quarta-feira, 9 de maio de 2007

ATÉ O DIA EM QUE O CÃO MORREU




Tenho aqui uma edição autografada de DENTES GUARDADOS, o primeiro livro (auto-) publicado de Daniel Galera e, na época que li, não me causou a melhor das impressões. Ele escrevia bem, mas, como direi?, não me tocou. Na época, minha bússola literária apontava na direção de seus comparsas de Livros do Mal, Pellizzari e Benvenutti.
Daí, foi até natural eu não me interessar tanto assim por ATÉ O DIA EM QUE O CÃO MORREU na primeira vez que foi lançado, nos idos de 2003, pela LdM. Cheguei a enviar um email para eles, tempos depois, querendo saber como adquirir este e outros livros do catálogo que eu ainda não tinha, mas o email não foi respondido e acabei deixando o assunto de lado.
Ano passado, calhou de eu estar na região metropolitana de Porto Alegre justamente no dia do lançamento local de MÃOS DE CAVALO. Como disse acima, Galera não era uma das minhas prioridades ficcionais, mas achei por bem sair de Gravataí e baixar na Livraria Cultura (não me lembro em qual shopping fica). Afinal, livros são livros, a resenha me interessou e eu teria a oportunidade de, se me desse na veneta, trocar duas palavrinhas com o autor.
Fiz todo o ritual: peguei um exemplar em uma das pilhas montadas pela livraria, paguei, subi a escadinha do mezanino, entrei na fila - tentando me esquivar (com sucesso) de uma câmera de tv - e aguardei minha vez. Por fim, quando fiquei frente a frente com o Galera, não consegui pensar em nada de interessante para dizer ou perguntar, e me contentei em ouvir dele "espere que goste do livro". Agradeci e fui embora.
Não sei exatamente o motivo, mas o livro teve um efeito magnético. A capa, talvez.
(já te falei que ADORO capas de livro?)
Folheando a parada, não pude deixar de soltar uma risada quando vi que, nos créditos ao fim do livro, Galera citava TERRORISTAS DO MILÊNIO (cuja tradução foi publicada pela mesma editora, aliás), de J.G. BALLARD, que eu, sem saber, comprei no mesmo dia. A coincidência me pareceu boa demais, e resolvi iniciar a leitura de imediato.
E MÃOS DE CAVALO me arrebatou. Sério mesmo. Evocou um punhado de coisas esquecidas e enterradas, o que acabou fazendo com que eu enviasse um email ao Galera, elogiando o livro. Não que minha opinião valha alguma coisa, mas foi uma das poucas vezes que enviei correspondência a um escritor que eu não conheço. Embora não tenha perdido o gosto pela ficção excêntrica que tanto me agrada, estou menos refratário a histórias mais - e talvez esteja cometendo um deslize dizendo isso - naturalistas.
Então, quando fiquei sabendo que ATÉ O DIA... tinha sido relançado, não tive dúvidas e incluí o título na minha lista de aquisições vindouras.
E comprei.
E li.
E gostei.
É bem provável que, se eu tivesse lido em 2003, não percebesse o livro como percebo hoje. E também é bem provável que eu não fosse gostar dele.
Comparações são inevitáveis e, no meu caso, o que me veio à cabeça foi o subestimado TIMBUKTU, do Paul Auster.
A cena em que Churras, o cão do título, se despede de Marcela, a namorada do protagonista, me deu um aperto no coração. Isso para não falar de quando o personagem principal rememora o relacionamento que seu avô tinha com uma dupla de vira-latas. De gelar a espinha.
E quase ia me esquecendo da nova capa, que é linda.
Virou filme, que quero ver o mais rápido possível, junto com outro que veio das letras, O Cheiro do Ralo.

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