sábado, 26 de agosto de 2006

3.0 E CONTANDO.

- Ao passar dos trinta, perdi o direito de chamar meus amigos mais velhos de balzacos. Ainda posso chamá-los, claro, mas perdi a imunidade à recíproca, o que torna tudo imensamente menos engraçado.

- Pensando em LOST, da qual assisti a poucos episódios, fico me perguntando se uma série do tipo, em tempos de bit torrent e imediatismo, teria uma duração tão grande como seria a intenção (que seus criadores aventaram recentemente ser de 7 temporadas). Tipo, dá pra segurar as pontas de um mistério televisivo por sete anos?

- LOL parece se bacana mesmo. (cortesia do Hector)

- Assisti a um episódio de HEAT GUY J e gostei.

- Li, numa patacada só, as edições de 2 a 8 de DMZ, um dos meus comics preferidos. Mais comentários – se eu tiver energia – no OROBORO, em breve.

- John Laroche parece ter nascido realmente sob medida pra ser personagem de ADAPTAÇÃO. Sua história real é tão ou mais bizarra quanto à do filme. O LADRÃO DE ORQUÍDEAS tem seus momentos, mas, sei lá, esperava mais.

- Seis meses atrás, vi um livro que me interessou sobremaneira, mas na ocasião, com o fluxo de caixa extremamente baixo, deixei a compra para alguns dias depois, confiando apenas em minha parca memória. Além da capa, que eu acho muito bonita, o único outro detalhe que consegui reter foi o que eu acreditava ser o nome, SARA. Tentei reencontrá-lo pouco antes de voltar para casa, mas não consegui. Pedi a um amigo que estava vindo para cá que desse uma olhada para mim, mas ele não obteve sucesso. Minhas buscas no google também foram infrutíferas e até cheguei a fazer consultas no orkut. Deixei pra lá. E eis que, do nada, mastigando um hambúrguer gorduroso e sem gosto na hora do almoço a cachola me prega outra peça e me dá, de bandeja, o termo correto: SANDRA. Não deixei passar desta vez.

- Voltando a LOST, tive um sonho esquisito pra caralho com a parada. Esquisito mesmo.

- Esse clipe aqui, que passa no ANIMAX, é mutcho loco.



- Alguém aí tem uma pílula vermelha? Uma azul também seve.

- Ontem tava passando um filme de zumbi na tv. Penso que seja aquela refilmagem de A HORA DOS MORTOS-VIVOS, mas não tenho certeza. Não consegui ver o final porque tv ficou muito ruim. Agora tô numa puta fissura pra ver um filme desses.

- Fiquei sabendo que o pequeno aprendeu a fazer xixi na pia da cozinha, tocou o terror no Zé Gotinha hoje, e também reclama da “pefeitura” quando está brincando com água e alguém fecha o registro.

- E segue o baile.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

DROPS

De delinqüência infantil o Brasil entendemos, mas essa eu achei foda. Se liguem na idade do líder da gangue.
* Na estrada de novo, pessoal. Até que ficar sem fazer nada é bom, mas as perspectivas tornam-se especialmente sinistras quando você tem um filho de 2 anos de idade.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

O ARCO-ÍRIS DA GRAVIDADE: ILUSTRADO

ARCO-ÍRIS DA GRAVIDADE: ILUSTRADO

Bem, a notícia é velha, mas é novidade para mim.

Um maluco resolveu fazer ilustrações para TODAS as páginas do livro O ARCO-ÍRIS DA GRAVIDADE.

(esqueci de colocar o link pras ilustrações, né? Ficam aqui).

terça-feira, 15 de agosto de 2006

OS FILHOS DE ANANSI

Me esqueci de falar disso por aqui.
Não, não vamos perder tempo com sinopses ou resumos. Desses vocês encontrará vários por aí (clica nas letrinhas azuis aí de cima, ó).
Além disso, vou estar me repetindo pela enésima vez, só para o caso de você ser novo aqui na Urobourolândia: eu não gosto do trabalho do Gaiman. Do Gaiman ROTEIRISTA DE HQ, digo.
SANDMAN teve seus momentos. Momentos belíssimos. Mas ficou nisso, a série, como um todo, não me apetece. E todo o material que conheço vai pelo mesmo caminho.
Em contrapartida...
Pelo Gaiman ESCRITOR tenho muito apreço, sim senhor (embora, confesse, não seja um dos maiores conhecedores da sua prosa. Até então tinha lido BELAS MALDIÇÕES e FUMAÇA E ESPELHOS).
Terminar OS FILHOS DE ANANSI já foi bom porque tirou uma pulga que estava atrás da minha orelha havia muitos anos: seria toda aquela fleuma maravilhosa que permeia BELAS MALDIÇÕES obra somente do Pratchett? Ao que parece, não era.
O Lúcio teceu comentários bem mais precisos e embasados do que minhas faculdades permitiriam, então aconselho que você dê um pulinho lá pra saber porque o cara vende que nem água (se é que você já não sabe)
É o tipo de livro que até sua avó vai ler na boa. [Sei que ela leria outros livros na boa, mas seriam os mesmos que você?]
Merece estar na lista dos mais vendidos.

SEM COMENTÁRIOS

Só agora descobri que haviam comentários em um dos posts do dia 08/08.
O "Falou e Disse", aparentemente aderiu à greve dos metroviários de SP
e não me avisou sobre isso. Já consultei meus advogados sobre a
ilegalidade do ato.

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

BIZANGO - CAPÍTULO 6: UM MUNDO MELHOR


 Márcio Massula Jr.

- Certo Francisco. Pode deixar que assumimos daqui.

O MM (meeting mensal) era uma forma da empresa obliterar distâncias hierárquicas e aproximar a alta administração do pessoal que trabalhava no chão-de-fábrica. O objetivo era deixar a diretoria a par dos problemas e soluções levantados pelos analistas e dar a chance da opinião de todos tivesse o mesmo peso. Contudo, com o tempo surgiram as versões revisionistas, e houve quem dissesse que tudo não passava de um mecanismo dissimulado de seleção natural, sendo que os analistas que não apresentassem sugestões MUITO boas num período determinado de tempo – nunca se chegava a um consenso sobre este ponto específico – estavam com os dias contados. No emprego, que fique bem claro.

Francisco chegou à reunião ligeiramente atrasado. Felizmente, o cafezinho preparado por Dona Esmeralda estava especialmente saboroso naquele dia, e os outros nem perceberam que o intervalo – na verdade um prólogo – do café excedeu o horário em alguns minutos. Alguns dos seus colegas notaram que ele não aparentava estar bem. Ele desconversou e deu início à apresentação. Estavam lá Carvalho, o Diretor de Manufatura, Firmo, o gerente da PESQUISAS AVANÇADAS, os gerentes dos setores de Engenharia de Processos, de Manufatura e de Desenvolvimento, mais alguns supervisores técnicos, e claro, os analistas. Francisco, aliás, era um deles. Mas, a despeito de sua timidez natural e da platéia intimidadora, a performance de Francisco foi brilhante. Através de planilhas e gráficos preparados criteriosamente, ele conseguiu provar para toda a cúpula da empresa que suas preocupações tinham fundamentos, que a eliminação de todos os potenciais imbróglios em que a empresa pudesse se meter por causa do chiadinho ultra-sônico justificaria o acréscimo de 0,24% no preço do componente (que, por sua vez, seria retransmitido pelas montadoras aos consumidores como algo na casa dos 2% sobre o preço do veículo), que isso poderia servir de munição ao departamento de marketing, sob a bandeira da responsabilidade social e que, como seres humanos, era obrigação deles tornar o mundo um lugar melhor.

A salva de palmas que se seguiu à ultima palavra de Francisco deu a tudo um ar de comercial veiculado em horário nobre. Ou, talvez, a cena final de um daqueles filmes bem bonitos. Tudo muito plástico, tudo muito legal. Tudo podendo acontecer em qualquer emaranhado quântico de possibilidades. Pena que só aconteceu na cabeça de Francisco.

Sim, ele chegou atrasado. E sim, após explicar em linhas gerais (bem gerais) de que se tratava aquela pilha de memorandos que trazia sob o braço, ele foi interrompido por Firmo, o gerente da PESQUISAS AVANÇADAS com:

- Certo Francisco. Pode deixar que assumimos daqui.

E a história acabou por aí. Francisco olhou em desespero para Ezequiel, o gerente da Engenharia de Processos, que além de chefe, fazia as vezes de conselheiro, mestre jedi e pai postiço. Mas ele não deu sinais de que ia intervir a favor dele, que, a propósito, nem teve oportunidade de sacar do bolso o pen-drive repleto de arquivos de referência, entre eles uma apresentação feita com tanto carinho que derreteria qualquer um dos corações ali presentes, pode apostar.
Na sequênciaa, a atenção de todos derivou para um problema mais urgente, que tinha a ver com uma visita importante e com a cor do piso da fábrica. Aquilo foi o golpe de misericórdia, e as lembranças do pinto-glacial invadiram-lhe a cabeça como um vagalhão. Ele pediu licença aos companheiros e se retirou da sala. Estava bebendo água quando Ezequiel lhe encontrou.

- Olha Chico, desculpe, mas eu não pude fazer nada. Esse pessoal da AVANÇADAS tem muita moral, você sabe.

- Pô, Seu Ezequiel, eu trabalhei nisso tanto tempo...

- É, eu sei.

- Eles nem quiseram me ouvir.

- Na verdade, o Firmo é que não quis ouvir.

- Como assim.

- Já sabe o procedimento.

- O senhor não disse nada.

- Isso. Existe um boato de que todos os setores de engenharia vão passar por um processo de reengenharia, entende?

Francisco não entendeu a piada.

- Estão dizendo que a PESQUISAS AVANÇADAS vai abocanhar tudo. Processos, Manufatura e Desenvolvimento.

- E?

- Ora! Quem você acha que vai mandar na gente?

- ...

- Acho que você ainda não pegou a idéia, moleque. Você não está bem hoje, não é? Está com uma cor estranha. Meio... acinzentado. Tubo bem com você?

- Hã... mais ou menos. Não estou legal. Mas vai passar. Acho. Mas, qual é a idéia?

- A idéia é que o Firmo te cortou não por achar sua idéia dispensável, mas porque gostou dela.

- ?

- Bem, acredito que ele já esteja pensando como futuro chefe de todos nós, e na cabeça dele, esse tipo de trabalho não poderia ter passado despercebido de jeito nenhum, entende? Até o Carvalho ficou assustado com aquela papelada toda! Você causou boa impressão. Agora nós temos que pensar num jeito do Firmo não conseguir levar o crédito sozinho.

- Mas ele não devia levar crédito nenhum!

- Mas vai levar. E eu também. Nós estamos numa empresa e existe uma hierarquia a ser seguida, correto?

- Correto.

- Certo. Bem, agora que você entendeu, a gente tem que pensar numa maneira de botar na bunda desse cara.

Vinda da boca de Ezequiel, uma frase terminada com uma expressão chula era o mesmo que dizer “a casa vai cair”. Restava saber para qual lado.

domingo, 13 de agosto de 2006

ECLIPSE TOTAL

Caralho maluco! Saiu disco novo do Amorphis e eu nem fiquei sabendo. E tá uma pedrada, viu? Tem duas faixas lá no myspace.
(já te falei que adoro bandas de metal que viram a casaca?).
[Só pra constar, Tuonela é um dos dez melhores discos de rock já feitos.].
Ainda continuando nas bandas que passaram para o lado branco da força (se bem que essa passou demais!), saiu o novo do Theatre of Tragedy também (já há certo tempo, é verdade). Dá pra ouvir algumas faixas lá no myspace deles. Acho que ficou um pouco menos constrangedor que o Assembly. Mas não sei, tenho que ouvir tudo.

PCC

ATÉ QUANDO VAI DURAR ESSA PUTARIA?

Até as eleições?

MIGRANDO PARA OS QUADRINHOS

Douglas Rushkoff soltou algumas observações interessantes lá no Engine sobre as indústrias de quadrinhos e livros (dos states, off course).

DOUBLE DICK EM NÓS

Esqueci de postar isso.
Estão querendo fazer outra cinebiografia de um dos padroeiros deste lugar.
Sim, o amado, idolatrado, salve-salve, Philip K. "Do Androids Dream of Eletric Sheep?" Dick.
Aguardemos, pois.

terça-feira, 8 de agosto de 2006

LOCAL DE TRABALHO

Engraçado. Dias depois de cruzar com a sala de trabalho do Will Self (alguns posts atrás), esbarro com esse thread lá no Engine, e, na seqüência com esse blog, que eu achei muito bacana.

SOCCER BOT MAYHEM

Pesquei isso lá no blog de tecnologia da New Scientist. Embora o futebol normalmente não esteja entre meus 100 assuntos preferidos, o segundo substantivo do título já entra na parte que me toca (ui!), e achei muito bacana essas traquitanas japonesas. E, a propósito, meu filho vai adorar.
Depois coloco aqui os comerciais do Citröen C4, que são o maior barato.

domingo, 6 de agosto de 2006

NÃO SE FAZEM PROGRAMAS INFANTIS COM ANTIGAMENTE

Dois caras chegam na delegacia, rendem o guarda, um deles rouba seu equipamento e sai tirando onda de arma em punho (tentando impressionar a gatinha da vez, inclusive).
Traficante brasileiro?
Rebelde iraquiano?
Que nada, esse é mais um dos hilários (de tão esquisitos) plots de Kure Kure Takora (ou Gimme Gimme Octopus) obscuro seriado japonês da década de 70 (tinha que ser), cujos episódios podem ser encontrados aos montes no Youtube. Politicamente incorreto até o osso, pode lhe render umas boas risadas.
Abaixo, a descrição postada por um dos membros do YouTube:
“A messed-up kids program which first appeared on the Japanese Broadcasting Corporation's JOCX-TV on October 1st, 1973.
Every episode is basically about Kure Kure Takora wanting something that belongs to the other characters and then tries to steal it.

While the episodes only run 2 and a half minutes each, you'll be treated to acts of:

* anti-social behaviour (always guaranteed)
* random violence (guaranteed)
* cannibalism
* Love triangles that cross not only species but also plant/animal classifications
* torture
* set decorations inspired by Fauvism
* suicide attempts”
Agora, sente o drama:
GIRLS DIG GUNS.
Viciei.

sábado, 5 de agosto de 2006

WILL SELF’S WRITING ROOM








Tava dando uma bandeada pelo site de um dos preferidos da casa e acabei parando aqui.
Vai gostar de post-it assim lá na casa do caralho.
Baguncê da porra.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

TAPA NA PANTERA

O maravilhoso mundo do Youtube. Esse vídeo já andou fazendo barulho por aí. É ficção, mas nem por isso deixa de ser muito engraçado.
(vamo vê se esse template veínho aguenta o tranco)

A NATION OF NEUROTICS? BLAME THE PUPPET MASTERS?

Engraçado ler isso hoje (pesquei no Hector, que pescou no Ellis), porque me lembrei de HOBBY ESTRANHO, conto que o Vetusto publicou na terceira edição da CASA DO TERROR uns anos atrás, e que parte do mesmo princípio.

XIII - 1

XIII - Número 1

Fiquei meio cabreiro e diria, até, incrédulo quando a Panini anunciou que ia começar a publicar quadrinhos de procedência franco-belga.

Incrédulo por este tipo de material estar, já há alguns anos, sempre na periferia do que é publicado por aqui. Mas quando vi que a coisa era séria fiquei feliz, confesso. Feliz porque é um ponto a mais para a diversidade, e, sei lá quem disse, “a diversidade é o tempero da vida”. Além disso, é uma das grandes a investir nisso, o que reduz fatalmente as possibilidades de uma linha editorial abortada.

XIII - com roteiros de Jean Van Hamme e desenhos de W. Vance - é um quadrinho de ação, fartamente inspirado no livro (que anos depois viraria filme) A IDENTIDADE BOURNE. Sempre fico impressionado com a capacidade dos europeus em assimilarem e regurgitarem referências sem cair no pastiche. Estão aí os fumetti que não me deixam mentir. Mas, voltemos ao que interessa.

A hq (ou bd) começa quando um velho encontra um homem desacordado e muito ferido. Quando ele desperta, está totalmente desmemoriado e a única pista que tem sobre seu passado é um algarismo romano (o XIII) tatuado próximo ao pescoço. Ele é acolhido pelo casal que o resgatou e leva uma vida quase bucólica, até que um grupo armado invade sua casa e ele “descobre” que possui habilidades de combate muito acima da média. Daí em diante, pancadaria, tiroteios e intrigas pra ninguém botar defeito.

Um ponto interessante a se ressaltar é o modo como são feitas as hqs franco-belgas, totalmente diverso dos comics americanos, ao qual o leitor brasileiro está mais habituado. O formato padrão desses quadrinhos é o que se convencionou chamar de álbum, contendo, na grande maioria das vezes 48 páginas de quadrinhos e sendo lançado anualmente. Outro ponto interessante a se ressaltar é que as séries são finitas. Duram anos, mas sempre chegam ao fim. E o último álbum de XIII, o 18°, será lançado esse ano na França, encerrando a série. As edições de XIII que a Panini vem publicando contém 2 álbuns, então a publicação brasileira irá até o número 9. Pelo menos para mim, isso torna bem menos onerosos os 22 mangos que paguei pelo álbum. E há de se ressaltar a qualidade, claro.

Embora o proto-roteirista dentro de mim (piadas sem graça, serão punidas com força desproporcional, belê?) tenha chiado em dois ou três pontos ao longo das histórias, não há como negar que Hamme e Vance trabalham em plena sinergia. A história funciona. E bem. Fiquei curioso pra saber o que vem a seguir, que nos meus termos significa que o trabalho foi muito mais estimulante do que a maioria do material que tenho lido ultimamente.

E tô louquito pra ter em mãos BLUEBERRY e BLACKSAD.

P.S.: Só falta a Panini começar a publicar material nacional agora, né?.

P.P.S.: Desculpem. Não resisti.

UM POUCO DE BIBLIOFILIA.

Embora não me considere um literato nem proprietário de um acervo propriamente dito, tenho uma quantidade de livros, como direi...volumosa.
De uns anos para cá, comecei a esboçar um catálogo contendo algumas informações básicas, como nome da obra, autor, data de aquisição e se já foi lido ou não. Contudo, talvez movido por um certo romantismo, talvez por pura preguiça, fiz tudo manuscrito, o que, com o passar dos anos, se mostrou bem pouco prático. Então tive a “brilhante” idéia de digitalizar esse catálogo, adicionando, no processo, outras informações que julgo importantes.
A intenção mesmo era fazer uma biblioteca virtual, como essa por exemplo, mas a empreitada está além das minhas capacidades. E isso começou antes de eu descobrir o Libray Thing. De qualquer maneira, o trabalho serviu para que eu tivesse uma idéia mais concreta do que tenho em mãos (quaisquer piadinhas sem graça serão sumariamente punidas com uma invasão de worms!) e do que tenho pela frente, se é que vocês me entendem.
Descobri, por exemplo, que apesar de acreditar que tinha mais livros de ficção do que de não-ficção, o que ocorre é o contrário. Mas a impressão surgiu porque LI mais ficção do que não-ficção. Outra coisa que me deixou meio perturbado foi o fato de ter consumido pouco mais da metade dos livros que tenho. Trocando em miúdos, caso eu continue lendo no ritmo atual, vou passar uns bons anos sem precisar gastar nenhum tostão em sebos ou livrarias. Isso, claro, assumindo que eu vá realmente ler tudo o que tenho.
Houve uma época em que, além de ser facilmente mesmerizado por estabelecimentos que comercializam letras (mal do qual ainda sofro), eu também tinha um interesse quase obsessivo por assuntos esotéricos, e uma parte significativa da minha coleção é composta por tudo quanto é tipo de coisa relacionada ao tema, indo de medalhões como Eliphas Levi e titio Crowley a bizarrices como OS MAGOS ADVERTEM O BRASIL, um opúsculo delicioso de tão ridículo, onde os supostos descendentes da corte do Rei Arthur advertem, como já indica o título, a população tupiniquim sobre uma gama de assuntos supostamente de interesse nacional. Além disso, o único quesito necessário para a compra de um livro era que fosse *vagamente interessante*, e muito do que foi vagamente interessante há dez ou quinze anos atrás hoje já está totalmente fora da minha esfera de interesses.
Outro ponto a ressaltar é que a maioria esmagadora dos meus livros é composta por edições econômicas ou pockets (que não deixam de ser edições econômicas). Um dos extremos disso seria a coleção HISTÓRIA UNIVERSAL (totalmente incompleta), que, na época, era oferecida como brinde na defunta revista Semanário (alguém lembra dessa?).
Para os quadrinhos utilizo um software específico, então as hqs, independente do formato, não entraram.
Excluí e-books desta listagem, sejam eles versões digitalizadas de obras impressas ou concebidos originalmente como tal. O motivo é a facilidade muito maior de se catalogar arquivos. Mas pretendo listá-los também, numa categoria à parte, no futuro.
Os RPGs - cuja quantidade é bem razoável - também ficaram de fora, pela sua natureza particular (de partícula, que remete a princípio da incerteza). São Ficção ou Não-ficção? Também terão listagem separada.
Manuais e livros didáticos também foram desconsiderados, salvo três ou quatro exceções.
No meu catálogo analógico, que parei de atualizar meses atrás, assim que iniciei a versão digital, constavam 523 volumes (já descontando os RPGs, que batem na casa dos 100), mas um bom punhado foi deixado para trás quando saí da casa de minha mãe, vários anos atrás. Teria que fazer uma triagem, mas o destino de grande parte daquele montante, composto quase que totalmente por versões baratas de clássicos da literatura brasileira, será provavelmente a doação a uma biblioteca ou a alguém que se interesse. De qualquer forma isto vai demorar, visto os pouco mais de mil quilômetros que me separam do restante da família. O montante total foi de 471 livros (mas pode ser que eu tenha esquecido algum pelas gavetas da vida).
O formato escolhido foi a boa e velha planilha, feita no Excel. Fiz desta maneira porque, caso no futuro eu mude de idéia e me dê ao trabalho de construir um banco de dados, a migração dos dados será relativamente tranquila. Determinei todas as informações que julgava necessárias, mas, em nome da manuseabilidade, vários itens que eu também acho interessantes (tradutor, quando há. Capista. Essas coisas) foram desconsiderados, caso contrário seria necessário imprimir minha lista num formato A0.
Os quesitos que se salvaram foram:
AUTOR:
Óbvio.
TÍTULO:
Óbvio, novamente.
EDITORA:
Óbvio, de novo.
Tenho alguns volumes repetidos, publicados sob editoras diferentes. Houve uma época, por exemplo, em que tinha certo fetiche por METAMORFOSE. Planejei conseguir tudo quanto fosse edição que me surgisse à frente. Depois de três volumes, desisti. Mas que vou comprar aquela edição da Civilização Brasileira, que tem aquela capa maravilhosa, ah isso vou!
ANO PUBLICAÇÃO:
Refere-se ao ano de publicação do original. Determinar isso pode ser um tanto problemático quando estamos falando do Gilgamesh ou do Baghvad-Gita, ou mesmo livros que vieram com “escalas”, com traduções sobre traduções. Mas o Google tá aí pra isso, né?
EDIÇÃO:
Refere-se ao número da edição do exemplar. Isso pode ser problemático no caso de livros que tiveram sucessivas edições por uma editora, e, em seguida, por outra. Aqui considero apenas as edições lançadas pela editora do exemplar que possuo.
Além disso, parece haver uma diferença de nomenclatura de casa editorial para casa editorial, sendo que algumas utilizam também o termo reimpressão, deixando “edição” apenas para mudanças substanciais, como capa ou revisões.
ANO EDIÇÃO:
Ano de impressão do exemplar que possuo.
NACIONALIDADE:
Nacionalidade do exemplar que possuo, e não do original.
IDIOMA ORIGINAL:
Aqui talvez haja mudança, pela imprecisão das informações, como por exemplo, o inglês, onde não diferenciei o britânico, o americano, o canadense e por aí vai. No futuro vou refinar este critério. Talvez fosse bom cruzar este item com outro referente à nacionalidade do original. Pensarei em algo.
PÁGINAS:
Número de páginas. Considero páginas tudo o que está entre as capas: guardas, folhas de rosto, folhas em branco para dar volume, etc.
COLEÇÃO:
O nome da coleção, caso o livro tenha sido publicado dentro de alguma.
NÚMERO NA COLEÇÃO
Dando sequência ao item anterior
PREÇO ATUAL:
Preço médio encontrado em livrarias e sites.
QUANTO PAGUEI:
Quanto desembolsei pelo mesmo exemplar.
QUANTO PAGUEI (MOEDA ESTRANGEIRA):
Alguns poucos livros adquiri fora do país. Coloco o preço (quando tenho) em moeda estrangeira e converto para a cotação atual do Real nos campos PREÇO ATUAL e QUANTO PAGUEI.
QUANDO COMPREI
Comecei a registrar estes dados em 1999, mas comprei meu primeiro livro em 1993, então, salvo alguns casos especiais onde tenho como referenciar a data da compra, boa parte da coleção está na seção dos indigentes, e acabei criando uma data fictícia para esses livros.
LIDO?:
Obviamente, eu sei o que já li ou deixei de ler, mas a nerdice pede que isso seja exposto em forma de gráficos, e eu também quero saber quão tortuoso será o caminho até que tudo esteja devidamente lido.
TIPO:
Ficção ou Não-ficção.
================
OUTRAS ESTATÍSTICAS (a quem possa interessar).
Colocando tudo na planilha, tive acesso a um punhado de dados totalmente desinteressantes.
Fiquei sabendo que o idioma predominante, ao contrário do que eu pensava, é o inglês, ganhando fácil da língua materna, que ocupa o segundo lugar. A medalha de bronze ficou para o francês, seguido de perto pelo alemão, que ganhou por uma lombada de distância do espanhol. O sexto lugar foi para o italiano, e os outros idiomas (Árabe, Chinês, Grego, Hindi, Japonês, Latim, Norueguês, Persa, Polonês e Russo) disputam a lanterna, todos com menos de dez representantes. Compilações de textos escritos em vários idiomas diferentes ganharam o rótulo “Vários”. Um título ganhou o rótulo (provisório) “Indeterminado”.
E também constatei que o ano em que comprei mais livros foi 1999 (acho que era o subconsciente querendo me proteger do bug do milênio).

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Technorati Profile

Por aqui.

Tô querendo editar esse template não que já tomei altos couros.

BIZANGO - CAPÍTULO 5: BIZANGO COMICS


Márcio Massula Jr.

ZUMBÔ era uma HQ estranha. Publicada pela Bizango Comics, uma editora supostamente localizada em um subúrbio de Carrefour, Haiti, era escrita por uma pessoa que assinava Papa Guede e desenhada por outra que atendia por Barão Samedi. Era uma revista independente, impressa numa gráfica secreta só conhecida pelos autores, que temiam represálias por parte de grupos ligados ao governo e ao vodu. 

Poucas pessoas liam, e menos ainda se davam ao trabalho de conjecturar qualquer coisa a respeito da sua origem. Em 1999, sabe-se lá como, um exemplar caiu nas mãos de um dos últimos soldados americanos que estavam deixando o país após a ocupação de 1994. Este soldado, mesmo sem entender uma palavra de crioulo, o idioma falado pela maioria haitiana, gostou do material e resolveu apresentá-lo a um primo dono de uma pequena editora nos EUA. O tal primo, que tinha uma queda por material non-sense, também ficou impressionado com a revista e tentou entrar em contato com os criadores. 

Após uma busca cinematográfica, houve um encontro num terreiro vodu em algum país na América Central (Cuba, dizem as más línguas). Os criadores não apareceram, enviando um extravagante advogado que fechou um acordo que, segundo ele, seria vantajoso para todos. A pequena editora americana seria responsável pela distribuição mundial da revista, seriam os licenciadores do título para todo o mundo, com exceção óbvia do Haiti. Uma das exigências dos autores era que as revistas, independente do idioma ou do país onde fossem vendidas, teriam que ser impressas na gráfica secreta haitiana. Embora tenha relutado um pouco, o editor aceitou o acordo, acreditando que aquilo poderia até favorecer o marketing do título, o que de fato aconteceu. Obviamente, boatos começaram a surgir, alguns dizendo que as tintas utilizadas na impressão das revistas continham sangue de vítimas de rituais de sacrifício humano, ou ainda extratos feitos com plantas desconhecidas e outros ingredientes exóticos, outros dizendo que todo o dinheiro proveniente da venda das revistas era utilizado na compra de armamentos de uma facção radical haitiana que planejava um golpe de estado. O título foi um sucesso estrondoso no mercado americano, normalmente avesso a material estrangeiro que tenha sido produzido fora do Japão. Foi questão de tempo até chegar ao Brasil.

Zumbô (Zumbot, no original) era uma consciência eletromagnética rediviva, uma inteligência artificial deletada injustamente, mas que por um acidente tecnológico, fora recuperada do campo magnético da terra - o verdadeiro paraíso, segundo os autores. O lugar para onde todas as almas, artificiais ou não, iam - e carregada num corpo robótico sucateado, reativado pelo clamor da vingança. Um verdadeiro épico da ficção especulativa, passeava por temas tão diversos como a vida após a morte e analogias referentes a geopolítica haitiana. Tudo regado por um verniz tecnológico contaminado com uma versão muito particular da ideologia vodu. Contrariando todas as regras do meio, a revista, publicada ininterruptamente havia mais de seis anos, não se esgotava. Zumbô já tinha sido enviado a outros planetas, outras dimensões, ao mundo subatômico, ao mundo submarino, tinha voltado ao campo eletromagnético, depois tivera uma breve excursão pelas versões futuristas de alguns países, incluindo o Brasil, transformara-se em ator, em político, teve a memória atacada por um vírus e passou meses (em tempo real) como um mendigo robótico. Depois desenvolvera certa predileção por cpus alheias, o que lhe custou uma temporada num presídio em algum lugar da Sibéria, e atualmente era um ativista pelos direitos dos animais (embora não exitasse em sacrificar alguns para realizar seus protocolos místicos).

Francisco, mesmo atrasado, parou para comprar a edição da revista que acompanhava religiosamente todos esses anos. Era uma das histórias mais aguardadas, AGORA OU NUNCA. Seu Joca já tinha lhe reservado um exemplar como de costume, e ao ver o cliente, sacou o produto com a destreza de um jornaleiro querendo impressionar.

- Tudo bem Seu Joca?

- Opa, tudo Francisco. E você, está bem?

- To meio...passado hoje. Deve ter sido algo que comi ontem.

- Bem, agora que você falou, dá pra perceber que você está meio abatido. Vai pro trabalho assim  mesmo? Por que não tira um dia de folga e vai pra casa ler sua revista sossegado?

- Não, Seu Joca, hoje é um dia muito importante pra mim. Não dá pra faltar. E por falar nisso tô atrasado. Valeu Seu Joca. A gente acerta no dia combinado, beleza?

- Tá bom, meu filho. Vai com Deus então. E boa sorte lá no seu trabalho.

ENJOY THE SILENCE

Nem sabia que no novo do Lacuna tinha cover dessa música. Gostei.

WHO WANTS TO BE A ROCKET PIRATE?

Uma idéia que também tem o dedo do vovô Ellis e que parece interessante.

Tá a fim de publicar seus webcomics na faixa? Fale com ele.

(em inglês, viu?).

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

BIZANGO - CAPÍTULO 4: NEM DOEU


Márcio Massula Jr.

Que Francisco se lembrasse, tinha ficado em estado de choque apenas uma vez, logo na infância, ao ter um pedaço do dedão arrancado por errar um chute quando jogava futebol descalço na rua onde morava. Não foi propriamente a dor, mas o sangue. O espaço delimitado como o campinho tinha marcas de sangue por toda parte, uma versão macabra daquelas marcações estratégicas que os técnicos faziam antigamente para orientar os jogadores.

Dessa vez não havia sangue.

Existia um buraco no meio das suas pernas, e o que costuma ocupar o lugar estava em sua mão esquerda, subvertendo a ordem natural das coisas. De qualquer uma delas. Era engraçado ter a piroca na mão, mas fora do lugar. Entre todas as associações feitas por sua mente no momento, consolo foi a que quase lhe arrancou um sorriso. Quase. Uma pessoa, um homem melhor dizendo, não deveria achar nenhuma graça numa situação desta. Devia sim ligar para o resgate (ou bombeiros, ou polícia, ou o que fosse) e rezar para que chegassem a tempo de salvá-lo antes que morresse de hemorragia. Mas era aí que morava o problema. Não havia sangue.

Francisco tocava-se, apalpando o cotoco que restara em sua virilha. Era possível ver, na medida do possível, seus corpos cavernosos, sua uretra, suas artérias e todos aqueles outros tubinhos que até pouco tempo atrás iam dar em algum lugar próximo à sua glande. Não havia sangue. A carne era de um vermelho escuro, plúmbeo, como se tivesse acabado de sair das mãos de um açougueiro.

Ele não conseguia se decidir. A parte racional de sua mente mandava que ligasse para algum dos números de emergência estampados na primeira página do catálogo telefônico, mas apenas cogitar todas as explicações que teria que dar sobre o que ocorrera antes do sinistro já era constrangedor demais. Dirigir-se a um hospital também não melhoraria muito a situação.

- Veja doutor, tive um pequeno contratempo, um pequeno acidente doméstico, se é que podemos dizer assim, mas segui todos os procedimentos e trouxe devidamente conservada a causa do problema.

O doutor abre o embrulho, examina o conteúdo, e extremamente clínico diz:

- Oh! Não tema, Sr. Francisco. O senhor veio até nós em tempo hábil. Acho que podemos fazer alguma coisa e vai ser questão de meses, poucos anos no máximo, até que as coisas voltem a ser como eram antes, me entende?

Não, definitivamente, não. Mas seu camarada de poucas e boas não poderia ficar ao relento.

Fracisco lembrou-se de vários casos que vira na televisão, onde vítimas de acidentes que resultaram em amputação conseguiram que o reimplante fosse feito por terem tomado alguns cuidados com as partes seccionadas, como, por exemplo, acondicioná-las em saquinhos com gelo. Ele foi à cozinha, abriu a geladeira, tirou a fôrma de gelo, pegou um saco plástico - tudo sem soltar o falo - e quando tentou iniciar os preparativos para a criogenia do próprio bigolin, constatou que teriam que se separar. Aquilo lhe provocou certa angústia, um aperto no coração, como se o fato de deixá-lo ali, à revelia em cima da pia de mármore barato, fosse de alguma maneira decretar o fim do relacionamento que já durava havia quase uma vida. Titubeou, mas vendo que não tinha alternativa, deixou o instrumento em cima da pia e pôs-se a trabalhar. Enquanto enchia o saco com gelo, pensava em todas aquelas pessoas que pagavam fortunas para que seus corpos fossem partidos em pedaços e congelados, na esperança de serem revividos num futuro melhor. Seria aquele o destino dele? Seria seu pinto o legado que deixaria para a humanidade?

Francisco percebeu que estava com fome, e não pôde deixar de notar a semelhança do próprio órgão com uma salsicha. Uma salsicha das mais esquisitas, como aquelas alemãs, é bem verdade, mas ainda sim uma salsicha. Ele pegou o antigo anexo e começou a apalpá-lo, aproximou-o do nariz e inspirou profundamente aquele aroma, que seu cérebro decodificou como bastante agradável. Suas papilas gustativas imploraram em coro para que ele tirasse um naco daquilo com os dentes, e para dar o toque final, sua boca fez o favor de encher-se de saliva, como num daqueles belos comerciais de produtos alimentícios.

Foi só quando seus dentes tocaram na carne fria é que Francisco se deu conta do que estava fazendo. A manhã já tinha sido estranha demais, e não precisava terminar sendo coroada com uma atitude daquelas. 

Ele lançou o moribundo dentro do saco plástico, lacrou-o e colocou o embrulho no congelador, a partir de agora um esquife doméstico. Francisco precisava se acalmar e aquele não era o melhor momento para tomar uma decisão relativa ao antigo companheiro. Aparentemente a separação dos dois não tinha apresentado nenhuma consequência funesta, como era de se esperar, e aquilo teve um efeito extremamente libertador sobre ele. O que tinha esperado até agora poderia esperar até mais tarde. Havia a reunião, havia pessoas esperando por ele e havia uma revolução a ser feita. Ele tinha que ir.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

OS INIMIGOS NÃO MANDAM FLORES

Engraçado que nenhum site de quadrinhos tenha dado a letra. Eu mesmo fiquei sabendo através de excerto da reportagem enviado a uma lista de discussão que frequento. Mas vá lá.

Finalmente vemos o primeiro (de muitos, espero) título nacional da Pixel. Claro, houve o Colin, mas Colin já é clássico e transcende qualquer terminologia.

Nunca li nada do Férrez, mas simpatizo com ele e acho que a hq vai agradar, sim. Infelizmente não consegui pescar nenhuma imagem na rede, a não ser esse vídeo no YouTube.

E que venham mais.

BIZANGO - CAPÍTULO 3: PESQUISAS AVANÇADAS


Márcio Massula Jr.

O curso de Engenharia da Administração era relativamente novo. Visava "preparar profissionais para o futuro, aguçando-lhes a visão e as faculdades mentais para que, de maneira inovadora, atuassem na resolução de problemas, ou melhor, na Engenharia de soluções, Administrando assim, de maneira vanguardista, o capital e os recursos humanos". Ou pelo menos era o que estava escrito no panfleto, que, diga-se de passagem, deve ter surtido efeito, visto que as primeiras turmas foram concorridíssimas. 

Nada a ver com os preços também "competitivos" da universidade, em média 80% mais barata que as outras. Francisco foi um dos primeiros a se inscrever, e por isso mesmo conseguiu se formar antes que o Ministério da Educação fechasse a escola, abolindo de uma vez por todas o tal curso de vanguarda. Um curso não reconhecido pelo MEC era uma mancha indelével no currículo, mas Francisco tratou de abastecer o seu com muitos cursos oblíquos, seminários, palestras, pós-graduações relâmpago e MBAs tropicais, criando assim uma verdadeira cortina de fumaça letiva ao redor das suas qualificações superiores, artifício muito eficiente na hora de confundir entrevistadores.

De qualquer maneira, após percorrer boa parte da estrada trilhada por todos os jovens sonhadores recém-formados, ele conseguiu um bom emprego numa empresa multinacional, o que, no frigir dos ovos, não lhe deixava menos tenso, já que sua farsa poderia vir à tona a qualquer momento.
E pra piorar tudo, aquele seria o dia da reunião, o dia que daria início à ascensão meteórica de Francisco - se tudo desse certo.

A Backspace Componentes Automotivos era pioneira no seu ramo. Fabricava uma gama imensa daqueles componentes obscuros sobre os quais mesmo os mecânicos mais experientes pouco sabem. 

Insonorizantes laterais, suportes refratários, parafusos de ajuste helicoidais bipartidos, coxins sazonais, etc. A Backspace também mantinha um curioso recorde, que foi tema de revistas corporativas várias vezes: havia mais de dois anos que nenhuma sugestão do Programa de Geração de Idéias era aprovada. 

Como todos os outros milhares de programas deste tipo, o da Backspace promovia a premiação dos funcionários em dinheiro, em valores que variavam conforme a economia proporcionada pela sugestão. 

Mas o nível de excelência era tão alto que praticamente todas as boas possibilidades haviam se esgotado. Era uma empresa perfeita, tanto em termos de qualidade do produto como do desempenho.

A Backspace era tão metódica e obcecada com a performance de seus produtos que criou uma seção, a PESQUISAS AVANÇADAS, apenas para colher dados precisos a respeito do impacto dos seus produtos nos usuários finais. Não era estranho encontrar relatórios que falavam sobre a "os efeitos da deflexão de radiação UV solar nos puxadores dos isqueiros, em dias ensolarados, no globo ocular humano", ou ainda "parâmetros otimizados para escolha de texturas conforme amostragem realizada no baixo Jequitinhonha". Francisco, embora não trabalhasse lá, tinha certo apreço pelo trabalho daqueles homens e procurava se manter informado sobre os rumos e as novas descobertas da PESQUISAS AVANÇADAS. E um daqueles documentos lhe chamou a atenção certo dia. Falava sobre um ruído provocado por uma guarnição de plástico que era montada entre o acoplamento da transmissão de certos veículos populares. O tal ruído, provocado pelo atrito entre o plástico e os metais, era imperceptível ao ouvido humano, contudo transformava-se num verdadeiro tormento quando era ouvido pelos cães ou pelos infelizes portadores da síndrome de Lynn-Miller.

Essa doença, que durante muitos anos foi confundida com o mal de Frank-Varley e depois com a DPAC, era uma típica cria do século XXI. Não havia estudos sólidos até aquele momento - sendo que a doença em si tinha sido descoberta poucos anos atrás - mas as principais correntes apregoavam que aquela era apenas a ponta do iceberg, apenas a primeira de muitas doenças estranhas surgidas em tempos de poluição eletromagnética, efeito estufa, excesso de informação, comida gordurosa, abduções, sexo seguro e cerveja sem álcool. Os portadores dessa síndrome - em sua grande maioria jovens na casa dos vinte - nasciam com o ouvido interno hipertrofiado, podendo ouvir sons emitidos numa frequência muito maior do que os usuais 20 Khz captados por um ouvido humano normal, o que significava dizer que sua audição poderia chegar perto da de um cão. O problema era que o cortéx auditivo dessas pessoas não vinha preparado com os milhões de receptores neurais extras que seriam necessários para que essa nova gama de sons pudesse ser interpretada de maneira satisfatória. Ruídos em frequência ultra-sônica, para essas pessoas, era o mesmo que, nas palavras de um portador, "ter a cabeça atravessada por uma agulha de tricô".

Até o momento, não tinha chegado à PESQUISAS AVANÇADAS nenhuma notícia de reclamações de clientes (tanto as montadoras para as quais a Backspace fornecia quanto os clientes finais) referentes a tal guarnição. Mas existia um estudo que afirmava que a população de portadores da Lynn-Miller duplicaria num espaço de cinco anos, e as projeções mais otimistas mostravam um número seis vezes maior nos dez anos subsequentes. Foram aquelas histórias que comoveram Francisco, e seria uma pequena mas significativa melhoria na qualidade de vida daquelas pessoas o seu estandarte, o núcleo do projeto no qual ficaria imerso nos próximos seis meses da sua vida. E se alguém lhe dissesse que a Lynn-Miller ocorria em apenas uma entre quinze milhões de pessoas, ele delicadamente diria "foda-se". 

Mas não com essas palavras.