quinta-feira, 12 de outubro de 2006

ABBEYARD, DE SCOTLAND YARD

Sempre pensei que, depois de FROM HELL, qualquer hq que tentasse desconstruir o mito de Jack, o Estripador, estaria fadada a entrar pelo cano.

ABBEYARD DE SCOTLAND YARD, com roteiros de Viviana Centol e desenhos de Carlos Vogt, publicada originalmente na Itália em treze capítulos e agora lançada na Argentina num único catatau de 168 páginas, felizmente conseguiu me provar que estava errado. E o ingrediente que, além de responsável por essa minha mudança de opinião, ainda consegue manter a hq a quilômetros da obra do Makonheiro Mágicko de Northampton é um velho conhecido nosso: o humor. Negro.

Sente o drama (trecho extraído da introdução escrita por Carlos Vogt, pitorescamente traduzido por mim):

“Muito tempo depois, numa mostra de quadrinhos em Buenos Aires, ao passar entre um grupinho e outro, cumprimentando roteiristas e desenhistas, me encontrei com aquela amiga de minha prima Anelli. ‘Eu te conheço’, lhe disse, sem me recordar de seu nome, obviamente. Nos sentamos com um pessoal para tomar um café. Da conversa surgiu o assunto de que ela estava burilando uma história policial que se passava em Londres, no final do séc. 19. ‘Vai ser uma hq com muito sangue, putas e fantasmas. Os ingleses adoram fantasmas!’, assegurou, empolgada. ‘Eu não’, respondi, sério. ‘Me dão medo.’Viviana Centol olhou para mim, incrédula. ‘Mas...vai ser uma comédia’, achou melhor esclarecer. Acendi um cigarro, com a mão tremendo, e suspirei: ‘Ah. Menos mal.’”

Archibald Abbeyard – que tem sempre o sobrenome confundido com Abellard – é um arquivista da Scotland Yard, sem muitas perpectivas profissionais, que acaba se envolvendo com o caso de Jack, o Estripador, quando Belle, uma prostituta com quem mantinha uma... hã... bela amizade, acaba sendo morta pelo assassino de Whitechapel.

A diferença é que Belle, ao invés de ser extripada como as demais, é arremessada pela janela, o faz com que a polícia acabe descartando qualquer relação deste crime com os demais, preferindo acreditar na hipótese de suicídio. E a história terminaria assim, se o fantasma de Belle não voltasse para azucrinar Abbeyard até que ele concordasse em tentar descobrir a identidade de Jack (e seus motivos), para que ela pudesse descansar em paz.

O humor, pastelão, mas não excessivo, é bem dosado e Viviana constrói uma história bacana, com direito a identidade do assassino revelada (mas só no final). Final este, inclusive, que foge às convenções e também constitui um caso à parte.

Já o traço de Vogt - bem caretão (ou clássico), mas muito bonito - cai como uma luva nessa história vitoriana. Ele capricha nas expressões faciais e não poupa Abbeyard de ser retratado como o paspalho de bom coração que realmente é.

ABELLARD foi publicado pela Thalos Editorial e está saindo por 19,90$ (pesos argentinos).

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