sexta-feira, 25 de julho de 2008

PREPARANDO A MIGRAÇÃO, OU AINDA, O “EXPERIMENTO U”.

Sempre fui entusiasta do Software de Código Aberto (porque sabemos, o termo “Livre” dá muito o que falar), e sempre brinquei o Linux, mas a verdade é que só comecei a considerar a adoção *definitiva* dele como meu sistema operacional principal de uns meses para cá.
A barreira é, evidentemente, o trabalho. Muitos softwares que uso são bastante específicos, não tendo versões open-source ou mesmo compatíveis com outros sistemas operacionais que não o próprio Windows. E antes que algum engraçadinho tenha a idéia: não, eu não vou mudar de profissão.
Numa migração, a primeira coisa a se levar em conta é a real necessidade do computador. Para que ele serve? Quais são os programas realmente necessários?
O primeiro passo que dei foi avaliar outras distros que poderiam atender aos meus objetivos. Passei semanas baixando live-cds e testando várias delas, desde as mais famosas, até as mais obscuras. Mas já uso o Ubuntu há um bom tempo, e sempre tive uma queda por ele. Acabei achando melhor não mexer em time que está ganhando. A título de curiosidade, também uso o Slax num pen-drive/canivete-suíço de 8Gb que azeitei com outros aplicativos. Mais sobre isso depois.
No meu caso, mesmo utilizando o Windows, costumo, sempre que possível, dar preferência a softwares livres. Então meu pacote de escritório é o OpenOffice (na verdade, o Go-OO, uma versão com algumas - poucas - melhorias), meu browser é o Firefox, meu editor de textos é o Notepad++ e assim por diante. A grande maioria dos programas tem versões funcionais para o Ubuntu. E alguns, como o Notepad++, que são exclusivos para Windows, rodam facilmente via Wine.
Os programas de uso “normal” são seriam problema. Também conheço um bom número de programas específicos que têm seus equivalentes no Linux. De qualquer maneira, preparei uma lista para confrontar os programas que uso no Janelas e os que eu vou usar no Ubuntu.
Contudo, isso ainda não resolveria meu problema, que é o de poder continuar utilizando os programas de trabalho, e que costumam mudar de projeto para projeto.
Notem que estou evitando a todo custo o dual-boot (que já uso, a propósito), por ser contraproducente na hora do trabalho. Se eu tiver que ficar reiniciando o micro 20 vezes por dia, deixo as coisas como estão.
Mais uma vez, recorri ao Wine. Obtive bons resultados com alguns programas, resultados medianos com outros e há um terceiro grupo que simplesmente não funcionou. Nesse caso, a opção seria apelar para a virtualização. Particularmente, gosto da VirtualBox, que também já utilizei no Windows. Mas o problema de máquinas virtuais é que, a menos que haja uma boa quantidade de memória RAM (2Gb ou mais, que não é o meu caso.) o desempenho - tanto do sistema hospedeiro como do sistema virtualizado - costuma despencar. E voltamos ao ponto exposto na última frase do parágrafo anterior. Se eu tiver que continuar usando o Windows, deixo as coisas como estão.
Então resolvi fazer um experimento. Semana que vem formato meu laptop, e vou tentar ficar 20 dias sem o Windows, aconteça o que acontecer. Tenho plena ciência de que as coisas vão se complicar vez ou outra. Mas a verdadeira questão é: vão se complicar quanto?
E, na pior das hipóteses, há um plano de contingência, que envolve aquele pen-drive sobre o qual falei lá em cima.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

ADSENSELESS - PARTE 3, E NOVA HQ PUBLICADA.

Duas coisas:

1) ADSENSELESS - Parte 3, está disponível para leitura lá no TXT.

2) Uma hq escrita por mim foi exumada e será publicada na edição 48 da revista pernambucana Prismarte. Mais detalhes aqui.

ADSENSELESS - Parte 3

Márcio Massula Jr.

O naco dentro da boca de Chico tem calorias suficientes para sustentar uma criança por uma semana. Mesmo assim, a maçaroca de pão, carne sintética, legumes transgênicos e condimentos desaparece garganta abaixo antes que suas papilas gustativas tenham notícia do sabor daquilo tudo. Ao que parece, para Chico mastigar a comida é apenas uma formalidade, que ele não faz muita questão de cumprir.

Apesar de já se terem passado alguns dias, Macanudo ainda chama atenção. Vez ou outra algum dos clientes da lanchonete pára e pergunta: “Ei, você não é aquele cara da Googolplex?”. Nas primeiras vezes, ele respondia com convicção, fazia valer o treinamento, mas esse não era um momento. Tratava de um assunto importante, e quando uma menina pediu para tirar uma foto ao seu lado, o máximo que consegui produzir foi um esgar com o cantos dos lábios. Um arremedo de sorriso. Ele está preocupado.

- Chico, ela disse que não quer falar comigo!

Chico ainda está concentrado em sua comida. Ele vasculha o interior do sanduíche com a ponta do dedo indicador, como se procurasse encontrar algo que não deveria estar lá.

- Cara, ela abriu uma comunidade no TRUKO, sabia? “Eu odeio a Googolplex!”. E eu, como fico nessa, cara?

O indicador de Chico continua a prospectar o sanduíche.

- Maca, não acredito que você fez isso. Sério mesmo. Seu pai era um lóki, sua avô também, e, cá pra nós, sempre te achei meio esquisitinho. Mas gosto de você assim mesmo, cê sabe, né? Eu até me empolguei quando um carinha lá da Plex comentou sobre o programa comigo, mas nunca ia imaginar que meu melhor amigo ia se meter nessa. Não mesmo.

Chico tira uma fatia de picles e coloca sobre a mesa. Em seguida abocanha mais uma parte do sanduíche.

- Ué! Mas, de todo mundo, você é o que mais deveria estar feliz com o que eu fiz!

- Maca, eu sou um Tecnólogo, não um tecnófilo pervertido como você. E feliz não é exatamente a palavra. Curioso, talvez. Mas uma coisa é o fato de eu gostar de tecnologia. Outra é o fato de gostar de você estar servindo de cobaia pra testar tecnologia, percebe?

- Ok. Mas isso ainda não resolve meu problema. Eu fiz isso para me casar com ela. E ela nem quer me ver!

- Bom, talvez as coisas estivessem melhores se você tivesse avisado que ia implantar um dispositivo de publicidade semântica na testa ao invés de ter dito que ia pescar. E comigo!

- Foi mal, cara. Mas eu tinha que fazer isso. Se dissesse que ia participar do programa, ela ia protestar, com certeza.

- E você achou que aparecer com a testa cintilando preços de panelas e cursos de pós-graduação ia mudar a opinião dela, né?

- Achei que ela fosse entender...

- Não entendeu.

- Pois é...

- Isso aí é por tempo limitado, né?

- É.

- Quanto?

- Não posso comentar. Está no contrato.

- Presumo que seja muito tempo, então...

- Em virtude das circunstâncias, acho que agora é. Temos que resolver isso, Chico?

- Você e a Ândrêa, né?

- Não, cara! Eu e você!

- Fala baixo, viado! Tá querendo me comprometer? E que história é essa de eu e você?

- Ué? Você não vai me ajudar a resolver essa parada?

- Eu?

- Pô, Chico! Você é meu melhor amigo. Pra quem eu posso pedir ajuda?

- Pro seu bom-senso, talvez?

- Tá bom. Pode pisar em cima. Mas pense aí num jeito de me dar uma força, vai.
Uma jovem com feições asiáticas, na casa dos vinte e poucos, senta-se ao lado de Macanudo, sem ao menos ter a preocupação de se apresentar. Ela tem os cabelos pintados num tom de vermelho que é uma declaração de guerra à visão de qualquer pessoa dentro do recinto. Suas roupas são volumosas, e de cores tão berrantes quanto a do cabelo. Ela parece saída de algum anime. Macanudo fica surpreso, enquanto Chico tenta divisar alguma das curvas do seu corpo, bem escondidas sobre toda aquela quantidade de tecido.

Do outro lado do restaurante, outra moça, com roupas igualmente exóticas, bate uma sequência de fotos com um smartphone, enquanto a menina dos cabelos vermelhos estica o indicador e o dedo-médio em V. Antes que Macanudo possa formular algum protesto, ela agradece, se levanta, cruza o restaurante, pega o celular que estava na mão de uma amiga, confere as fotos, dá umas risadinhas, pressiona algumas teclas e ambas saem pela porta.

Chico começa a rir.

- Se acostume, cara. Agora você é uma celebridade.

- Pior é que não vou receber nenhum centavo por essa publicidade.

As risadas de Chico se transformam em gargalhadas.

- Maca, só você mesmo pra pensar numa coisa dessas. Cê é um figura mesmo.

- Não sei porque, mas algo me diz que cometi uma burrada ao entrar nessa.

- Só agora você percebeu?

- Valeu mesmo, Chico.

Chico ameaça fazer mais um comentário espirituoso, mas detém a fala. Ele olha fixamente para Macanudo, que estranha a fixação súbita do amigo.

- Maca, essa parada tá gravando a nossa conversa?

- Sim.

- E tá filmando meu rosto?

- Também.

- Ou seja, como se eles já não tivessem bastante informação, a Plex está coletando mais dados a meu respeito. E sem a minha permissão.

Macanudo assume um ar grave.

- Não! Nada disso! Esses dados são coletados apenas para filtrar os anúncios. Eles nunca vão usar isso. Os dados são apagados após 30 segundos após o fim da conversa. Está no manual.

Chico se aproxima mais. Chama Macanudo com o indicador. Olha para os lados e certifica-se que ninguém está prestando atenção.

- Isso é o que eles querem que você pense - diz, num sussurro.

- Sério mesmo?

Chico dá um tapa de leve no queixo de Macanudo, que não esperava por essa reação do amigo e reage 
de maneira desproporcional, atirando-se para trás e derrubando seu copo de refrigerante.

- Claro que não, seu mané! Tava parafraseando um filme das antigas que gosto muito. Cê não sabe o quanto eu esperei pra poder dizer isso.

- Olha a bagunça que você fez.

- Que você fez, Maca. Mas, peraí...

Chico levanta-se e segura a cabeça do amigo com as duas mãos. Seu olhar é severo. Não parece estar brincando agora. Analisa a tarja por alguns segundos. Resolve falar, por fim.

- Caralho, olhas os preços disso!

sexta-feira, 4 de julho de 2008