segunda-feira, 21 de junho de 2004

QUEM TEM MEDO DA FICÇAO?

Discussoes recentes em listas de discussao (boa essa né?) e comunidades do Orkut me fizeram atentar para algo que sentia em relaçao a alguns escritores mas ainda não tinha me dado conta: a FICÇAO dá medo.

Utilizo esta palavra na acepçao exata do termo. Não me refiro apenas a Ficçao Científica, embora ela também esteja no balaio. A literatura confessional, verdadeira coqueluche (sempre quis usar essa palavra) nos dias atuais já vem de longa data e se institucionalizou, creio (e notem que não sou nenhum professor de literatura) com os beatniks - ou um pouco antes, com Bukowiski e Fante. Como nossos amigos eram americanos, obviamente era questao de anos, ou no caso de alguns, décadas até que isso se espalhasse. Claro, eu não seria tolo de supor que eles inventaram isso. O advento da narrativa em primeira pessoa foi o passo inicial da coisa toda, e se alguém se atrever a datar isso pra mim, ganha um doce.

A questao que me incomoda é a literatura super-real ou confessional. Cada vez mais o habitat natural das histórias, a imaginaçao, está sendo jogado para escanteio.

Como assim?

Sei lá. Só acho que o pessoal tem medo de ousar um pouquinho. Tem medo de parecer inverossímel – lembrando que “suspensao de descrença” é algo muito mais importante no cinema do que na literatura - ou qualquer outra coisa do tipo. Querem que suas histórias sejam tao normais, tao reais, que possam ser agraciadas com observaçoes do tipo “poderia ter acontecido com você”. Onde estao as viagens no tempo? Onde estao as coincidências malucas demais para serem possíveis (se bem que aqui o terreno é espinhoso e requer mais cuidado, mas enfim...)? Onde estao as coisas sem...nexo?

Não precisamos dar nomes aos bois, mas muita coisa nova, ou surgida nos últimos tempos padece da síndrome do personagem jovem, universitário (publicidade ou qualquer outra área de humanas) descontente com a vida, entediado, mas que ainda sim consegue protagonizar algumas cenas de sexo dignas dos melhores filmes pornôs. Cá pra nós, você daria pra/comeria uma pessoa que passa 200 páginas reclamando da sua vida fictícia? Onde estao os hamsters que falam, as chuvas de vacas, os homens que se engolem (como a criatura que batiza este blog), os buracos que surgem sem motivo nas mais variadas partes do corpo?

Só pra ninguém ficar perdido, essas idéias aí do parágrafo anterior não são minhas, e sim de um cara que admiro muito. É um dos novos escritores que não tem medo de pisar nesse terreno pantanoso, e consegue até mesmo fazer isso com classe. O cara é o maligno editor da Livros do Mal, Daniel Pellizzari.

Cansei. Depois falo mais. Ou talvez não.

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