fui descobrir um detalhe que acredito que 90% dos outros espectadores também não perceberam quando assistiram o filme. Um detalhe presente em uma das tais cenas polêmicas e que poderia ser totalmente obliterado sem que ferisse a narrativa. Mas está lá.

O mais interessante é que, mesmo estapeando a cara dos espectadores em menos de uma hora, Noe consegue dar uma amenizada em tudo nos últimos 30 minutos do filme com algumas cenas realmente bonitas. Claro, depois que o filme termina, você percebe que o final feliz na verdade é o começo de tudo, então a história acabou mal, muito mal. Mas a ciência disso só vem depois, e o aperto no estômago é maior. Não sou de empatizar muito com seres fictícios, mas aqui ficou impossível permanecer incólume. Engenharia dramática perfeita. Palmas para todos os envolvidos.

Apenas para estômagos fortes.

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